A A A
Maitê Proença fala sobre o romance
"Todo Vícios"

ZH Entretenimento – jan/15
 

"Minha personagem se parece comigo em algum momento de alguma história de amor", conta a atriz e escritora.
Por Alexandre Lucchese


A artista entrará para o elenco da novela "Alto Astral" em fevereiro
Foto: Simone Marinho / Divulgação

Logo depois de girar o país com a peça À Beira do Abismo e pouco antes de voltar à televisão, Maitê Proença fez uma pausa na carreira de atriz para levar adiante sua faceta de escritora. Enquanto o público aguarda a entrada da artista na novela Alto Astral no próximo mês, quando interpretará uma ex-miss à procura de um marido endinheirado, o novo livro de Maitê, Todo Vícios (Record, 232 páginas, R$ 30), já ganhou as livrarias.

Stella, a protagonista da narrativa, é uma independente e bem-sucedida atriz e escultora que, na casa dos 40 anos, já se julga indiferente ao amor. A indiferença, no entanto, revela-se frágil, e ela logo se envolve com um publicitário cinquentão. Ora afetuoso, ora frio e distante, o homem enigmático a atrai, apesar dos alertas de uma amiga de que ele parece "doido de rasgar dinheiro".

Maitê Proença: "O que vai durar é meu entusiasmo pelas coisas e pelas pessoas"

A narrativa alterna trechos em primeira e terceira pessoas, além de longos trechos com mensagens de celular. Com o recurso, Maitê consegue dar maior densidade para a história, mostrando que, apesar de estarem numa única relação, cada um enxerga as vivências de modo distinto. Além disso, o acesso às mensagens desperta o lado voyeur do leitor, mas a autora adverte: nenhuma das conversas do livro saiu de seu smartphone.

– Perdi meu celular no início do ano passado, com tudo o que ele continha. Foi uma tormenta – conta Maitê, em entrevista a ZH por e-mail (leia abaixo).

Este é a segunda narrativa longa da artista, que deu início à carreira literária em 2004 com o volume de crônicas Entre Ossos e a Escrita, seguido de Uma Vida Inventada (2008), romance que já vendeu 180 mil cópias. Ambos os títulos devem ser relançados neste ano pela Record, editora para a qual a autora migrou no ano passado. Pela nova casa, ainda devem sair uma reedição de seu terceiro livro, É Duro Ser Cabra na Etiópia (2013), feito a partir de colaborações dos leitores no blog Mil Coisas, e uma compilação com seus três textos para o teatro.

Leia a entrevista com a atriz e escritora:

Todo Vícios fala de uma atriz de sucesso. Há alguma semelhança entre Stella, sua personagem, e você?

Stella se parece comigo em algum momento de alguma história de amor. Lamentavelmente. Parece resolvida, mas não é. É tão neurótica quanto João, com quem se envolve, e aceita as migalhas que ele concede. E meu protagonista é um tipo que conheço. Poderia ter feito de João um caminhoneiro, e de Stella, professora ou dermatologista. Seria fácil. Mas esta história não é sobre o que eles fazem, e sim sobre o que sentem e o que fazem de seus sentimentos – sentimentos que apavoram tanto que as pessoas se dopam para sentir menos e evitam encontros de carne e osso.

O romance alterna o modo de narrar clássico e mensagens de celular. Diferentemente de uma conversa direta, o diálogo por mensagens de texto realça a escolha e o peso de cada palavra. Foi isso que a atraiu para usar essa linguagem?

Foi o avesso disso. A palavra é insuficiente para comunicar. Quanto mais vocabulário se tem, quanto mais articulada e hábil a pessoa, mais poderá usar a palavra para dissuadir o outro. Alguém protegido, com receio de manifestar o que lhe vai por dentro, vai usar essa habilidade para dissimular.

Você acredita que inovações tecnológicas mudam a maneira como nos relacionamos?

O entendimento já era difícil quando as pessoas se encaravam, viam a postura do corpo, o tom da voz, o estado emocional, as hesitações e inseguranças. Se assim a gente se estranhava, imagine agora com três palavras escritas às pressas e enviadas por WhatsApp entre um afazer e outro.

Desde o início, Stella percebe que João pode lhe trazer problemas, mas segue o encontrando. É um modo de abordar os riscos do amor?

Stella não é uma ingênua. É uma neurótica que se deixa enredar numa aventura fadada ao abismo. Ela sabe disso desde o início, mas insiste arrogantemente, investindo no impossível. Nessa história, eles se complementam. Não escolhemos as pessoas pelas características que admiramos, escolhemos quem preenche nossas necessidades profundas. Isso pode ser muito perigoso, porque nem sempre nossas necessidades são saudáveis.