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Revista Sábado

Portugal - Revista Sábado - 06/11/2008
 


Há uma frase muito comum entre as pessoas: 'Ah, essa vida dava um filme!" A sua já deu um livro. Para quando o filme?
- No Brasil há dois diretores interessados em adaptar Uma Vida Inventada. Tenho receios. No livro há duas vozes, uma mais direta, crua, cômica, escrita na primeira pessoa, outra mais lírica, mais dramática e mais literária mesmo, escrita na terceira. Elas se trançam uma na outra para criar um jogo de esconde e revela indispensável. Não sei como seria transpor isso pro cinema.

Você nasceu em S. Paulo, mas vive há muito tempo no Rio de Janeiro. Com qual das duas cidades se identifica mais? O que é que distingue uma da outra? É verdade que os paulistas reclamam que só eles trabalham e o pessoal do Rio vive em festa?
O Rio é lindo e fútil. Isso foi a corte, trás consigo todas as benesses e defeitos dessa condição. As pessoas são mais superficias, é mais difícil fazer amigos de verdade. Aqui é oi tdo bem, o q vc fez ontem? E isso se repete a noite inteira, num oba oba cheio de graça. Em SPaulo as pessoas se interessam pelo que está acontecendo dentro de vc, se está bem, se sente-se contente ou infeliz. Mas a cidade é feia, poluída, inóspita. Qdo esquenta o calor bate no asfalto, no concreto dos prédios, e não tem pra onde ir, aquilo vira uma fornalha cheia de gente engravatada e séria. Por outro lado, há restaurantes maravilhosos e quando a gente faz teatro, por exemplo, num palco paulista, o espetáculo é muito mais apreciado, é degustado. No Rio, as pessoas saem correndo e mal batem palmas, não têm paciencia.

Cresceu num ambiente confortável, culto. Seu pai era procurador de justiça do estado e sua mãe professora de filosofia. Como os recorda na sua infância?
O que acha que herdou de cada um?

Meu pai foi um homem justo, sério, cheio de certos e errados. Tinha muito humor, o humor cáustico dos que não acreditam em nada, mas não tinha flexibilidade, não se amoldava. Minha mãe era a graça em pessoa, sociável, gostava de tudo e de todos, e encantava o mundo por onde passasse. Mas não levava nada muito à sério, nem a família, ou a maternidade - não tinha tempo pra isso, o mundo pulsava lá fora e precisava de sua atenção. Sou uma mistura de ambos, bem misturada! Gosto da vida, da aventura, do calor, da alegria, e sou séria, disciplinada, cuido da casa, da filha, nada me passa desapercebido.

A sua primeira escola era pouco comum - um colégio americano, caro, para filhos de industriais e missionários. Sentiu-se confortável quando lá chegou? Em que é que se distinguia das outras crianças? Seus irmãos também andaram nessa escola? Lembra-se de algum episódio especial que lá tenha vivido?
Era a escola que pagava melhor seus professores em toda a América Latina, uma espécie de oasis educacional. Os professores, todos estrangeiros, chegavam dos quatro cantos do mundo cheios de suas próprias histórias incomuns. Qdo recentemente, estive num encontro de ex-alunos que aconteceu nos EU e juntou gente que agora morava no Paquistão, França, Africa do Sul, China, etc, achei que iria reencontrar um bando de americanos abobalhados e carecas, mulheres obesas e caretas, mas, para minha surpresa, 90% das pessoas estava bonita, esbelta, interessante, e jovem, como se o tempo, o entusiasmo dos tempos de outrora, não houvesse passado. Jogamos voleibol e outros esportes, com cada um nas suas ex-posições de quadra, e com o mesmo espírito amalucado dos adolescentes que ainda éramos! Algo portanto, naquela escola, girava mesmo a um toque mágico!

Você fala muito do lado feminino da sua família (mãe, avó, bisavó). Pode dizer-se que essa feminilidades marcou a sua educação?
Não sei ao certo, mas acho que sou muito feminina. Sabe-se lá o que quer dizer isso...mas sou.

Era mais de brincar com boneca ou um pouco Maria-rapaz? Como se vestia?
Me vestia de moleque, cortava o cabelo com meu pai, no barbeiro, as pessoas às vezes me confundiam com um menino, e pra brincar, lógico, era só com garotos, na rua. Chegava em casa toda lanhada, cheia de hematomas. Brincadeira de menina não tem graça. Até hoje, vejo os rapazes jogando bola nos campos, fazendo aquela catarse masculina, botando os bichos pra fora de uma forma saudável, enquanto as mulheres vão para o salão, pintar unha, tirar sobrancelha, e falar mal da vida alheia.

Aos 12 anos, você vive uma tragédia. Seu pai mata sua mãe por ciúme. Havia algum fundamento de verdade naquela obsessão dele? Você diz que a sua mãe era muito bela. Também era muito cortejada?
Tem memórias do momento em que soube de tudo e o seu pai foi detido? O que é que sentiu?
É verdade que a sua família a condenou por ter perdoado ao seu pai? O que é que sentia, na altura, em relação a ele? Vocês eram muito próximo, ou era mais cúmplice da sua mãe? Como conseguiu aceitá-lo depois de tudo?

Há coisas sobre a qual se pode fazer literatura, mas não são para serem faladas.

Aos 14 anos você faz uma grande viagem. Como foi? De que forma você sobrevivia, onde ficava?
Aos 14 anos estive na França por 4 meses. Já havia viajado só, aos 13, para casa de minha melhor amiga, nos EU. Na França fiquei com a irmã de meu padrinho, uma velhinha formalíssima, e depois com uma família num esquema organizado por meu pai, num castelo no campo. Não foi uma grande viagem em termos de tempo, mas instigou minhas fantasias. Estar distante de casa começava a ser um imenso prazer. Fixar o francês aprendido na escola, poder me comunicar com gente que tinha uma vida distinta da minha, estar num castelo de verdade com as refeições sendo servidas com todos os cursos - ficávamos 2 hrs em torno da mesa e eu achava aquilo tudo divino, como se fizesse parte de um filme encantado. E as meninas da casa, as filhas, tinham minha idade, então de madrugada assaltávamos a adega, bebíamos tudo o que não se podia quando havia adultos por perto, selávamos os cavalos, e partíamos a galope pelos campos eluarados. Levei altos tombos por tentar saltar obstáculos montada no cavalo ao contrário. Também comecei a fumar nesta época. Como não dominava a língua, achei que, calada, mas com um cigarro na boca, pareceria menos estúpida. Quanta estupidez!

Quando você volta de Paris, vai pedir guarida a um padre. Curioso, você vem de uma família ateia e esteve sempre em contacto com a religião. Como é hoje, você acredita em Deus? Ele faz-lhe falta?
Não acredito num deus humanizado. Acredito que há uma ordem sublime à qual estamos ligados, e que se eu me concentrar bastante, posso estar conscientemente ligada a Ela. Posso me relacionar com um mistério que não procuro dominar ou compreender - seria contraditório, arrogante, e inútil - mas onde me é permitida a entrada com o usufruto de suas magnificência. Faço isso com alguma frequência, e sempre volto dali com imensa sensação de conforto.

Sem saber bem o que fazer profissionalmente - embora tenha lido que você gostava de ser psicóloga -, aos 18 anos parte para uma grande viagem que a levará a três dezenas de países. Teve vários trabalhos para se sustentar e passou por situações bem curiosas. Pode contar algumas?
Conto muitas dessas experiências no livro que lanço agora em Portugal, não gostaria de parecer repetitiva.

Em França, chegou a estudar mímica com o mestre de Marcel Marceau. Também se inscreveu em vários cursos na Sorbonne. Como era a vida lá? Passou necessidade? Tinha muitos amigos? Ia a espectáculos?
Tinha os amigos dos cursos que fazia na Sorbonne enquanto resolvia se queria mesmo ser mímica profissional para o resto da vida. Eu queria, mas para isso, teria que passar horas dos dias tentando mexer um dedo da mão sem que os demais se movessem, e havia um mundo todo do lado de fora daquelas paredes disciplinares, me esperando para ser desvendado. Uma hora me enchi de tantas minúcias, coloquei uma mochila nas costas e me atirei no desconhecido.

Seu pai adoece e você volta ao Brasil. Aí, começa a fazer teatro com Antunes Filho, a estudar argumento e faz o seu primeiro papel para a TV, numa telenovela. Um pouco por acaso, certo?
Totalmente por acaso, nunca pensei em ser atriz. Eu morava na Europa, achava que iria voltar para estudar na França, mas, não acreditando muito na história que meu pai contara sobre sua doença, fui ficando no Brasil, para fiscalizá-lo, ver se era mesmo do jeito que ele havia pintado o quadro. Nisso, pra preencher o tempo de espera, virei o que sou até hoje.

Você conta que achava tão impossível a Globo a contratar que se deu ao luxo de pedir um salário milionário. E não se deu nada bem nos primeiros tempos por lá, pois não? Sentia-se estranha? A sua vida, o seu percurso, as viagens, tudo isso devia fazer de si uma pessoa muito diferente do comum. Como acha que os outros a viam?
Eu era um ET. Ninguém gostava de mim, eu não sabia os códigos, como devia agir, era estranha, gauche, estranhíssima. Mas isso tb está no livro e relatado com mais graça do que poderei fazer aqui.

Começa o sucesso e você tem um acidente grave que a prende quase um ano à cama. Ficou revoltada?
Não sou disso. Olho pra frente. Não foi agradável, claro, a cirurgia, cadeira de rodas, muletas, dor, tudo isso é uma chatice. Mas me preparou para um futuro de muitos outros percalços ortopédicos. Agora mesmo, há sete semanas caí de um cavalo, num tombo cinematográfico. Fraturei 3 vértebras na lombar e tive um destacamento de osso na cervical, ou seja, um pedaço de minha coluna agora mora no meio do pescoço, e ali ficará para sempre. Rompi tendões, ligamentos... Chato né? Fazer que? Ora, estou aqui, em Lisboa, lançando livro. Se dói? Ah dói! Mas a gente finge. E nisso quase se esquece da dor.

Como é que você se adaptou à vida do Rio. Você achava a maioria das pessoas fútil, sem interesse? Para alguém que já conhecia tanto mundo…
Eu amo o Rio. Do jeito que é. De minha janela, se forçar um pouco a vista, no fundo de um azul sem fim, vejo a África na pontinha do horizonte.

Em muitas das telenovelas em que participa, aparece com ar angelical, voz doce. Você era, e é, mais assim ou há um lado fera que só poucos conhecem?
Há muitas feras dentro de mim, procuro mantê-las trancadas a cadeado. Mesmo assim, elas dão sempre um jeito de mostrar seus dentes, pergunte pra quem mora comigo. A tv estigmatiza e não corre riscos, com meu tipo físico é natural que me dêem personagens de fadas tolas, por isso busco fazer o inverso no teatro e cinema. Contudo, nem sempre essas mídias chegam a Portugal.

Como era ser uma das mulheres mais belas e desejadas do Brasil? Isso trazia mais problema ou vantagem? Aquela coisa da mulher bonita de cabeça oca irritava-a ou ninguém tinha coragem de insinuar isso?
Nunca tive a cabeça oca o suficiente para ficar irritada com o que pensa uma imensidão de gente que não se pode controlar. Ficava era triste às vezes pela distância que havia entre o que acontecia dentro de mim e a estranha repercussão de minha persona pública. Sentia solidão.

Diz-se que os homens têm medo de mulheres fortes e independentes. Você, além disso, é lindíssima. A sua imagem marcou a sua vida amorosa? Para o bem, ou para o mal?
Como saber? Como seria se eu fosse diferente? Não há dúvida que, para casar, os homens preferem um modelo mais simples. Ou pelo menos que pareça mais simples, pq convenhamos, eles se casam com cada encrenca...

Você foi casada 12 anos com o pai da sua filha. Era uma pessoa que a completava ou uma espécie de alma gémea? Como se conheceram? Ele era ciumento?
Paulo e eu somos opostos, nada de almas gêmeas. Ele era ciumento mas se continha, não tinha ataques. Aliás, nunca brigamos, ele não deixava. Até hoje não brigamos, quando discordamos vale a minha vontade - ele resolveu assim, sábio homem :-)) Na verdade somos melhores amigos que não convivem com as chatices um do outro, então não há porque brigar. E em relação à Maria, ambos queremos o mesmo bem para ela, então fica fácil chegar a um acordo.

Você acredita no grande amor ou acha que há vários ao longo da vida?
Há amores distintos. Eu me apaixonei muitas vezes, me apaixono ainda, de ficar tomada como num transe. Mas talvez sejam apenas duas as grandes relações amorosas de minha vida.

Recentemente, uma pesquisa americana revelou que a nossa capacidade de nos apaixonarmos é limitada. Você ainda tem vezes para gastar?
A minha capacidade de apaixonamento, ao que parece, não se desgastou. De amar tampouco, sou boa nisso.

Dá mais valor à liberdade e individualidade ou prefere ceder e viver com um amor ao lado?
Quando tenho um amor, prefiro ceder. Quando não tenho, minhas individualidades viram o meu amor, e a liberdade, minha paixão.

A sua vida mudou com o nascimento da sua filha, Maria. É o grande amor da sua vida? Como tem sido a sua relação com ela, agora que é quase uma adulta? Você é muito protectora em relação a ela?
Achei delicioso e muito fácil criar filho. Sempre levei a Maria comigo para os quatro cantos do mundo, sem que lhe faltasse nada fundamental, e isso nunca me prejudicou a carreira, o dia a dia, o seguir da vida. No momento em que Maria nasceu, ela se impôs naturalmente como prioridade. E assim, sempre foi simples escolher entre minha filha e todo o resto. O resto esperava se fosse o caso, e isso acontecia sem dor para mim, com a certeza de que assim era o certo - e eu gosto muito de respeitar minha ética interna.
Maria passou por uma fase impossível quando tinha doze anos, em que me trava com agressividade, fazia malcriações. Qdo eu apontei isto pra ela e expliquei que preferiria levar menos patadas, ela me disse:
- Mas então mamãe, vc me avisa, porque eu nem percebo...
Durou o tempo q teve que durar, pouco. Hoje Maria é divertida, tem senso de humor, e é uma alegria conviver com ela em qualquer circunstância. Não preciso ser controladora, mas qdo julgo necessário, ela aceita.

Já falou várias vezes das suas experiências com drogas. Era o quê, uma forma de transgredir? Andava à procura de alguma coisa? Queria preencher alguma vazio?
Falo nisso porque perguntam muito, todos parecem gostar particularmente desse assunto. Sempre fui muito curiosa, e isso era o que gente jovem não acomodada fazia naquela época. Nada demais.

Você tomou drogas durante parte da vida ou só numa fase? E hoje, qual é a sua relação com isso? Ainda é capaz de fumar um pouco de erva numa ocasião especial, só para rir?
Não gosto de maconha, me deixa introspectiva e delirante, e eu não preciso de droga para entrar nesses estados, sei fazer sozinha. Abomino cocaína, expõe o pior das pessoas encastelando-as dentro de seus aspectos mais feios. Heroína não pode, vicia. Alucinógenos são pra quem não tem muito tempo sobrando, não é meu caso. Já o alcool é uma delícia! Relaxa, aumenta o interesse pelos outros, libera pra falar besteira, uma maravilha!

Tem medo que sua filha cometa alguns excessos nesse campo? Fala com ela sobre isso? O que é que ela estuda?
Maria é controlada, não fala o que não deve, é incapaz de uma grosseria, não bebe em excesso, não fuma, não usa drogas ilegais, não faz nada de mais. Tem o temperamento elegante.
Vai estudar direito na faculdade.

Hoje é uma pessoa que evita todo o tipo de excessos ou consegue fazer muita coisa mas com o tal peso e medida que estão contidos na sabedoria da maturidade?
Vou vivendo como posso. Não sei o que é a sabedoria, nem a maturidade, apenas ando de olhos abertos, tentando ser a melhor pessoa que consigo. Sou fadada ao temperamento que tenho, cometo excessos de todos os tipos, depois os conserto, ou tento, pedindo perdão, ajoelhando-me, me alimentando como um monge budista, nadando 2 mil metros por dia, cantando pra expulsar os maus espíritos que na brecha dos excessos, acharam que podiam pousar aqui... O conserto depende do "pecado" cometido.

Quais foram os papéis mais marcantes que fez na TV? E no Cinema?
Tenho um site que mostra tudo relacionado a minha carreira, e ainda tem entrevistas do passado, fotos de todos os tipos, comentários de viagens, e uma espécie de blog com assuntos atuais: www.maite.com.br

De que colegas guarda melhores memórias? Tem muitos amigos desse tempo?
Tenho amigos de escola, amigos da cidade onde passei a infância, e amigos do meio artístico que fiz ao longo da carreira. Mas as pessoas mais próximas não são pessoas públicas, são dos bastidores, ou têm outras atividades.

Quando é que começou a escrever? Escrevia em pequena, diários e essas coisas? A escrita é um território onde lança os seus fantasmas, isso é libertador?
Qdo se viaja para lugares remotos, sente-se a necessidade de traduzir o q está se vendo para quem ficou em casa. Desde cedo viajei muito e por aí tvz tenha começado minha relação com a escrita. Escrevi muito para meu pai. Ele enviava as cartas de volta cheias de correções!

Você lê muito, o quê?
Depende da época. Este ano sobrou tempo e paz, li bastante.
Li por exemplo o maravilhoso Rio das Flores do Miguel Sousa Tavares, li As Mulheres do meu pai, e O vendedor de passados do José Eduardo Agualusa (esplêndidos!), Nas tuas Mãos e Fazes-me falta da Inês Pedrosa, Eu hei de amar uma pedra de Lobo Antunes, li Ian McQewan, Alan Pauls, Alessandro Baricco, Amós Os, e muitos autores brasileiros, por exemplo: Um defeito de cor de Ana Maria Gonçalves, que recomendo.

Vai muito ao cinema? Há um ou dois realizadores brasileiros muito cotados na Europa. Quem são os seus preferidos, nacionais e internacionais? E actores?
Não sei dizer, vejo filmes como uma espectadora comum, me envolvo demais, não saberia falar do ponto de vista artístico. Mas vi todos os filmes de Woody Allen. E brasileiros, tem muita gente boa surgindo com filmes tecnicamente irrepreensíveis e com idéias e histórias contadas de forma criativa. Dos antigos, Cacá Diegues, sempre que acerta a mão é imbativel.

A que área você se dedica mais hoje? À escrita, à representação? E continua viajando muito?
Estou com uma nova peça de minha autoria pronta para ser encenada. Estamos buscando patrocínio para lançá-la ano que vem. Gravo uma novela no momento então a escrita está um pouco prejudicada. Andava até escrevendo um livro de encomenda para adolescentes, mas tive que parar por conta da queda do cavalo; ficar sentada ao computador dói muito. Tenho convite para voltar a escrever crônicas para um grande jornal, mas isso tb terá que esperar até o corpo dizer que sim.

Costuma votar? Em quem?
Votei no Lula para presidente, mas não sou a clássica eleitora do PT. Votei desta vez para mudar o rumo das coisas. Não mudou muito. E votei no Fernando Gabeira para prefeito de minha cidade, o Rio, porque acreditava que ele teria uma maneira criativa, limpa, incorruptível, de atuar na política. Ele fez uma campanha inovadora, não levou a prefeitura por pouco, mas saiu-se fortalecido e segue na vida pública pra podermos votar nele no futuro. Acho admirável esses bravos homens, idealistas, que ainda têm estômago para fazer política no Brasil.

Gosta de Portugal? Tem cá muitos amigos? Quando vem, fica onde?
Gosto muito de Portugal, já estive mais de dez vezes. Tenho alguns bons amigos. Fico em hotéis para não incomodá-los.

Você perdeu o seu irmão, o seu pai suicidou-se, depois de lhe pedir que o ajudasse a morrer. Como arrumou tanta tristeza no seu coração e na sua cabeça? Fez psicanálise, agarrou-se a quê? E como é a sua relação com a morte? Como é que alguém que passa por tanta coisa na vida, algumas bem tristes, tem um ar tão tranquilo, tão sereno?
É bastante simples. Quando a gente aceita as perdas tudo o que sobra é MUITO BOM!