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À beira do abismo me cresceram asas
Rioshow O Globo - Março/2013
Guilherme Scarpa


1) De onde veio a ideia de abordar o universo da terceira idade e tocar em temas como amizade?

Achei que duas velhas repassando a vida seria um terreno apropriado pra tratar ideias e conceitos que andam ocupando meu pensamento. Velhas contêm todas as idades. E é uma fase em que caem as máscaras, não se tem mais cerimônia pra tratar as coisas, velho tem autoridade pra dizer o q pensa, e por isso a meu ver é tão interessante. Valdina e Terezinha não têm mais ninguém, só uma à outra, e essa amizade justifica e traz graça à vida de ambas.

2) Qual foi a sua inspiração para encarnar uma senhorinha de 80 anos? Dentro desta composição, qual foi o seu maior desafio no processo?

O desafio é não compor, não fazer a caquética com um voz de velhinha e outras chatices. Minha velha tem que vir de dentro, cheia de dignidade, e tb, claro, com tudo o mais exigido pelo personagem, inclusive indignidades, q ficam muito mais divertidas sem a caricatura.

3) Como lida com a experiência de escrever, atuar e dirigir o espetáculo?

Escrever foi a partir de uma bela colagem de histórias que o Fernando Duarte me trouxe e que haviam sido colhidas em asilos pelo Brasil. Parti daí. Na atuação tenho comigo a grande amiga Clarisse Derziê com quem já dividi o palco em outra peça de minha autoria, Achadas e Perdidas. A direção divido com Clarisse Niskier, amiga queridíssima, com quem tb já trabalhei em teatro. Tudo isso sob supervisão de Amir Haddad, nosso mago, que dirigiu minha peça premiada As Meninas. Ou seja, estou cercada de afeto e compreensão. É possível que viremos todos inimigos até a estreia: teatro e intimidade é uma mistura de alta combustão. Mas depois fica tudo certo e tudo serão flores, com beijinhos e carinhos sem ter fim.

4) O que o público pode esperar da montagem?

A velhice não é para covardes, disse Edith Piaf, essa peça tb não. Cavamos fundo, "Asas" é pra quem gosta de ser mexido por dentro. Queremos tocar um arco-iris de emoções. Testamos o texto com leituras antes de começar os ensaios e, invariavelmente o público saiu vibrando. Com a equipe que juntamos pra esta encenação acho q deve dar um samba. Aliás as músicas são lindas! Todas saídas de um baú antigo e do tipo que dá vontade de cantar junto.

À beira do abismo me cresceram asas. Teatro Leblon ( Fernanda Montenegro), na R.Conde Bernadote, às 21h. Sáb idem. E domingo às 20h