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Maitê Proença: "Larguei todas as drogas que usei sem sofrimento" - Edição 740

Revista Quem – nov/14
 

Atriz, de 56 anos, lança livro, segue em turnê teatral, participa de programa de TV e está gravando a novela das 7, 'Alto Astral'. De forma franca e corajosa, ela concede esta entrevista na qual fala de drogas, plásticas, autoconhecimento e do que espera em uma relação a dois

Por Valmir Moratelli
Fotos Marcelo Correa /Ed. Globo

Há mulheres que falam com o olhar. Maitê Proença fala com os olhos, as mãos, a forma de mexer os cabelos e, claro, com as palavras. Estas, por sinal, não lhe faltam jamais. Ao tirar as sandálias e se colocar confortavelmente no sofá, com os pés para cima, ela não titubeia em dar seu ponto de vista sobre o mundo. E é sempre direta. "Sou supercomplexa, mas sou prática. Complexidade sem praticidade vira uma zona", diz.

Maitê sabe o quanto é intensa. Intensidade, aliás, é a palavra que a define. Segue em cartaz com a peça À Beira do Abismo me Cresceram Asas, no Rio; participa do programa Hora do Blush, na rádio Paradiso FM; apresenta o Extra Ordinários, do SporTV; está lançando o romance Todo Vícios e viverá a ex-miss Kitty na novela Alto Astral. "Quando vejo, estou com dez coisas para fazer", diz, incansável.

Solteira, mãe de Maria, de 23 anos, do relacionamento com o empresário Paulo Marinho, a atriz conversa com QUEM no Copacabana Palace, do qual é vizinha. Ela explica por que não frequenta mais o Santo Daime, fala de sua relação com as drogas e conta que nadou pelada recentemente na Amazônia, perseguida por mosquitos.

QUEM: Peça em cartaz, participação em programas de TV e rádio, prestes a entrar em novela, lançando livro... Você dorme?

MAITÊ PROENÇA: (Gargalhada) Eu não planejo fazer dez coisas ao mesmo tempo! Quando vejo, estou com dez coisas para resolver. As ideias vão me seduzindo. Eu preciso dormir oito horas diárias. Tenho inveja de quem dorme só cinco. Me disseram que, mais velha, eu precisaria de menos. Estou louca para que chegue o dia em que ficarei feliz por descansar apenas cinco horas numa noite.

QUEM: Você sabe dizer "não" com facilidade?

MP: Eu passei a falar "não" com mais frequência. Dia desses eu tinha confirmado presença num evento entre amigos, mas precisei me ausentar. Expliquei que minha filha tinha chegado em casa com febre. Eu gosto que ela chegue em casa assim, porque me lembra de antigamente. Me deu certa alegria saber que ela ia ficar molinha e eu ia poder cuidar dela. Não trocaria isso por nada! Os amigos entenderam minha ausência (risos). Por que eu teria que mentir?

QUEM: E como dá conta de tantas tarefas?

MP: Às vezes a gente se atropela. Mais alucinante do que não ter tempo de fazer tudo é fazer as coisas de forma rasa, não se aprofundar. O engajamento torna tudo mais interessante. A vida na marola, na superfície, é para covardes. Sou dos que mergulham. Desde cedo me acostumei com altas emoções. A vida me preparou para isso.

QUEM: Você tem uma história de vida marcada por uma tragédia (sua mãe, a professora Margot Proença, foi assassinada por seu pai, o promotor Eduardo Gallo, quando ela tinha 12 anos). Escrever é uma terapia, uma forma de mexer em incômodos mais íntimos?

MP: Não sei se a literatura é feita à base da dor. Não acho que eu seja uma pessoa triste, deprimida, nunca fui, nem nos piores momentos. Não guardo mágoas. Já nasci assim, é do meu temperamento. Não foi algo elaborado em sessão de análise. Sempre achei a vida, ao contrário do que se diz por aí, mais surpreendente do que a ficção. Por mais que eu tente inventar histórias, a vida é mais rica.

QUEM: Do que precisou abrir mão para superar aquele trauma?

MP: Durante muito tempo não lidei com minhas emoções, tranquei-as num outro lugar qualquer. Quando precisei delas, não sabia que existiam. Tive que voltar para esses sentimentos, até porque uma atriz sem isso não vai a lugar algum.

QUEM: Como é seu método de escrita?

MP: Não tenho um manual prático, é uma loucura. Peço para a empregada não me interromper e logo ela vem dizendo que o bombeiro hidráulico está lá para fazer um conserto. Eu falo: "Não quero ele aqui, não é urgente". E ela: "Mas ele disse que é urgente". "Está alagando a casa? Estou com água por aqui (coloca a mão no pescoço)? Então não é urgente!" Mas não tem jeito... Me interrompem 100 vezes ao dia!

QUEM: Em sua estreia em romances de ficção, você investe no tema "amor na maturidade", assunto também da peça À Beira do Abismo me Cresceram Asas. Por que investigar a maturidade é uma constante em seus trabalhos?

MP: Olha, esse negócio de 50 (anos) parecer 30, para quê? Viva direito os 50, é mais legal. Existem confortos que vêm com a idade. Não ter mais que seduzir o mundo é um deles. Vão ter que gostar do jeito que eu sou. As pessoas gostam mais das nossas vulnerabilidades do que das qualidades.

QUEM: É verdade que você viaja para fugir da fama?

MP: Ser uma pessoa conhecida me traz um grau de conforto perigoso. Por isso preciso ir a lugares no exterior (ela está de viagem marcada para o Sri Lanka), onde ninguém me conhece, para virar de novo a Maria da Silva. Quero também estar onde ninguém saiba da minha vida.

QUEM: O que gosta de fazer no anonimato?

MP: Adoro ir ao supermercado comprar maçã. Não quero que olhem para mim quando estiver ajeitando a calcinha ou colocando o dedo no nariz.

QUEM: Seu livro Todo Vícios é construído a partir da troca de mensagens de celular entre um casal. Como é a influência da tecnologia na sua vida?

MP: Fico longe de celular. Me ligam e eu esqueço de atender, ele fica sem som na bolsa. Descobri dia desses que tinha que ter Instagram, porque já existiam outros 30 perfis falsos. Criei @eumaiteproenca para combater os que se passam por mim. Se a gente já não se entende quando está junto, vendo a mímica corporal do outro, ouvindo a entonação das palavras, imagina com uma escrita rápida, sem revisão, digital, entremeada por figurinhas sem toda a nossa gama de sentimentos!

QUEM: A relação entre os personagens do livro parece fadada ao fracasso desde o começo, mas ainda assim a personagem não desiste. Há algo de você aí? Quando você desiste de uma relação?

MP: A gente nunca sabe que aquilo não vai dar certo até que, um belo dia, depois de se prestar a todos os papéis humilhantes, percebe que não tem mais jeito. Já adoeci algumas vezes por amor, fiquei fisicamente doente, com febre, com dor, de cama. É um pouco de arrogância, de insistência em tentar até a quase morte. Quando percebo que vou morrer, aí abandono aquilo. É assim o meu jeito.

QUEM: Está solteira?

MP: Sim. E não estou à procura, mas sou aberta a tudo. Não adianta procurar essas coisas, elas aparecem, te pegam pelo cotovelo e te mostram outro caminho. Relacionamento dá muito trabalho, ocupa energia. Só é legal quando as pessoas podem ficar juntas como se estivessem sozinhas.

QUEM: Li que você largou o Santo Daime há seis meses. Por quê?

MP: A última vez foi quando levei outra pessoa, que me pediu para acompanhá-la. O que recebi do Daime já havia se encerrado num ciclo. Eu insisti, mas vi lá dentro que não era mais para eu tomar. Foi uma ordem do Daime. Então não tomarei mais.

QUEM: De que forma as drogas ajudaram você na busca do autoconhecimento?

MP: Da mesma forma que outras experiências marcantes. Era uma época em que não dava para eu falar "isso não me interessa". Se diziam que aquilo ampliaria a consciência, entraria em áreas do cérebro nunca antes tocadas, era do meu interesse também. Fui experimentar diversas religiões, mesmo tendo formação ateia. Queria entender a dimensão espiritual da vida. Não só através da religião, mas com filosofia, música.

QUEM: Que avaliação faz desse período em que usou drogas?

MP: Se a droga for usada de maneira boa – não sei se a palavra é essa –, ela amplia sua visão, troca sinapses e desfaz condicionamentos. A droga bem usada resume dez anos de análise. Isso me aconteceu, não estou falando irresponsavelmente. Eu era uma e virei outra. Desfiz traumas de 30 anos em uma noite. Virei outra coisa. Aquela dor desmoronou, virou nada, com uma só compreensão. O que eu fiz em seguida foi elaborar o entendimento. Larguei todas as drogas que usei sem qualquer sofrimento.

QUEM: Quais foram elas?

MP: Prefiro não entrar em detalhes. Não quero fazer apologia. Sugiro que elas sejam usadas de forma terapêutica. É disso que falo. Todas essas coisas, se forem apenas para o prazer sensorial, causam confusão. Se você for um sujeito preparado para usá-las, se for bem conduzido, não há dor.

QUEM: Aos 56 anos, está satisfeita com o que o tempo lhe traz?

MP: Bem, evito plásticas porque não quero que olhem para mim e vejam meu peito na axila. Quero que o vejam mole mesmo. É mais elegante manter as características daquela fase da vida. Mas isso serve para mim, não que seja um padrão. Tem gente que pensa diferente. Entre a plástica e 20 anos dentro de um consultório, chorando na análise, resolva logo colocando a boca da Angelina Jolie no rosto (risos).

QUEM: Você parece prática...

MP: Sou supercomplexa, mas sou prática (risos). Complexidade sem praticidade vira uma zona! Acabei de voltar da tribo do Raoni (líder dos Kayapó), onde colaboro com uma ONG de ajuda indígena, no meio do Xingu. Você não sabe o que é estar pelada num rio, no centro da Floresta Amazônica, e ser tomada pelos mosquitos! Como eu não queria tomar banho pelada com os índios, fui para outro lado do rio. Em questão de segundos você precisa saber a hora certa de caminhar rumo à água e não ser atacada pelos insetos! Decido as coisas assim, rapidamente.

http://revistaquem.globo.com/Entrevista/noticia/2014/11/maite-proenca-larguei-todas-drogas-que-usei-sem-sofrimento.html