A A A
Revista Quem

2004
 

Quem - Você está à vontade fazendo um personagem cômico na TV?
Maitê Proença - Não é a primeira comédia da minha carreira. É uma tendência da televisão colocar sempre as mesmas pessoas fazendo as mesmas coisas. Por isso, buscamos fazer fora tipos com outras características. Foi uma condição para eu aceitar esse papel. Disse que se me deixassem fazer palhaçada, faria essa velhota. Me chamaram para fazer Matusalém, né? Mãe da Giovanna, que tem jeito de mulherão. Minha filha, na vida real, tem 13 anos. Tenho que cuidar da carreira. A televisão estigmatiza. Como me mantiveram por 20 anos fazendo mocinha, eles podem, agora, me colocar para fazer só velhinhas. Se deixar, vão me botando tão velha, tão velha, que daqui a pouco eu morri e não tem trabalho para defunto.

Quem - Você está completando 25 anos de carreira. Se sente realizada?
Maitê Proença - Pensava em fazer várias outras coisas, mas nunca ser artista. Depois que aconteceu pela primeira vez, fiquei fazendo experiências por uns quatro anos. Não foi uma opção. Nunca tinha nem visto televisão. Não sabia quem eram as pessoas. Quando entrei no corredor da Globo não sabia quem era o Francisco Cuoco. Poderia ter feito outras coisas.

Quem - Mas será que outra profissão teria dado tão certo?
Maitê Proença - Tenho certeza que sim. Acho que teria dado certo se fizesse alguma coisa ligada a viagens. Trabalhar na ONU, por exemplo. Viajar pela África, cuidar de países em desenvolvimento. Ir para Bangladesh, ficar lá cinco anos enfiada numa comunidade.

Quem - Viveria bem sem glamour?
Maitê Proença - Viveria encantada, provavelmente mais feliz. Meu lado introspectivo teria ficado muito mais sereno com as coisas acontecendo aos poucos do que aos borbotões como é na vida pública.

Quem - A fama te incomoda?
Maitê Proença - Toda vez que viajo escolho lugares onde sei que não vou encontrar ninguém para me reverenciar, onde ninguém sabe da Maitê Proença. Tenho muito prazer no anonimato. Quero exatamente descer do pedestal, ser normal para ter um parâmetro real das coisas. É complicado estar andando na rua e saber que tem 20 pessoas te olhando. Perde-se a espontaneidade. Eu lido com isso, mas incomoda.

Quem - Qual é, então, o lado bom da fama?
Maitê Proença - Tem aspectos muito confortáveis, como por exemplo, estar numa fila e as pessoas implorarem para te dar o primeiro lugar. Ser uma pessoa conhecida nesse nível que a televisão projeta torna a vida muito facilitada. É um passaporte diplomático. Mas, tenho educação e não vou ficar me aproveitando.

Quem - Sua beleza foi determinante no seu sucesso?
Maitê Proença - As pessoas têm as características que têm e pronto. É lógico que sempre me deram personagens que condizem com as minhas características. Acho que a minha carreira foi determinada pela minha beleza, sim, e por outros fatores também.

Quem - Por que não teve mais filhos?
Maitê Proença - Nunca quis fazer filho à toa, com qualquer um.

Quem - Ainda pensa em engravidar?
Maitê Proença - Nunca se sabe. Mas sabe o que penso sinceramente? Se fosse fazer um filho com um namorado, teria que imaginar nele um bom pai, como é o pai de minha filha. Adotar, também não seria o caso. Como vai ficar uma com pai e o outro, sem? Mas talvez o dia em que deixar de pensar, fique grávida. Se ficar, jamais tirarei.

Quem - Usa anticoncepcional?
Maitê Proença - As pessoas que se relacionarem comigo podem ficar sabendo desde já: não tomo pílula. Sou contra. Não uso hormônio. Sou contra hormônios de todas as espécies, inclusive pílulas. Nunca tomei e não pretendo começar agora. Tem outros métodos, né? Ninguém é bobinho a essa altura do campeonato.

Quem - Você namora ou não o Sérgio Marone?
Maitê Proença - Só andamos brincando de coisas que fazem bem à pele. Não namoramos.

Quem - Gosta de homens mais jovens?
Maitê Proença - Minha tendência foi sempre gostar de gente da minha idade ou mais velha, mas reconheço que uma pessoa bem mais jovem é menos problemática. As mais velhas são mais complicadas, têm manias... Os homens que me atraem, normalmente, têm chatices que uma pessoa mais jovem em geral não tem. Os jovens têm um entusiasmo maior, tudo é mais fácil em todos os aspectos, inclusive no sexual. Eles têm uma disponibilidade infinita. Um homem mais velho, se cair a cotação da bolsa de valores, o ding dong cai junto. Problemas no trabalho e lá se vai o dito cujo, ô bicho sensível esse negocinho deles. Nesse aspecto uma pessoa de 20 anos é mais atraente. Gostaria muito de me adestrar para gostar de garotos mais jovens. Namorar é para ser prazeroso.

Quem - Há um ano você tem uma coluna na revista Época. O que acha dessa atividade?
Maitê Proença - Escrevo o que tenho vontade de escrever. Agora com esse compromisso de escrever ando na rua mais ligada para perceber o que rende uma crônica. A coluna tornou minha vida mais interessante.

Quem - De tudo que saiu na imprensa sobre a separação da Luma de Oliveira, a sua crônica parece ter sido a única que a incomodou. Afinal, foi a única a que ela respondeu.

Maitê Proença - Acho natural que ela fantasie coisas por estar vivendo um momento de estresse. Mas ela não leu bem a minha crônica. Em momento algum falei que o marido dela era lindo. Disse sim que ela era exuberante, cheia de vida e de humor. Pelo raciocínio dela, eu estaria querendo namorar com ela. Será que eu quero namorar a Luma e nem me dei conta? Acho que ela tem que reler a crônica. Não dá para rebater.

Quem - O Eike te desperta algum interesse?
Maitê Proença - Eu nem conheço o Eike, nunca conversei com ele. Escrevi a crônica para dar minha opinião. Não tinha outra intenção. E se quisesse alguma coisa como ela sugeriu, não me utilizaria dos jornais, nem de revistas para fazer a conquista. Há outras maneiras mais discretas.

Quem - Você acha mesmo que tinha o direito de dar sua opinião sobre o caso?
Maitê Proença - Como eu mesma disse na crônica, ela abriu a torneira do tanque. Me senti confortável para dar opinião. Também achei que dava para dar uma elevada no padrão, no nível como o assunto estava sendo tratado. E acho que o fiz.

Quem - Você é escrava da vaidade?
Maitê Proença - Não sou muito vaidosa, tenho cuidados. Mas tenho menos do que a maior parte das minhas amigas.

Quem - Como foi a experiência de fazer Malhação?
Maitê Proença - Foi maravilhoso para a minha pessoa. Para a minha carreira não sei. Nos últimos 12 anos nunca trabalhei com tanto prazer. Acho que essa coisa dos jovens é muito bom. Ninguém tinha tédio. Só entusiasmo. A equipe técnica era bárbara, virou tudo amigo. A alegria pro trabalho Me contaminava. Fui muito feliz ali. Numa novela, quando chega lá pelo capítulo 80 tá todo mundo reclamando.

Quem - Mas você resistiu em aceitar o papel.
Maitê Proença - Resisti por preconceito. Pensava: será que alguém vê esse negócio? Achava que não tinha ninguém do meu "nível". Será que vai me diminuir? Resolvi todos esses problemas na primeira semana. Hoje em dia tenho um fã clube de 5 a 20 anos que é uma delícia. São pessoas que vão gostar de mim até os 80. Faz muito bem pro meu lado carente.