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Uma conversa franca com Maitê Proença sobre nudez, Rede Globo, drogas e muito mais.

Playboy – Set/15
 

"Nunca tive a ambição de ser atriz. Fiquei assustada com meu primeiro salário, porque foi quando parei de ganhar mesada", diz a atriz.
por Jardel Sebba

Foto Juan Dias

Poucas mulheres simbolizam tão bem o que nos faz amar incondicionalmente o feminino como Maitê Proença. Ela é linda – tanto hoje, aos 57 anos, quanto no passado, quando estrelou duas capas históricas de PLAYBOY, em 1987 e 1996 –, e certamente continuará assim por muitos anos. É inteligente, e suas crônicas refletem sobre o eu e sobre o mundo, sempre com astúcia, esperteza e um olhar que surpreende. Ela é difícil, coloca na mesa o que quer, não faz questão de tirar o pé nas divididas, é clara quando o assunto não é da conta do entrevistador. Maitê é simplesmente encantadora. Nascida em São Paulo em uma família de classe média alta que morava em Ubatuba, no litoral do estado, Maitê Proença Gallo passou boa parte da infância e da adolescência em Campinas. Aos 12 anos, perdeu a mãe, assassinada pelo pai, que mais tarde, em 1989, se suicidou. Apesar da tragédia familiar, cresceu num lar feliz, do qual guarda boas lembranças. Independente, morou num pensionato luterano, depois com um padre e passou um tempo mochilando na Europa.

Voltou em 1979 para ver o pai, sem a pretensão de ficar de vez nem de ser atriz. Estreou na TV Tupi no mesmo ano, na novela Dinheiro Vivo. Desde então, estrelou novelas, fez cinema e teatro, e recentemente apostou na carreira de escritora, sempre com sucesso. Desde o ano passado integra a equipe do Extra Ordinários, no SporTV, onde encara novos temas (futebol) e colegas (todos homens) com a desenvoltura de sempre. Mãe de Maria, de 22 anos, do relacionamento de 12 anos com o empresário Paulo Marinho, Maitê teve poucos romances públicos – o mais famoso com o ex-assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Futebol, Rodrigo Paiva.

Em fevereiro de 2005, Maitê foi entrevistada por PLAYBOY depois de lançar seu primeiro livro, Entre Ossos e a Escrita, que reunia crônicas feitas para uma revista. Curiosamente, depois de assinar peças de teatro e ficções, há dois meses Maitê revisitou sua estreia literária com Entre Ossos Agora (Record), em que juntou 22 crônicas inéditas a 36 textos revistos da obra original. Em junho, na semana que antecedeu o lançamento do livro e uma viagem para Nova York, Maitê recebeu o editor Jardel Sebba na sala de seu amplo apartamento no décimo andar do famoso Edifício Chopin, de frente para a praia de Copacabana. Ao longo de duas tardes e quase cinco horas desenrolou-se uma conversa nem sempre amigável, quase sempre desafiadora. Apesar de garantir nunca ter revisitado seus ensaios (e de não ter autorizado a republicação de suas fotos nesta edição), não se incomodou de relembrar detalhes dos momentos em que esteve nua diante de nossos fotógrafos. Dois ensaios históricos, duas entrevistas instigantes, beleza e inteligência à prova do tempo: nenhuma outra mulher poderia representar tão bem tudo o que amamos e admiramos nas mulheres ao longo desses primeiros 40 anos de PLAYBOY como Maitê Proença.

Olhando para trás na vida, você vê mais acertos do que erros?
Não sei, não faz parte da minha personalidade fazer esse tipo de balanço. Provavelmente, se o caminho estivesse mais afinado com a pessoa que eu era na largada, eu teria tido uma carreira mais alternativa.

Você gostaria de ter tido?
Eu teria tido, porque essa era a pessoa que eu era. Mas, provavelmente por causa do tipo físico, fui caindo em outro caminho, e a cada passo que dava chamava mais atenção do que eu me dava conta. Nunca me dei muita conta.

Você não tinha uma ambição no começo?
Nenhuma. Nunca tive a ambição de ser atriz. Eu fiquei muito assustada no dia em que recebi meu primeiro salário, porque foi quando parei de ganhar mesada. Eu não estava esperando. Isso encerrava toda uma etapa de vida, e não foi conversado, aconteceu. Você se imaginava ganhando mesada por toda a vida adulta? Eu nãotinha ambição material, zero. Não era uma pessoa que queria ter coisas, nunca quis. E também não era uma época em que as pessoas queriam ter coisas. Fim dos anos 1970, início dos anos 1980, a gente estava num mundo separado, comunista e capitalista, e no mundo artístico não era bacana você ter um Porsche.

Seu primeiro salário foi na TV Tupi. Como o Mario Prata conseguiu te levar para lá?
O Mario Prata me enganou, na verdade. Ele me disse que íamos fazer televisão underground. Eu era uma menina metida, assim, chata, que achava que fazer televisão não era o que eu pretendia para a minha vida. Morava fora, na França principalmente, meu pai estava doente e eu voltei para vê-lo. Ele não tinha me contado, nos dois anos em que fiquei fora, que estava com câncer. Fez todo o tratamento sem eu saber. Voltei porque um homem me parou na Índia, pegou na minha mão e disse: "Volte imediatamente para o seu país porque seu pai está muito doente". E juntou que o meu namorado pegou hepatite. Para entrar na Europa naquele momento você tinha que ter 200 dólares, pelo menos, e a gente não tinha mais nada. A gente tinha 1 dólar por dia para ambos.

O que vocês faziam com tão pouco dinheiro?
Quando você viaja assim, recorre à solidariedade das pessoas. Elas achavam a gente agradável, falávamos muitas línguas, éramos bonitos. E gostávamos de gente.

Seu namorado era de onde?
Ele era brasileiro e continua sendo um dos meus melhores amigos. Hoje em dia o Ricardo tem um negócio tipo Médicos Sem Fronteiras. Ele me pediu para ir ao Haiti logo depois do terremoto [2010] para ajudá-lo, para mostrar o que ele estava vendo lá, porque não dava para contar. E eu fui.

Foi muito desesperadora essa experiência no Haiti?
Muito. Já fui a vários países africanos pós-guerra, mas era diferente. Por mais que a gente conheça a miséria, era diferente. O esgoto correndo aqui, a mulher pegando terra, misturando com a água saindo dali e botando sal para comer. Os meninos colocavam um pedaço de uma pilha de rádio no pau e saíam para currar meninas, era o programa de sexta-feira à noite. Porto Príncipe acho que foi o lugar mais tormentoso que eu vi na vida.

Você ficou quanto tempo lá?
Não aguentei muito, uns dois, três dias lá, e fui para um outro lugar perto dali, onde ele estava operando. Ele pegava as pessoas em Porto Príncipe e operava lá. A única coisa que ficou em pé é que a vaidade das pessoas se mantinha. Eu via mulheres que não tinham nada, crianças com a perna amputada, e elas botavam pedacinhos de continhas no cabelo, faziam tranças. Você olhava nas tendas e via sempre uma mulher mexendo no cabelo da outra.

A gente entrou nessa viagem por causa da hepatite do namorado na Índia, lá atrás…
Sim, aí o Ricardo pegou hepatite. Era o pior lugar para pegar hepatite, e a gente sem dinheiro. Voltei para a Europa e de lá voltei para o Brasil. Na verdade, quando comecei a minha carreira, eu estava embromando, ia voltar para a Europa para fazer a minha vida lá. Porque eu estava muito satisfeita com a minha vida, ela estava ótima daquele jeito.

Mesmo com 1 dólar por dia?
Mesmo com 1 dólar por dia. Ia voltar para a França e trabalhar. Eu falava francês fluentemente, tinha um monte de coisas que podia fazer. A gente estava mais interessado em conhecer o mundo do que em ficar sentados lendo livros. Eu até fui para a Europa achando que ia estudar com Etiénne Decroux, que era o professor do Marcel Marceau, queria fazer mímica. Aí tinha que ficar três dias mexendo um único dedo, e eu tinha um mundo para ver, não dava.

E onde o Mario Prata te encontrou?
No MIS [Museu da Imagem e do Som de São Paulo], porque eu ia a umas palestras que tinha lá. Lygia Fagundes Telles, [Arnaldo] Jabor, Cacá Diegues, sempre tinha alguém incrível falando. Ficava quieta ouvindo, mas eu tinha aquele cabelo, parecia uma californiana, aquele olho azul, e não falava nada, ficava todo mundo olhando. De vez em quando falava alguma coisa. E eu não era uma idiota, tinha alguma coisa na cabeça. Então não combinava, porque eu era bonita e falava lé com cré, e tal. Aí o Mario me chamou para fazer televisão.

Tinha um flerte nesse convite?
Não, ele queria mesmo. Ele escreveu uma personagem para mim, a novela chamava Dinheiro Vivo, e eu tive de ficar até o fim. Estava fazendo teatro com o Antunes Filho, que também me encontrou por lá. Depois a Rede Globo me chamou. Demorei para aceitar, mas fui.

Por que demorou para aceitar?
Porque realmente não tinha desejo algum de ser atriz. Achei que ia viajar, que não ia ter compromisso. Nem sabia se queria morar no Rio. Eu achava as pessoas muito histriônicas no Rio de Janeiro.

Depois você mudou de opinião?
Não, continuei achando, não sabia como agir direito. Porque eu era meio anglo-saxônica, tinha sido criada por aquela gente seca. Quando entrei na TV Globo eu era assim, muito estranha. Não sabia como agir, e acho que ninguém gostou muito de mim, eu era um bicho muito esquisito. E eu realmente não entendia por que não gostavam de mim. [Risos.] Eu falava as coisas sem dar voltas e era bonita, estava ganhando muito. Esses elementos juntos não funcionavam bem. Só topei ir para lá para fazer um personagem importante, mas não tinha a menor ideia de como fazer isso, não tinha experiência, nunca tinha visto televisão. Quando cheguei na televisão, eu era uma alienígena.

E você já fez referências dizendo que era uma atriz ruim. Era mesmo?
Eu era, por não ter nenhum convívio com aquilo. Mas, sobretudo, porque me tranquei emocionalmente. Descobri recentemente que sou uma pessoa que lida muito mal com a hostilidade. Tem gente que briga, responde, já eu me tranco emocionalmente.

Foi tão hostil assim?
Para mim foi hostil. Hoje tenho essa compreensão, que não tinha naquele momento. Pelas minhas experiências, fui me tornando uma pessoa muito de verdade, e a Globo não é um lugar para você ser de verdade. É um lugar onde você tem que tratar todo mundo muito bem, todo mundo é vaidoso, as pessoas esperam que você as reconheça, e eu não sabia quem deveria ser reconhecido porque nunca tinha visto televisão. Não sabia que tinha de lidar com figurinista de forma superlativa, falar que a roupa era extraordinária, fantástica, maravilhosa. Eu não usava esses adjetivos.

A Rede Globo mudou desde então?
Aí eu compreendi quais eram as concessões que precisava fazer, fui entendendo, mas também já era meio tarde. Foi difícil. Como não sabia o que estava fazendo, os diretores eram muito intolerantes comigo. Não dá tempo de ensinar às pessoas o que elas já deveriam saber. E eles falavam muito palavrão, eu não estava habituada a ouvir palavrão. O [Marco] Nanini disse que eu virava as costas e ia embora. Não me lembro de ir embora, mas aquilo devia deixar os diretores mais desesperados ainda. Foi ficando mais difícil. E ao ficar mais difícil, em vez de ficar mais humilde, eu fiquei defensiva.

É um espanto que a sua carreira tenha sobrevivido a isso tudo, então?
É um espanto. Mas ao mesmo tempo eu chamava atenção, era um sucesso. Mesmo fazendo mal, era um imenso  sucesso.

Tinha uma cota de assédio masculino nesse pacote?
Claro que tinha, como sempre tem. Qualquer mulher bonita que entra em qualquer lugar vai despertar um interesse especial. Mas nada que não fosse contornável. Eu nunca fui burra. Podia ser ingênua nessa linguagem específica superlativa carioca dentro da TV Globo, que era um lugar muito estranho para mim, apesar de ter viajado para o Irã e tudo. Aquela linguagem, para mim, era bem mais estranha do que o Irã pré-aiatolás. [Risos.]

Quando você percebeu que virou atriz?
Em Dona Beija [novela exibida pela TV Manchete em 1986], porque ali o ambiente não era hostil. Todo mundo vinha de outros lugares, do teatro, da publicidade, do cinema. Era outro clima. Aí eu comecei a fluir. Consegui sentir. Um ator que não sente não será um ator.

Isso ajudou também nas cenas de nudez?
As cenas de nudez aconteceram porque o Herval Rossano era o diretor, e na primeira novela que fiz com ele, na Globo, ele me chamava de coisas horríveis, gritava, berrava. Quando ele me chamou para fazer Dona Beija, na Manchete, eu era uma estrela na TV Globo, estava estrelando uma novela atrás da outra, fazia muito sucesso e tinha um convite do [Walter] Avancini para fazer Selva de Pedra. Quando o Herval me chamou, parecia uma coisa maquiavélica. A gente sentou para conversar e ele falou: "Prometo que jamais gritarei com você". Eu falei: "Você não precisa gostar de mim. Se me tratar com cordialidade, eu aceito". Viramos melhores amigos, e foi um supersucesso, dava 40 pontos de Ibope numa época em que não havia controle remoto.

E a nudez?
No primeiro dia de nudez, tive que subir uma estrada que ia para Angra. Quando chegamos lá, olhei para baixo e tinha uma mulher pelada numa cachoeira. "Quem é aquela?" E o Herval respondeu: "Aquela é você, é a sua dublê". Olhei para ela, era uma mulher gordinha, com uns peitos meio caídos. "Essa mulher vai aparecer pelada e vai ser eu?" "Vamos fazer de um jeito que pareça ser você." "Não! Tira essa gordinha daí que, se você prometer que eu vou para a edição e que a gente faz tudo junto  eu topo fazer." Nunca tive problema com nudez. Na Europa, ficava em hotel que tinha homem e mulher, entrava no banheiro e tinha um sujeito com o pinto balançando escovando os dentes.

A gordinha dublê foi uma estratégia?
Acho que foi, e deu muito certo. Ali combinei com o Herval como ia ser e achei bonito. Eram poucas cenas de nudez, mas como foram as primeiras da televisão brasileira, ficou marcado.

Daquele momento em diante, as pessoas passaram a te ver com um viés mais sexy?
Quando cheguei ao Rio, passei a ser uma atração. E eu era a única, não tinha gente saindo de Malhação. Aonde ia, era muito visada. Então não percebi muita diferença depois.

Mas você não virou ali um símbolo sexual?
Eu não me preocupava com isso, não buscava isso. Estava tendo prazer em fazer aquele negócio e achava hipócrita  não fazer. Se dava para fazer do jeito certo, por que não? Eu gostava de mostrar que daquele jeito era certo fazer, não ofendia. O problema não é a nudez, é como ela é manipulada.

De certa forma, imagino que você estava bem com o próprio corpo, correto?
Eu não pensava nisso. A gente nunca fica confortável com o próprio corpo. Não existe tal coisa.

Não tinha uma autoestima em relação ao próprio corpo?
Não, autoestima é um negócio que nunca tive. E essa coisa de a gente estar satisfeita com o próprio corpo é uma  balela. Você não encontra uma menina de 19 anos que ache o próprio corpo bonito, por mais perfeito que seja. O nosso corpo é sempre uma coisa que está transcendendo para um lugar que você não gosta, que é o fim. Ninguém gosta do próprio corpo.

Logo depois de Dona Beija você fez seu primeiro ensaio para PLAYBOY, em fevereiro de 1987. Não estava se sentindo gostosa?
Não estava. Nunca me senti atraente.

Nem hoje?
Às vezes eu olho e penso: "Hoje está bom". É um negócio horroroso, mas você nunca está satisfeito. E nunca dei valor para a coisa estética, porque não fui criada assim. Nunca, na minha adolescência, alguém me disse que eu era bonita. E não era uma coisa que eu buscava, que me preocupasse. Mas se eu gosto [de ser bonita]? Claro que gosto.

Deve abrir portas, não?
Claro que abre portas. No Rio de Janeiro mais do que em qualquer outro lugar do mundo. Não estou falando mal da beleza, mas respondendo honestamente que ela, para mim, não foi uma consideração. Até os 22 anos de idade isso  nunca tinha sido um assunto para mim. A beleza às vezes era conveniente porque era mais fácil de pegar carona, entendeu? [Risos.] Talvez, se eu fosse bem feinha, eles não me dessem aquelas caronas tão fácil.

Aos 57 anos, essa relação com o próprio corpo é mais tranquila ou mais agonizante?
Ela não é mais agonizante, porque sou, em tudo, uma mulher mais inteira hoje. Tudo é mais inteiro. E sou superagradecida por estar assim. Outra parte é uma coisa que não tem idade, meio moleca, que levo comigo e que talvez faça com que as pessoas se confundam com relação à minha idade. Não pareço uma matrona. Tenho um jeito despojado, não chamo a atenção para esses signos de beleza, como peito grande.

Para a libido mais imediata, você diz?
Não, para esses símbolos de hoje. Hoje as mulheres botam silicone no bumbum, na panturrilha, no peito, na boca, não menstruam, tomam hormônio de crescimento, testosterona, ficam com a voz mais grossa. A libido fica mais forte, elas se atiram em cima dos homens, porque tomam hormônio de homem, saem catando homem igual homem, o que não é uma característica muito feminina. Acho que os homens gostam dessas mulheres, mas só por uma noite. Acho que eles não continuam gostando porque elas não devem ter cheiro de mulher. Não sei, porque não experimentei [risos], mas os feromônios, aqueles negócios que atraem os homens, isso que a gente não percebe mas que é da química invisível, não está presente naquela relação.

Você resolveu na sua cabeça a questão do sex symbol?
Não era algo que eu ambicionasse, não é que não estava bem resolvido. Não tenho problema nenhum com isso, e não era ruim. Não acho ruim que as pessoas fiquem erotizadas com determinadas fotos e não me incomoda o uso que elas queiram fazer daquilo. Fiquem à vontade, está liberado. Não sou como essas feministas furiosas que acham pejorativo esse tipo de exposição à qual eu também me submeti. Não acho mesmo, se achasse não teria feito. Nunca precisei fazer. Fiz porque pude fazer do meu jeito. Achava muito mais revolucionário, e uma sacação muito mais legal, fazer na PLAYBOY do que fazer na revista Photo. Fazer PLAYBOY sem elemento de fetiche, isso sim era transgressor. Fazer na Photo é o óbvio. As feministas não têm problema em fazer na Photo, mas têm em fazer na PLAYBOY. Por que o cara vai tocar uma punheta? E qual o problema de tocar uma punheta? Existe algum mal? Eu sou padre? É um prazer? Por que não pode ter o prazer? Ele não está usando a minha pessoa, a minha personalidade, ele está olhando uma foto. Quando fiz PLAYBOY, tinha algo de mexer com a hipocrisia. Esse era o meu grande barato, mesmo que a maior parte das pessoas não entendesse isso.

Por que você fez na primeira vez?
Porque consegui que a PLAYBOY me pagasse o que considerava uma fortuna naquela época, e porque fizeram  exatamente do jeito que eu queria. Queria uma revista em que não figurasse outra pessoa que não fosse eu. E fizeram uma revista só comigo, onde poderia falar dos filmes que estava fazendo, das peças, os amigos deram depoimentos a meu respeito. Era uma revista inteira só comigo. Nunca tinha acontecido isso até então.

Por que você quis isso?
Porque não queria nada que considerasse feio naquela edição. E eles toparam.

Você deliberadamente viu o que se fazia e quis fazer exatamente o contrário?
Sim, era exatamente isso o que eu queria. Se não fosse assim, não faria por dinheiro nenhum.

Você tem alguma memória dessa sessão de fotos?
Um dia antes do ensaio começar a ser feito, achei que estava gorda. Aí fiquei três ou quatro dias sem comer nada, e desmaiei no quarto dia. Tive de ser acudida no quarto de hotel. Fiquei só tomando água, ou um suco de vez em  quando. Lógico que não mudou muita coisa, porque só me dei conta no dia, e aí parei de comer.

Foi parar no hospital?
Chamei um amigo. Lembro que caí, desmaiei, consegui me arrastar até o telefone. Ele me deu um banho, me deu comida, ficou bem puto comigo, mas não tive de parar no hospital. Tinha acabado, era o último dia. Acho que saí para beber, e não era uma coisa muito razoável a se fazer. Acabou a sessão de fotos, fui comemorar. Quando cheguei no hotel, desmaiei.

E por que você fez de novo, nove anos depois?
Porque voltaram a insistir, insistir, insistir, e como eu nunca tive preconceito em relação ao negócio, falei: "Ah, vou fazer de novo". Eu tinha visto uma foto de uma mulher no meio de um mercado público, acho que no Sri Lanka, e ela estava trocando o sari no meio da multidão. Ninguém viu que ela estava com o peito de fora, só o fotógrafo, e nem ela viu que o fotógrafo viu. Falei: "É isso que eu quero fazer". O Sri Lanka estava em guerra, aí tivemos a ideia da Sicília, porque também é uma gente mais negra, mais moura, e eu branca. E aí pensei: "Estarei nua num país católico, todo mundo vestido de preto e eu vestida de nada". Achei que esses contrastes seriam interessantes. O Bob [Wolfenson] armava o circo dele e falava: "Maitê, tira a roupa!" E quando eu tirava a roupa, neguinho ficava meio chocado. A gente foi botado para fora de algumas vilazinhas. O prefeito mandava a gente embora, ou a mulher do prefeito.

Você sentiu medo de verdade em algum momento?
De ser agredida fisicamente. Mas a gente saía correndo. Andamos a Sicília inteira por causa disso.

Você tem uma lembrança da reação das pessoas com o resultado?
A Marisa Orth falou: "Depois que eu vi você ali, me senti autorizada a fazer". Várias pessoas fizeram depois daquilo, porque sentiram que era uma proposta que não estava relacionada ao que elas não gostavam na revista. Muitas  pessoas que fizeram a capa da PLAYBOY depois, vocês devem a mim.

Sua iniciação na vida sexual foi tranquila?
Não, porque isso não era um assunto bem resolvido. Porque a minha mãe tinha morrido e a motivação esteve envolvida na sexualidade. Tinha sexo por todos os poros daquele drama, então toda a motivação, tudo o que gerou a violência, nasceu de algo muito sexualizado. Logo, não era um assunto tranquilo para mim.

Mas você lembra da sua primeira experiência sexual?
Mas não vou te contar, isso não é da sua conta, absolutamente. Mas te digo que não foi simples, eu não era a menina de Ipanema que ia transar e tal. Apesar de que não havia impedimento intelectual nem religioso. Meus pais não eram religiosos. Não tinha ali uma noção de pecado envolvida.

O que te atrai num homem hoje?
Tem alguma coisa a ver com o tipo físico, mas não sei te dizer o que é. Acho que a pessoa tem que ser curiosa, ter interesse genuíno pelo outro, pelo mundo, ter um olhar agudo para conseguir enxergar além das aparências. Eu preciso de uma pessoa para quem eu não tenha que ficar traduzindo a vida. E gosto de gente que tem um certo entusiasmo, sem afetação. Uma coisa que acho talvez das mais sexies nas pessoas é o entusiasmo. A disponibilidade para investigar, para experimentar. Tem gente que diz: "Ah, não vou lá, eu já fui". Como assim já foi? Você não foi comigo, não foi desse jeito, você viu uma montanha e então está vista? Não é assim.

Falando em homens, qual a melhor coisa da experiência no Extra Ordinários?
Acho muito divertido estar ali e entender que aquelas pessoas, com aquele grau de inteligência, são realmente obcecadas por futebol. Eu achava que não eram possíveis essas duas coisas juntas.

Mas você teve um namorado que não só era obcecado como trabalhava com o futebol, o Rodrigo Paiva.
É, tem muitas pessoas que considero muito inteligentes e que são obcecadas por futebol. Mas nunca tinha convivido tão de perto, achava que era um negócio que os homens gostavam de falar entre eles, mas que, no fundo, não eram tão interessados assim. E eles são aficionados! Acho que é um lugar de higiene mental, para começo de conversa, é como fazer uma meditação, um lugar que tira todas as suas questões tensas e desagradáveis. Quando você volta, está muito mais aliviado. Mulher não tem isso, ela fica neuroticamente envolvida num assunto, enredada numa história até cometer um desvario. As mulheres têm tendência a fazer coisas horríveis escondidas atrás da cortina. Os homens fazem coisas horríveis e em geral elas aparecem.

Como assim?
O homem inventou o duelo. "Eu não gosto de você, então vamos lá fora, você mostra a sua arma, eu mostro a minha arma e um de nós dois vai morrer." Uma mulher jamais faria isso. Ela acabaria com a outra, demoliria a reputação da outra pouquinho a pouquinho, dia a dia, até que a outra não tivesse mais qualquer espaço na sociedade. A gente atua no mundo de formas completamente distintas.

Mas o namoro com o Rodrigo não tinha te preparado para a paixão futebolística?
Com o Rodrigo eu já tinha entendido a pelada, até escrevi uma crônica a respeito, mas o futebol mesmo, o negócio do qual você não está participando ativamente, que não  tem adrenalina, que não tem alteração química… Mas tem, porque eles ficam tão mobilizados que é como se eles estivessem lá dentro. Acho que tem uma metáfora da vida, eles ensaiam para a vida ali. Você se frustra, o resultado não é justo, um time joga melhor o tempo todo e o outro ganha, tem o juiz ladrão. A vida não é justa, como no futebol, e você aprende isso no futebol.

Você tomou algum gosto pelo assunto?
Para ver o Brasileirão, não. Não cheguei a esse ponto, eu ainda mantenho meus neurônios… Acho também que tem um departamento no cérebro dos homens que a gente não tem, porque eles guardam informações impossíveis de guardar. Eu duvido um pouco de mulher que gosta muito de futebol, para falar a verdade. Não sei, é um  preconceito, não está racional na minha cabeça. Mas quando vejo uma mulher que entende muito de futebol, acho estranho.

Alguma coisa te fascinou nesse universo do futebol em particular?
Quando aceitei fazer o programa, foi com a condição de que nunca tivesse que ver um jogo. Alguém lá deve ter tomado barbitúricos fortíssimos e aceitou. [Risos.] Um programa que não tem começo nem fim, com um monte de gente inteligente falando sobre futebol, só homens, sou a única mulher, e para falar de um assunto que eu nem preciso entender? É muito divertido. Eles vão me sacanear, se conseguirem, mas posso falar do jeito que quiser sobre o assunto, não preciso olhar para a bola, posso olhar para outros aspectos. Aí comecei a ver os jogos na Copa e fiquei um pouco impregnada daquela energia deles.

Já consegue ver um jogo do começo ao fim?
Só se for obrigada. [Risos.]

E como surgiu a promessa de ficar nua caso o Botafogo volte à primeira divisão?
Tinha uma gostosa colombiana que prometeu que ficaria nua se o time dela ganhasse. O time ganhou e eles mostraram no programa a cena dela tirando a roupa. Era meia-noite, um programa que foi o ar depois de um jogo desses que ninguém assistiu, e aí eu falei, achando que não tinha ninguém assistindo: "Se o Botafogo subir para a Série A este ano, eu fico pelada". E virou o que virou.

Você já pensou em como vai cumprir a promessa?
Claro que eu já pensei. Pensei muito.

E vai ser tranquilo?
Veremos…

Neste momento, chefões da Fifa estão sendo presos por acusações de corrupção. Quando você namorou, por dois anos, o assessor de imprensa da CBF, tinha curiosidade de saber dele sobre essas questões políticas dentro do futebol?
Tinha muita. Era tudo muito nebuloso. Eu não entendo sobre tudo, mas a gente percebe algumas coisas. E claro que tinha curiosidade. Sou curiosa a respeito de tudo, quero saber sobre uma semente que jogaram no chão. Eu fazia perguntas e tal. Algumas me eram respondidas, e muitas não. A maior parte não. [Risos.]

Em uma de suas crônicas, você relata um diálogo com a sua filha Maria que faz referência à maconha na sua geração. A mudança de status da maconha hoje é uma vitória?
Durante um período, a maconha e as drogas de uma maneira geral, drogas não legalizadas – não estou falando de cigarro, álcool ou desses remédios tarja preta. Conheço pouquíssima gente que não usa remédio tarja preta em quantidades industriais.

Você usa?
Não, nunca usei. Mas as drogas, durante um período, nas últimas décadas, estavam associadas ao crime organizado. Aí não é legal. Na minha época era revolucionário, era contracultura, era romântico e lírico. Estava associada à paz e ao amor. Era quase burro você não experimentar. Não experimenta por quê? Você quer manter as coisas como estão? Você prefere a guerra? Depois virou um grande negócio e, como negócio, entrou por um viés esquisito, fica difícil de você defender isso, esse esquemão que está por trás. Quando o preconceito deixar, quando as indústrias que estão boicotando deixarem, eu acho que as drogas serão liberadas.

Você teve uma postura liberal como mãe em relação a isso?
Nunca tive que me preocupar muito. Acho até que a geração dela não faz a associação que eu fiz. Eu entendo de droga até os anos 1980. Esses negócios que vieram depois eu acho muito estranhos. Outro dia vi, numa festa, um casal que estava praticamente fazendo sexo explícito. E entendi que eles não sabiam que estavam ali naquele lugar. O mundo deles se fechou neles, e a coisa sensorial devia estar tão incrível que eles esqueceram, porque ninguém faz aquilo que estavam fazendo em público.

E o que eles tinham tomado?
Eu não faço a menor ideia, mas deve ter sido uma dessas coisas para cavalo. Eu não sei o que é. Essas drogas eu acho muito esquisitas, porque as pessoas não se relacionam, é o sensor de pele com pele, mas não tem espírito com espírito. É tudo meio solitário. Não sei direito porque não conheço, e, como tudo que é desconhecido, acaba sendo um pouco assustador para mim. Mas nunca tive que me preocupar com a Maria, sempre conversei com ela muito abertamente.

Falando para ela também das suas experiências?
Sempre contei. Mas isso foi sendo introduzido dentro de uma linguagem, levando em conta o que ela já tinha de informação em cada fase da vida. Fui o mais cuidadosa que pude ser. Se errei, errei pensando muito. [Risos.]

Suas experiências foram em algum momento excessivas?
Não, sempre fui comedida. Primeiro porque tenho muito pouca resistência física para tudo, para álcool e para todas as outras drogas que experimentei na vida, e normalmente isso se faz em grupo, e eu fazia menos do que as outras pessoas. Porque eu atingia um grau bem bom rapidamente. Tem gente que bebe cinco doses de vodca e está aqui conversando contigo normal, e eu não entendo qual é. Se for beber cinco doses de vodca, é porque quero entrar numa onda, né? Qual é a brincadeira de ficar me ceifando, me limitando e tentando ficar normal? Então fica normal, que também é bacana. Eu quero ficar logo naquele estado, então quanto antes eu chegar lá, mais legal para mim. Já sei qual é, já sei para onde vou, então vou logo. E preciso de muito pouco. Talvez por isso nunca tenha me machucado fisicamente. Já vi gente tendo overdose, mas eu mesma jamais chegaria naquele ponto.

Sempre teve controle?
Sempre tinha uma hora em que achava tudo muito decadente, e tinha horror de estar naquele lugar. Depois de um determinado horário, eu olhava o entorno e pensava: "Caramba, estou assim também, né? Lógico! Então está na hora de ir embora para casa". Mas já me excedi muitas vezes, até para poder lidar com os meus demônios, que às vezes estavam muito pesados. É mais fácil você se anestesiar. E funcionava? Ah, claro que funciona. As drogas estão aí desde que o mundo é mundo. Mas hoje gosto menos desse estado alterado. Já gostei bem mais.

Mas ainda gosta de tomar um drinque?
Gosto. Mas hoje gosto de beber mais conscientemente. Antigamente gostava de beber para ficar doidinha, meio descontrolada, né? Para dançar. Eu sempre dancei melhor quando bebia, era muito mais gostoso, sem pensar. Dançar e pensar são duas coisas que não devem caminhar juntas. Acho que você tem que se deixar levar. Mas tem um ponto ali que é saber o ponto perfeito em que dá para conversar solto. Mas, no geral, a gente se excede um pouco.

Nessas vezes, disse algo de que depois você se envergonhou?
Dizer coisas das quais eu possa me envergonhar eu falei muitas vezes, acho. Provavelmente. Mas também não me lembro muito.

Então, ainda que em medida menor, você ainda gosta dessa sensação?
Ainda gosto dessa sensação. Hoje, menos. Em respeito às pessoas e em respeito a mim também, porque já não me sinto bem no dia seguinte.

Você mora no Edifício Chopin, em Copacabana, vizinho ao Copacabana Palace. Você cita em uma das crônicas que viu coisas incríveis no Copa durante o primeiro Rock in Rio, em 1985. Que coisas?
Estava o Freddie Mercury ali, pensa só. Pega as coisas que foram contadas e junta com as que não foram, e imagina só… [Risos.] Os caras eram bem exibicionistas, eles não estavam preocupados se tinha gente olhando. Ou estavam doidões, ou pensando: "E daí? Estamos no Brasil! A liberdade está nas borboletas! Todo mundo lindo, oba!" Eu pensava: "Caramba, estou vendo isso? Eu estou mesmo vendo isso?"

Você nada na piscina do Copa?
Sim, desde sempre. Tem 35 anos que faço isso. Acho que o Copa me pertence. Quando esse prédio foi construído, as famílias proprietárias eram muito amigas, os Jordan e os Guinle. Todo mundo que morava no Chopin tinha acesso à piscina do hotel, era um acordo de cavalheiros, foi assim que foi construído, e isso continuou. O Paulo já morava no prédio. E eu vim morar com ele aqui.

Você nunca saiu do prédio?
Eu sempre tentei, mas tento, tento e depois chego à conclusão de que quero ficar por aqui mesmo. Já morei em cinco apartamentos diferentes dentro do Chopin. É o máximo que consigo fazer, mudar de apartamento.  Acho que conheço todas as casas do Rio de Janeiro, porque acho que vou morar numa casa. Aí olho tudo e chego à conclusão de que não, talvez seja mesmo mais prático morar num prédio. Esse momento acontece de sete em sete anos. Eu já morei em todos os blocos.

O Chopin ficou famoso, além de ser vizinho do Copa, pelas festas, em especial as do Bruno Chateaubriand e da Narcisa Tamborindeguy. Você frequentava essas festas?
Muito pouco. Não sou muito festeira.

Nem no Réveillon, que é um clássico daqui?
Aí eu saio. Já tive época de ir a todas as festas do prédio. Eu comecei no primeiro andar, depois no segundo, no terceiro… Quando cheguei no 11o andar, era uma festa na casa da Narcisa. Só que, naquele ano, a Narcisa tinha resolvido dar uma festa dark. Todo mundo estava vestido de preto. Lembro que estavam faltando 20 minutos para a meia-noite e olhei aquilo e falei:m "Não vai rolar". Eu não sabia que a festa era daquele jeito, fui porque pensei: "Este ano vou ser superamiga dos meus vizinhos". A Narcisa mora logo ali, se você bater ela escuta lá. Aí eu cheguei na casa da Narcisa e falei: "Narcisa, isso aqui não é uma festa de Ano-Novo, e a música está super-hardcore". Ela virou para mim e disse: "É, isso aqui está péssimo mesmo, eu também não estou aguentando". "Você sabe quem está morando aí em cima?" "Parece que é um chinês que alugou." "Então é a nossa salvação, porque faltam 20 minutos, a gente tem que ir para o chinês…" Eu lembro que namorava o Victor Fasano na época, estavam comigo o Antonio Negreiros e algumas outras pessoas. Quando viram que eu ia sair da festa da Narcisa, falaram: "Eu também vou! Eu também vou!" Éramos umas dez pessoas. Quando a gente chegou na porta do chinês, eu bati e o chinês falava chinês, ele não tinha a menor ideia de que eu era a Maitê Proença. Olhei pro chinês e falei: "Olha, chinês, eu vim aqui para passar o meu Ano-Novo com você". O chinês não sabia se aquilo era um hábito brasileiro. Ele não sabia o que fazer, então ficou ali com aquela cara de chinês.

Mas estava tendo uma festa na casa dele?
Eu não tinha entrado até então. Mas ia entrar, porque eu não ia perder meu Ano-Novo, faltavam então dez minutos. E aí o chinês, muito chinês, conversou com a mulher dele [imita um chinês]. A mulher deve ter falado com alguém que me reconheceu, e aí fomos entrando. Entramos os dez, todo mundo alto, porque chinês é baixinho. Eu entrei na festa e estava todo mundo comendo arroz, e não tinha ninguém bebendo. Não tinha música! As pessoas começaram a se olhar. "E agora?" "Varanda, vamos lá, vai ter fogos!" E o chinês não estava entendendo nada, mas eu abracei o chinês, e ele começou a gostar, porque ele viu os brasileiros, a festa dele ficou mais animada, e deixou a gente ir para a varanda. Quase nos queimamos com os fogos. Aquele era o melhor lugar do mundo para ver os fogos, que vinham aqui do Copa. Quando ele viu que eu era uma pessoa conhecida, ficou todo mundo amigo, chinês, brasileiro…

E era uma turma festeira também?
Sim, que foi lá e animou a festa do chinês. E aquele foi o melhor Réveillon que eu passei neste prédio, graças ao chinês. Ele nem está mais morando aqui.

E vocês nunca tinham encontrado o chinês antes pelo prédio?
Nunca! Eu nem sabia que tinha chinês aqui. A Narcisa, que é informadíssima, era quem sabia que era um chinês que morava lá, ou pelo menos que era um homem de olho bem fechado. E me lembro até hoje da cara do chinês, o olho dele estava menor ainda, não tinha mais pupila de susto.

Quer dizer que você namorou o Victor Fasano, então?
Namorei. Eu acho o Victor Fasano uma das melhores pessoas que conheço.

Vocês têm contato até hoje?
Muito contato. Ele é uma pessoa que entende tudo de botânica. Ele, sim, é um autodidata, conhece os nomes das plantas, o nome científico e o nome popular, sabe como planta, quanta água precisa. Isso com todas, com qualquer planta, do mundo inteiro. Ele viajou o mundo inteiro, conhece a vegetação e a vida animal dos lugares como ninguém. Ele não é bom é de gente. [Risos.]

O Victor Fasano lida mal com pessoas?
Ele não tem o traquejo social para essa coisa da falsidade, das formalidades necessárias para o convívio social. O Victor não é um expert nisso. Mas de planta e de bicho ele entende tudo.

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