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Maitesão Proença
PASQUIM - 18 a 23/03/1982
 

Por O incrível Ricky

A nova namoradinha do Brasil

Lead geralmente é pra apresentar o entrevistado, mas neste caso deixo os leitores tão à deriva quanto eu, ao sair correndo pra fazer uma entrevista marcada pro mesmo dia — era o horário disponível em meio à gravação de uma novela —, deixando sobre a mesa, por ler, uma pilha de revistas e recortes sobre o assunto.

O que eu sabia era isto:

1. Seu nome é Maitê Proença.
2. Inúmeras pessoas estão fascinadas por sua beleza.
3. Trabalha na novela das sete na Rede Globo, fazendo uma personagem considerada chata.
4. D. Nelma me contou que tá namorando Paulo Marinho, ex—Odile Rubirosa. O resto eu fui — e vocês vão — descobrindo.

Uma pessoa mais inteligente e articulada do que eu esperava. Inclusive ele reforça e cultiva esse lado, preocupada justamente com a imagem da mulher bonitinha. Uma pessoa aberta, sem estrelismos ou preconceitos, sem se preocupar com definições do bem e do mal. Não sei ainda se é boa ou má atriz, mas interpretando ela mesma — como aqui — é interessante.

(Quando entrei ela pediu desculpas pela pouca e simples mobília, dizendo que estava de mudança. Mas achei até simpática e bem natural: uma cama no chão, uma rede, aparelhagens de som, uma cadeira de balanço, estante de madeira, onde folheei o livro dos Gnomos, e, num canto, dois violões e uma guitarra. Ela também estava bem natural: roupa comum, sandálias, sem maquiagem ou prevenções. Sentou numa almofada, e eu, pra não ficar acima dela, sentei no chão, tomando suco de laranja e ela de uva.)

Ricky — Começo confessando que não sei quase nada a seu respeito. Então vou falar o pouco que sei e você confirma ou não. Sei, por exemplo, que seu nome é Maitê. É um nome diferente, estranho.

Maitê — Me chamo Maitê sim, um nome dado pela minha mãe, mas o certo em tupi-guarani é Maetê. Significa "coisa feia" A idéia era afastar os maus espíritos, que não chegariam perto de uma coisa feia. Sempre gostei do meu nome porque era uma propriedade única. Um belo dia encontrei outra Maitê e me senti tão mal! Perdi minha identidade! E era uma gordona, dona de uma padaria, usando o meu nome em vão. Eu tava num país Basco, onde Maitê é tão comum quanto Maria no Brasil.

Ricky (Solidário.) — Eu também tenho essa sorte de ter um nome incomum no Brasil.

Maitê (Pronúncia impecável.) — We can talk in English if you like, if you find it easier.

Ricky — Que mais, além do inglês?

Maitê — Inglês e francês. Comecei a falar inglês aos 5 anos, sem muito esforço pra aprender. Depois, viajando muito, usei muito. Francês foi minha opção de língua no colégio e depois usei quando morei na França. Espanhol, porque ia todos os anos a Punta del Este e muito à Argentina. E as outras coisas que a gente vai falando quando precisa encaixando essas três junto com português.

Ricky — E afugentou os espíritos?

Maitê — Olha, acho que vieram todos. Os bons convidei pra entar, os ruins expulsei a pontapés.

Ricky — Outra coisa que sei sobre você: todos comentam que você é muito bonita. Quando eu falava que ia entrevistar Maitê Proença, as pessoas ficavam ou contentes ou com inveja: "Que sorte a sua!" Alguém até comentou: "Leva um babador, que você vai ficar babando!"

Maitê (Desconversa — o tema de beleza sempre incomoda.) — Isso não é uma coisa que você sabe sobre mim, é um conceito com que você pode concordar ou não. (Puxa o cabelo para trás, revelando bem o rosto.) Agora você tá podendo testar isso. (Solta o cabelo.) Ontem fui no hospital ver minha avó e eu tava um trapo, tinha acabado de gravar, tava "mal-vestida" e fui super mal atendida. Hoje fui bonitinha, arrumadinha e o tratamento foi outro. As pessoas sorriam pra mim. Então a coisa muda de dia pra dia. Você pode achar que esteticamente meus traços compõem uma forma bonita e tal, mas no dia que eu não tô bem ninguém olha. Isso não é papo furado não.

Ricky — Quer dizer que a verdadeira beleza vem de dentro?

Maitê — A beleza que faz as pessoas rirem e ficarem contentes inevitavelmente vem de dentro. Não é? (Sorri.) É um pouco de clichê esse negócio de "beleza interior", juntar essas duas palavras.

Ricky — É, eu perguntei justamente pra ver se você me respondia com clichês ou não.

Maitê — Vou te jogar esse suco de uva na cabeça!

Ricky — Quê isso, tô sendo sincero. Embora depois da arapuca, né. Isso é porque as informações que tenho, filtradas através dos meus estereótipos, juntam seu trabalho como atriz de telenovela com o fato de ser bonita pra formar um terceiro fato: qual o conteúdo da sua cabeça? Mais uma bonitinha-burrinha?

Maitê — A beleza realmente facilita o ingresso nos lugares, então as mulheres bonitas, neste país onde a beleza é artigo de necessidade... O Rio então gira em torno da beleza plástica. Acontece no Rio por motivos históricos, por ter sido a Corte, com aquela coisa de badalação, você é incrível se é amigo do Rei, ou se é mais rico, o valor é dado às coisas externas. Agora, produz uma certa letargia nas mulheres que são bonitas, que, pela facilidade que encontram, não precisam desenvolver mais nada. Só que normalmente são muito badaladas e depois jogadas fora, porque ninguém tem interesse em ficar com uma coisa bonita que não serve pra nada, que não é agradável, que não conversa. Quem tem um certo senso crítico percebe que isso não satisfaz.

Ricky — Isso também era uma coisa que eu sabia de você: que trabalha na novela das sete da Globo, onde fazia o papel de vilã. Apesar disso, é a atriz que tá aparecendo mais.

Maitê — (Reage.) O trabalho do Guarnieri é 500 vezes superior ao meu!

Ricky — É, mas qualidade não é levada em conta na hora de decidir quem será o mais badalado. Que personagem é essa? É a filha desconhecida do marido da tia do amante da dondoca de society que é mãe do namorado da moça pobrezinha?

Maitê — Existe a protagonista, e eu faço a antagonista.

Ricky — Uma destruidora de corações?

Maitê — Uma destruidora de tudo! (Arrastando o ar com os braços.) Ela passa como uma avalanche! As cenas que vão vir por aí... Onde ela pisa, pisa em merda mesmo. É muito ambiciosa e tem um objetivo forte que é si mesma. Também não a compus da forma que seria um vilão tradicional de novela, um personagem maniqueísta, porque nunca conheci uma pessoa que fosse unicamente má. Tentei fazer as pessoas entenderem isso, e em determinados momentos essa personagem tem sentimentos de gente, é apaixonada, é triste, entra em culpa...



Ricky — Você acha que é boa atriz?

Maitê — Levo jeito pra coisa. Gosto de fazer as coisas redondas: comecei a fazer isso e quero percorrer todo o percurso. Quero conhecer áreas como a do cinema.

Ricky — Você fica satisfeita de tantos homens te desejarem?

Maitê — (Ganha tempo.) Se fico satisfeita? (Pensa.) Não acho que seja um mito sexual, meus personagens não transpiram sexo o tempo todo. (Passa a mão pelas pernas.) É, mas as pessoas sempre ligam beleza e sexo. (Reúne o cabelo numa mão e põe todo de lado, um gesto que faz muito.) No momento tô curiosa em relação a isso. Tem muita gente chata que vem se relacionar com você, mas ao mesmo tempo você pode conhecer uma pessoa simpática devido a este motivo, sem o trabalho de ir lá e tomar o primeiro passo. Pode ficar sentada: "Venham a mim." Isso é cômodo. (Risinho.) Depois que as pessoas vêm a mim, posso quebrar o impacto causado pela televisão, mostrando outras coisas que eu tenho.

Ricky — Mostra aí.

Maitê (Desconversa.) — Isso tem que ser uma avalização sua, você que tá fazendo a entrevista! (Range a voz de uma maneira que usa muito.) Não vou ficar contando minhas virtudes pra você.

Ricky — Uma das coisas que avaliei é que fala as frases de maneira certinha. Deve ter sido uma menina bem educada.

Maitê — Estudei em colégio de freira, uma experiência drástica e de muitos conflitos, porque meus pais eram ateus. As freiras me consideravam uma rebelde, falavam em pecado e eu não sabia o que era. Então me puseram num colégio americano, semi—interna. Uma escola linda, numa fazenda, eu adorava, apesar dos primeiros anos terem sido difíceis por causa do preconceito contra mim por ser a única brasileira ali. Que ridículo, eles estavam no meu país!

Ricky — É, mas americano é assim mesmo.

Maitê — Foi quando surgiram meus monstros de infância. Meu lanche não tinha Milky Ways e sim biscoito creme—cracker. Mas fora isso não havia nenhum outro preconceito, porque as pessoas ficavam dois anos e iam embora pros Estados Unidos. Não tavam ligando pra reputação ou tradição das pessoas. Morava no bairro mais rico da segunda cidade mais rica (Campinas) do estado mais rico de um país paupérrimo, então cresci fora da realidade nacional, mas por estudar nesse colégio não tive também tanto contato com a "sociedade do café". Jogava futebol, andava descalça... só fui saber que era bonita quando fui pra uma escola brasileira, porque o reconhecimento social no colégio americano vinha de ter talento pra esportes ou de ser boa em certas matérias. (As lembranças da época a fazem falar de maneira muito intensa; o vento que vem da janela traz o seu perfume, o seu cheiro.)

Ricky — Bom, você cresceu num ambiente muito culto, mas a pergunta sobre sua família era outra, porque cultura não é necessariamente abertura. Por exemplo: seu pai era muito autoritário? Como foi a tua educação sexual?

Maitê — Ahn... (Pensa.) Minha educação sexual viria quando já não tinha mais contato com a família. Fui convidada por diversas mães ou amigos pra morar com elas, e eu ia porque gostava de ficar mudando. Morei té na casa de um padre.

Ricky — Coitado do padre!

Maitê — (Gesto de "tudo bem".) Era o único padre realmente casto que conheço. Levava o celibato a sério. Mas tinha uma abertura pra uma série de assuntos. Porque antes dele eu vivia no meio de missionários luteranos americanos fazendeiros, quer dizer, a cabeça mais tapada que existe! Tudo tinha relação com Deus, e pra quem nunca tinha pensado em pecado ou em culpa... Esse padre me tirou essa carga de culpa. Daí fui tendo contato com a vida e tirando minhas conclusões sozinha. Viajando, mudando de povo pra povo, você vai vendo que o errado aqui é certo ali e abandona seus valores pra sentir como é. Tudo fluiu pra que minha cabeça tivesse um mínimo de preconceitos.

Ricky — Você é meio camaleoa, se adaptando a várias situações na vida, mas parece que agora entra numa esfera nova, devido a seu convívio com uma figura do society carioca. (Confirmo.) Você tá tendo mesmo um namoro com Paulo Marinho?



Maitê — Somos duas pessoas que se gostam muito e que, portanto, se vêem o máximo possível. (Pergunto se ela também tira essa vida social de letra.) Já tive contato com esse mundo em Campinas, onde isso tem muito mais importância. Se agarram (Fecha as mãos.) àqueles valores como se agarram à mãe. De modo que não é nenhuma surpresa pra mim. Não tenho a curiosidade de conhecer, porque já conheço. (Riso.) Não posso dizer também que eu esteja ingressando nisso, porque a gente só tá há alguns meses juntos, e tem passado a maior parte do tempo dentro de casa olhando um pra cara do outro. (Penso: "e fazendo outras coisas mais, claro".) Quando a gente sai é pra ir na casa de amigos e não pra festas. Minha experiência com ele não tem envolvido muito esse meio. Se envolvesse, não seria ruim, quero sempre diversificar minha área de inserção.

Ricky — A parte psicanalítica da minha cabeça tá reunindo traços pra tirar um conceito. Esse negócio dos amigos americanos estarem sempre indo embora, da família ter dançado aos 13 anos, dos relacionamentos rápidos: você tem muita sensação de abandono?

Maitê — Talvez por isso desenvolva em mim coisas mais permamentes além da minha cabeça, para esses relacionamentos não serem tão rápidos. Mas a tendência das pessoas não é de me abandonar. Quando acontece, é doloroso, sim, mas é uma dor que já conheço, e sei que tudo passa.

Ricky — E também tira isso de letra?

Maitê — (Sorri triste e range a voz.) Não tiro porra nenhuma! (Num tom pesado.) Fi-co so-fren-do mesmo! É uma sensação de morte, de dilaceramento, tão arrancando um pedaço de você. (Parece letra do Chico.) Você sente que tá no fundo do poço, mas como já tive muito lá, sei que não é o fim do mundo, e isso me dá segurança.

(Está escurecendo. De frente pra janela, eu a vejo na contraluz, meio difusa, o que embeleza ainda mais seu rosto.)

Ricky — Sua educação diferente, a vida no exterior, devem ter te dado uma bagagem de idéias e experiências que te pôs adiante da maioria das mulheres aqui. Isso não causa conflitos com os homens que transam contigo?

Maitê — Pinta sim. Com uma pessoa que de repente pode ser tua igual você corre o risco maior. A relação mútua não é mais a de domínio, de mestre e vassalo. Pra algumas pessoas isso é intolerável, fica um conflito entre o prazer e a cobrança. Assusta a essas pessoas ter alguém que argumenta com eles quando as coisas não vão bem, que tem idéias próprias, e que elas não possam fazer a cabeça da outra à sua maneira. Mas na medida que você dá prazer, se esse prazer for maior que o medo, a relação se mantém. Se não for, também não quero. Tenho dificuldades de encontrar pessoas que possam aceitar uma relação assim... mas não acho que eu seja tão pesada, faço concessões a nível de pôr outro sapato ou uma roupa menos decotada. Quero paz. Deixa eu fazer xixi. (Intervalo.)

Ricky — Você voltou fumando e mascando chicletes.

Maitê — (Explicadinha.) Não gosto do gosto que o cigarro deixa na boca. Quando não estou fumando, não masco chicletes.

Ricky — O grande assunto dessa semana em que estamos gravando aqui foi a tal super-conjunção dos planetas. Uns dizem que isso tá rolando lá no céu, sem nada a ver com a gente, outros dizem que vai influenciar muita coisa na Terra. Entre o Céu, a Terra, o Zodíaco, onde você fica?

Maitê — Bom, a última notícia era que o mundo ia acabar ontem. Não acabou. Mas acho prepotência da gente achar que estamos isolados, sem relação com outros corpos. Existe uma harmonia universal onde um influencia o outro. Essa influência pode se estender inclusive sobre a vida das pessoas que habitam um planeta, sim. Como a Ciência não acaba, um dia poderá provar isso. Engraçado, fala-se muito disso no Rio, em São Paulo. (Peço que ela fale sobre o Rio.) Aqui, como as pessoas moram mal, não te convidam pra ir à casa delas, vão se encontrar na praia, aí fica um clima de festa, de ôba-ôba. Aqui, se te passam uma cantada... (Chega mais perto, pra ser cantada.) ...aí no meio você diz: (Puxa todo o cabelo pra trás com expressão de angústia.) "Aí, tô com um problema terrível...", e começa a falar desse problema, o cara imediatamente "esqueci a chave dentro do carro" e some. Em São Paulo, diz: "É mesmo? Mas o que aconteceu?"

Ricky — É a famosa Cantada Paulista.

Maitê — Mas pelo menos não tem medo dos problemas das pessoas. No Rio, a festa passa em frente às favelas, mas não as vê, porque aquilo não lhe agrada...

Ricky — E a você, elas agradam?

Maitê — O que acho das favelas? Passo e vejo à distância, como uma coisa de quadro, bonito. Mas aí chove, desaba, e a casa que eu estava olhando tá interrompendo meu caminho. Às vezes sou abrigada a ver que tem gente em pânico lá em cima. Mas não tô ali pisando em barro, com merda passando no meio da minha casa.

Ricky — Você sente um clima de violência que existiria no Rio, mesmo com toda a festa?

Maitê — Sim. (Começa a contar, devagar.) Outra noite, de madrugada, fui parada numa blitz por um homem de metralhadora. Ele disse: "Escuta aqui, você não deveria parar a essa hora da noite, porque eu poderia ser um marginal saído da favela que ia te estuprar agora. Você está sendo muito irresponsável." "Olha, com essa arma na frente eu pararia sendo marginal ou não. Você tá com o argumento na mão! Como é que não vou parar? Nem agora sei mesmo se você é um marginal ou não, se vai me estuprar daqui a cinco minutos, então tô com medo, embora tivesse imaginado que você fosse um investigador da polícia. Então você é que é irresponsável! Espero que tenha marcado minha cara e que não me pare mais pra fazer esse tipo de observação imbecil!" (Puta.) Que gracinha veio me fazer! Tem graça? Queria mostrar como era... (Se estufa, imponente.) com o símbolo fálico na mão.E que eu era uma idiota indefesa.

(Está completamente escuro. Agora não vejo seus olhos. Pergunto se ela soube no Nonoca, um rapaz que há pouco matara toda uma família a facadas por ter um namoro proibido. Diz que não. Resumo o que li a respeito e ela comenta):

Maitê — Não se pode fazer análises simplistas dessas coisas, porque existem milhares de componentes levando uma pessoa a fazer isso. Se você entender a alma desses componentes pode até vir a desculpar essa pessoa. Por mais que seja amoral, viveu numa sociedade que sempre reprovou este gesto, tem suas regras, e pra quebrar com isso tem que haver pressões fortes.

Ricky — Outra coisa que chocou as pessoas foi um tape no "Jornal Nacional" com a violência policial na Guatemala. Você sabe o que tá acontecendo na América Central? Ou isso tá muito distante?

Maitê — Há determinadas situações que interessam mais, essas eu sigo a fio, outras não. (Peço exemplos.) Ultimamente tô tão envolvida por essa novidade na minha vida (Qual? seu romance?) que tudo o mais, inclusive meu trabalho, tá relegado a outro plano. (Levanta e acende a luz.) Me vejo deixando de ler certas coisas pra não criar ansiedade, e me irritar com as pessoas como pretexto pra botar aquela tensão pra fora. A sensação de incapacidade diante dessas coisas, que são tantas, come a gente. (Preocupada.) Se você se dedicasse a uma delas talvez pudesse fazer alguma coisa, mas aí surgem 500 pararelas...

Ricky — Você falou em leituras tensas. E leituras relaxantes?

Maitê — (Olha pra estante. Aviso que não vale colar.) Acabei de ler um estudo sobre o autoritarismo, de Schartzmann, (Aponta.) e agora tô lendo um livro de Roland Barthes: "Fragmentos de um Discurso Amoroso." Gosto muito de ler biografias históricas. Todo mês leio a "National Geographic". E leio todas as fofocas que saem sobre mim nas revistas.

Ricky — Por falar em fofoca, esse lugar onde você mora na Barra é entulhado de motéis. Você os freqüenta?

Maitê — Não. (Ri.) Posso trazer alguém pra minha casa, né, é do lado. A idéia de que 20 casais estiveram lá antes de mim não é algo que me excite sexualmente. Deve acrescentar à fantasia sexual de algumas pessoas, mas eu não gosto.

Ricky — E se os 20 casais estivessem juntos ao mesmo tempo?

Maitê — (Acha graça.) Teria curiosidade de ver, no mínimo.

Ricky — As pessoas tão trepando melhor do que antes, ou isso é uma badalação?

Maitê — Virão a fazer sexo de maneira melhor quando deixarem de ter teorias. Formam teorias nas sessões de análise e fazem sexo pensando em quebra de tabu. Pensar e sexo são coisas incompatíveis. As pessoas estão com isso tão presente na cabeça que tão complicando as coisas. (Começa a se agitar na almofada, cansada de sentar sobre a perna que quebrou num recente acidente de automóvel. Conta os detalhes da operação cirúrgica.)

Ricky — Última pergunta: qual seu partido preferido pras eleições de 82?

Maitê — Ainda não tô decidida. No Rio, tô entre Miro e Sandra, que são as duas opções. Como não tenho dados sobre os partidos que me satisfaçam, prefiro não exprimir uma opinião. Fui convidada pra fazer um comercial pro Governo — tentaram me comprar de todas as maneiras, com a proposta mais alta que já recebi —, mas nesse momento de eleições e com minha idefinição partidária, eu não poderia fazer isso. Mas faço outros, vendendo Cashmere Bouquet, pras multinacionais. (Sorri.) Faço, né.

(Tá na hora da novela das sete. Vamos passar do jogo de entrevista pro "Jogo da Vida".)

Ricky — Bom, já fiquei sabendo mais algumas coisas sobre você. (Desligando.) Será que ficou melhor que a entrevista da "Amiga"?