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Ao contrário de sua Stela em "Passione",
Maitê descarta a adrenalina da vida dupla

oglobo.globo.com - Julho/2010
 


RIO - Na vida de Maitê Proença não há brecha para uma relação baseada na mentira. "É a saída dos covardes", afirma. Sentada na sala de seu apartamento, em Copacabana, a atriz analisa o comportamento de Stela, sua atual personagem em "Passione", que leva uma vida dupla por consequência da tristeza que sente ao lado de um marido que a trata como um lixo. E, de repente, aquela linda mulher - sem um pingo de maquiagem, vale dizer -, de pés descalços em cima do sofá, confessa que já existiu no mundo um homem capaz de colocar a sua autoestima no chão. Sem mais nenhum sinal de afeto pelo sujeito, ela o define como um canalha. Só o tempo para fazer Maitê hoje dar risada dessa história. Aliás, durante a conversa, ela ri muitas vezes e não entende como as pessoas a acham seríssima.
Aos 52 anos, Maitê provoca em cena, quando surge debaixo dos lençóis com um garotão para saciar a fome de sexo de Stela. A atriz também namora alguém mais novo, o diretor de marketing Alexandre Colombo, de 40 anos. Mas trata logo de avisar que não segue um padrão. Gosta de quem, como ela, não encara a vida de forma blasé. Pede desculpa pela expressão, mas, na sua opinião, "não tem nada mais brochantedo que isso".
E a postura de mulher fatal só cabe na ficção. Do tipo que se apaixona facilmente, Maitê não vê tanta graça no que chama de "sexo como esporte". Para ela, é preciso fazer a corte.
- Por que tanta pressa, meu Deus? - diverte-se.
Clarissa Frajdenrajch


O GLOBO: Optar por levar uma vida dupla é uma boa saída, como faz Stela, em "Passione"?
É muito ruim viver assim. Não sei se é uma opção muito sábia. Stela é infeliz. É como se aquela porta dos fundos por onde ela sai para ter suas aventuras não resolvesse seu problema. É como uma droga, que depois tem o efeito colateral. No caso dela, é ter que mentir para os filhos, não ter espontaneidade e viver em estado de alerta.

O que seria sábio, então?
Bem, se ela terminasse aquele casamento, não haveria novela(risos). Para montar a personagem, criei a ideia de que ela tem medo da violência do marido. Saulo (Werner Schünemann) nem olha para Stela. Ela é a lixeira dele.

Você já se sentiu um lixo?
Já teve homem que me deixou para baixo. Foi uma relação em que dei o que eu tinha de mais incrível, tolerante, inteligente, gracioso e bem-humorado. E tudo foi pouco. Eu me senti um lixo, sofri feito um camelo no deserto (risos).

E como saiu dessa?
Acabou porque, senão, eu iria morrer de amor. Eu já estava quase doente. Foi quando surgiu uma fênix muito pálida dentro de mim, que era o meu instinto de sobrevivência me mandando sair daquilo. Eu achei uma pessoa para botar no lugar dele. Fui sincera, falei que ainda amava outro, mas ele aceitou ser meu companheiro. E o tal cara ainda ficou me atormentando. Um dia, o telefone tocou e era ele dizendo que tinha se perdido na frente da minha casa. Olha só que canalha!

Isso aconteceu recentemente?
Sim, depois de velha, uma coisa horrorosa! Mas a gente é sempre suscetível a essas coisas. Não tem problema. Eu me arrisco. Não sou uma pessoa que fica na frente da TV assistindo ao Discovery Channel. Eu subo o Himalaia (risos)! Depois, despenco lá de cima. Mas fui eu que despenquei. É outra emoção. A gente se arrebenta, fica com hematoma, mas sai cheia de experiência.

Nas suas relações, você joga limpo sempre?
Sim. Porque, se não machucar naquela hora, vai acontecer lá na frente. Isso serve até para criar filho. Lembro da Maria me perguntando se a injeção ia doer e eu disse que sim. Jogando limpo, tudo fica mais simples. Lá na frente, evita-se tanta conversa, tanto mal-entendido, tanta cobrança.

Já na novela, Stela vive uma mentira.
Ela é uma mulher amedrontada. Age escondido como tantas pessoas fazem. Aparentemente, é mais fácil, parece ser a melhor saída do que lidar com o problema. Mas é a saída dos covardes.

Antes de se apaixonar por Agnello (Daniel Oliveira), Stela sempre foi bem prática com seus garotões, procurava sexo. Esse tipo de relação a atrai ou é preciso ter o mínimo de intimidade?
É... Eu faria uma grande confusão se eu fosse ela. Já teria metido os pés pelas mãos 300 vezes, me apaixonado. Então, é melhor eu não correr os riscos. Também não acho tanta graça no sexo como esporte. Sempre invento uma historinha. Acho que nunca aconteceu na minha vida de fazer isso puro e simples. É muito mais divertido se for mais completo.

Você é de "ir à caça" ou gosta de ser cortejada?
Tenho amigas que saem já com "a" lingerie porque sabem que vão tirar a roupa. Eu não faço isso. Por que tanta pressa, meu Deus? Temos que dar chance para uma conversa sedutora. Tem que se fazer a corte! Hoje, não se faz mais isso. Se gostou, vamos embora! Primeiro, preciso ver se é isso mesmo que eu quero. De repente, o cara fala uma besteira e isso vira um balde de água fria. Vou ter que inventar uma câimbra, uma pinçada no quadril, pedir para me levar para casa (risos).

Você namora um homem mais novo. Diferença de idade pesa numa relação?
A diferença existe porque tem mais vida de um lado. Porém, há mulheres da minha idade que não têm vivência nenhuma, que saíram de casa anteontem e que vão ter uma aventura. Já eu fiz muito do que eu queria e também não escolho idade. Namoro pessoas interessantes. A faixa etária dos 60 anda blasé, sem entusiasmo. Desculpe a palavra, mas não tem nada mais brochante do que isso. Se o que tem a oferecer é dinheiro e tristeza, não serve. Só vai me dar depressão (risos).

Ficar nua em cena não é novidade para quem protagonizou "Dona Beija", em 1986. Ainda hoje tira isso de letra ou impõe alguns limites?
Nunca tive problema com o nu. Morei em Ubatuba durante anos e, praticamente, não tenho uma foto dessa época em que eu esteja vestida. Minha mãe fez uma tanguinha para eu usar. Meu pai cortava o meu cabelo no barbeiro. Eu era quase um Tarzanzinho. Até que a gente se mudou para Campinas. Eu andava pelada pela casa e meu irmão disse: "Você não vai botar uma roupa? Já está muito grandinha". Tinha uns 10 anos e foi a primeira vez que lembro de alguém falando que talvez aquilo não fosse adequado para a minha idade. Na adolescência, morei em albergues mistos na Europa. Uma vez, dei de cara com um homem escovando os dentes, com o pinto balançando. Tirei a roupa e fui lá escovar os dentes também. Quanto à novela, na hora de fazer uma cena eu coloco uns protetores para não ficar exposta à equipe. Tenho pudores. Hoje em dia... (risos).

Até agora, qual foi a reação dos rapazes que contracenam com você em "Passione"?
Eles são bem maduros. Todos lindos e bonzinhos. Um deles me contou que a namorada era gordinha, que já pesou 120 quilos. Aí, eu disse: "Então, ela é bastante gordinha". Ele contou que a queria como mãe dos seus filhos. Fui perguntar na produção onde tinham arrumado esses espécimes raros. Só posso estar no mundo da fantasia. Me acorda!

Em seus textos, por mais trágica que seja a história de vida que relembre, como a perda de sua mãe (assassinada pelo pai, quando a atriz tinha 12 anos) ou a morte de seu pai, você tem o hábito de emendar com um comentário bem-humorado. Faz isso para que ninguém sinta pena de você?
A verdade é que dores todo mundo tem. Posso deixá-las impregnar o meu dia a dia e me sentir uma pobre coitada ou posso vivenciá-las e seguir adiante. O jeito é olhar como se fosse a dor de outra pessoa. Infelizmente, aquela outra pessoa sou eu (risos). Não sei se essa maneira de agir é boa ou ruim, mas é como aprendi. Senão, eu não me aguentaria. Preciso viver alegremente.

Na peça "As meninas", você escreveu que "as feias são más"? Acredita nisso?
Roubei essa frase da minha avó, que me disse uma vez: "Cuidado com as feias, minha neta. Elas são más". Ela era uma mulher linda e falou aquilo muito convicta. Mas claro que não são!

E você já se achou feia?
Eu não acordo, me olho no espelho e digo "nossa, que linda". Não tenho nenhum sobressalto. Eu olho para a minha cara como olho para uma bola de futebol. Só percebo alguma coisa quando está ruim.

O que aconteceu para o "Saia justa" sair do ar?
O GNT pede para procurar o canal sobre esse assunto. Estamos em recesso. É bom que um programa de oito anos tenha uma ruptura para voltar revigorado.

Que relação existe entre Márcia Tiburi e você?
Uma relação que permitia fazer o programa com dignidade. As pessoas não são obrigadas a gostar umas das outras, mas devem se tratar com cordialidade se vão trabalhar juntas. Não preciso que gostem de mim. Depois, a gente sabe como são as relações. Às vezes, passam por momentos de tensão. Não tem nada demais.

Você gosta de ver TV?
Vejo pouquíssimo. Adoro History Channel, mas não para assistir a documentários sobre o fim do mundo. Deixa acabar em paz! Mas gosto de histórias sobre os maias, Napoleão... Também vejo a novela que faço. Maria, sim, é noveleira. Por conta dela, vi "Caminho das Índias", até que a Gloria(Perez, autora) me convidou para entrar na trama. Eu adorava o Raj! Você viu que agora o meu nome está do lado de Raj (Rodrigo Lombardi) nos créditos da novela? Achei isso uma delícia! Estou muito bem acompanhada (risos).