A A A
Maitê Proença vive idosa de 86 anos no teatro e diz que se prepara para morte

Jornal Extra - Março/2013
Ramiro Costa

Até hoje Maitê Proença seduz gerações. Em “Gabriela”, sua Sinhazinha fisgou Osmundo (Erik Marmo), um homem bem mais jovem. Recentemente ela participou de um vídeo na internet do Porta dos Fundos — canal de humor no YouTube encabeçado por Fábio Porchat e Gregorio Duvivier — em que participa supostamente de um filme pornô no meio de homens sarados. Com 55 anos, a atriz, que já foi capa da “Playboy”, precisou se despir da vaidade para viver Valdina, uma senhorinha octogenária, na peça “À beira do abismo me cresceram asas”, que estreia neste fim de semana, no Teatro Leblon. Mas o tempo e a velhice não a incomoda. Muito menos a morte.

Como foi recolher as histórias para peça? Você foi sozinha aos asilos? Se inspirou em alguma personagem em especial?

Quem fez toda essa pesquisa foi o Fernando Duarte, ele tinha uma tia vivendo num asilo e entregou-me uma colagem de histórias. Imaginei que velhos repassando a vida poderia ser um território fértil para tratar ideias e conceitos que andam ocupando meu pensamento. Topei a brincadeira que era transformar o material em teatro. Aproveitei muita coisa, cortei, criei novas histórias , inseri conceitos e suspense, costurei e fui arrumando as palavras com uma dose de humor aqui, um suspiro ali. Fernando e eu nunca chegamos a trabalhar em conjunto, como fiz, por exemplo, com Luiz Carlos Goes em As Meninas. Aqui partiu-se de um material muito interessante, para se criar outro; espero que também de grande interesse. Sou lenta, caminhei com passos de velhinha, levei dois anos nisso, e até ontem estava mexendo com as ideias, com as palavras...

Pode descrever um pouco sobre a Terezinha?

É uma senhora de 86 anos bastante resolvida e inteligente. Sofre com a distância dos filhos por quem espera sem que eles jamais venham visitá-la.

O que é você destaca de melhor na peça?

As considerações que as duas velhas fazem, e a forma que se colocam, sem medir palavras, com aquela franqueza característica de quem não precisa mais do jogo social. Isso às vezes resulta cômico, e as vezes é cruel. O riso e as lágrimas estão bem equilibradas. Há tb um segredo entre Terezinha e Valdina formando o suspense, e uma grande amizade como âncora. Tudo embalado por figurinos lindos e uma trilha sonora colhida no fundo de um baú.

Como você lida com a passagem do tempo?

Minha avó, aos 103 anos, não estava ainda pronta para o fim, tinha um medo que se pelava. Comigo não é propriamente medo, já lidei com a morte de quase todos os meus. Mas gostaria que essa passagem, essa coisa que estou fazendo aqui não sei bem porque, seja significativa, que tenha algum valor.

Tem medo da velhice?

Não posso imaginar o que é a urgência dos que tem muito pouco tempo pela frente. Vou me preparando o melhor que posso.

Recentemente, você estrelou um vídeo da Porta dos Fundos. Como foi o convite? Gostou de ter feito?

Gostei muito. Num mundo engessado por regras tolas, soterrados que estamos pelo politicamente correto, esses meninos da PDF debocham da família, do funcionalismo público, da Bíblia, do Cristo, da Kellen :-), e, porque não ... da atriz consagrada. É uma grande brincadeira.

Sobre a televisão, sua personagem em Gabriela foi um dos maiores destaques. Como foi ter feito história de Sinhazinha?

Foi um sucesso e uma alegria. Sinhazinha era de uma delicadeza só, quis fazê-la assim, bordada por dentro. Mas ainda assim foi uma transgressora, que subverteu por amor.

Havia cenas muito duras com o personagem de José Wilker. Como você saía das cenas?Era complicado?

Na hora é difícil. Porem, quanto mais um ator se joga nas cenas, mais pleno ele se sente depois. E Wilker foi um lorde!

Algum projeto de TV?

A próximo projeto que já está pronto e será lançado no princípio de Abril: meu novo livro É duro ser cabra na Etiópia. É um livro cômico e belo com participação de internautas. Vai dar o q falar.

Maitê, são poucos os atores que conseguem escrever, dirigir a atuar na própria peça. Falta ainda alguma coisa na sua carreira? Algum personagem papel, projeto?

Mas é claro! Se vovó foi até os 103 eu pretendo seguir mais longe. Tenho muitos anos pela frente pra rechear com ideias mil.