Por Paulo César Teixeira
Primeira atriz brasileira a ficar nua na televisão, em Dona Beija (Rede Manchete, 1986), a paulista Maitê Proença, 39 anos, condena o atual erotismo de baixa qualidade da telinha. "A guerra pela audiência extrapolou todos os parâmetros do razoável", diz. Contratada da Rede Globo, ela se dá ao luxo de recusar papéis em novelas. Mas faz aparições fulgurantes em programas como Xuxa, Faustão e Sai de Baixo, em apenas uma semana. No cinema, Maitê volta a interpretar Lyla Van, a estrela de A Dama do Cine Shangai e começa a rodar dia 10 de maio o filme Vox Populi, de Marcelo Lafite. Nele, encarna o personagem da mulher vulgar com direito a ser desbocada e usar roupa justa e salto 18. Tudo ao contrário do que ela realmente demonstra ser nesta entrevista.
ISTOÉ - O brasileiro é mais sensual do que os outros?
Maitê Proença - Não diria isso. Talvez ele seja apenas mais expansivo e, por isso, revele mais sua sensualidade. Dentro do Brasil também há diferenças de comportamento. O baiano, por exemplo, parece mais bem resolvido sexualmente que homens de outros Estados, onde em geral se é mais recatado. Não posso comparar o brasileiro ao estrangeiro porque minha pouca experiência no campo não permitiria. Melhor é fazer uma pesquisa e perguntar aos tarados do Brasil: por que você pensa tanto em sexo?
ISTOÉ - Por que o topless não pegou no Brasil?
Maitê - Porque já há tanta nudez, é uma profusão de mulher pelada. No Brasil, até juíza de Direito bota o peito para fora. Há uma inversão do que estimula as pessoas aqui e no resto do mundo. O Carnaval faz a diferença. Pode-se tudo em quatro dias. Pessoas de terno e gravata, sisudas e formais, de repente se entregam ao prazer do exibicionismo. Vivem o auge da alegria e do despudor, endossadas pela sociedade. Depois, voltam a pôr a toga, suas roupas de pessoas sérias. Tudo volta a seu lugar. É um país curioso.
ISTOÉ - Você acha que há um bombardeio de erotismo vulgar na mídia?
Maitê - O sexo enche as pessoas de ânimo. Mas há sexo e sexo - o de baixa qualidade tem emoção igualmente de baixa qualidade. O sujeito pode até ficar animado, mas é menos do que poderia ser - há um mundo, a meu ver, mais estimulante dentro da sensualidade. Está bem, precisa haver espaço para todos os gostos, mas há um erotismo de baixa qualidade que é nitidamente uma imposição da mídia. O vale-tudo da guerra pela audiência nesse momento extrapolou todos os parâmetros do razoável. Sem moralismos, por favor. Não faço julgamento moral, só estético. Afinal, existe algo mais interessante do que sexo?
ISTOÉ - Qual é a diferença entre o sexo de bom gosto e o apelativo?
Maitê - Há uma falta de elegância intrínseca. Elegância e bom gosto não se aprendem na escola nem lendo uma revista. Não estão no corpo, na roupa ou na quantidade de dinheiro. É uma conjunção de atributos. Alguns os têm, outros nunca os terão.
ISTOÉ - O erotismo de Dona Beija era diferente?
Maitê - Na época, não recebi um só recado de velhinhas incomodadas com o que viam na novela. Hoje, parece que andam reclamando bastante. Beija se banhava nua na fonte porque isso tinha a ver com a história. Mas o sexo como apelação vira um recurso fácil para encobrir a má dramaturgia.
ISTOÉ - Você fez muitas exigências para posar nua na Playboy?
Maitê - Foram oito anos de negociação. No final, acho que cederam por cansaço. Fiquei totalmente exposta, até porque não estava sequer com uma meiazinha para cobrir o pé. Exigi uma pequena fortuna como compensação. Mas, além do dinheiro, tinha que ser do jeito que eu queria. Sem posição de corpo forçada, artificial, de pin-up barata. Queria que fosse belo e ousado. Imagina eu pelada num povoado da Sicília. Um prefeito quis botar a equipe a correr. As velhinhas tiravam as crianças das janelas.
ISTOÉ - Por que suas aparições na televisão são cada vez mais raras?
Maitê - Apareci, por coincidência, nos programas do Faustão, da Xuxa e no Sai de Baixo na mesma semana. Mas sou muito seletiva. Fui chamada mais de uma vez para ser a protagonista de novelas da Globo. O problema é que os convites não combinavam com o momento da minha carreira.
ISTOÉ - Qual é o critério para decidir se o personagem serve ou não?
Maitê - Leio o roteiro e digo sim ou não. Não tenho ansiedade de aparecer. Adoro passar um tempo longe da televisão. Sair com Maria, minha filha, passear e não ser perturbada. Se bem que às vezes é difícil. Outro dia, fui escolhida uma das mães-ajudantes pelas professoras para a visita da turminha da escola à exposição de Monet no Rio. Foi um fiasco. Uma horda de estudantes passou o tempo inteiro virada para mim, e o Monet na parede, inutilmente.