Aos 52 anos, Maitê Proença não foge de expor suas opiniões com a contundência e inteligência habituais - seja sobre traição, seja sobre modelo de casamento ideal, opção por namorar homens mais jovens e até sobre política
Por Gustavo Autran / Fotos: Jorge BispoEm uma luxuosa suíte do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, Maitê Proença aguarda o momento do início de mais um ensaio fotográfico - teriam sido quantos em 31 anos de carreira? Não importa. Mesmo acostumada ao assédio da imprensa, ela prefere estar atenta e não relaxar. Enquanto prova do café servido pela produção, passa instruções sobre como esperava que ficassem seu penteado e make up. Depois de conversar um pouco, pediu, delicadamente, para ir até o quarto, conferir os modelos selecionados para compor os looks. As peças já estavam todas dispostas sobre a cama, aguardando o veredicto da estrela. Só então, decidido os devidos detalhes, ela se permitiu começar a sessão de fotos. Todo esse roteiro de coisas dizem muito a respeito de Maitê e seu temperamento. Paulista, 52 anos, ela vive o auge de sua forma intelectual e artística. Como atriz, retoma a parceria com o sucesso na pele de Stela, em Passione, a esposa que, maltratada pelo marido, usa o sexo casual com garotões como válvula de escape emocional. Como escritora, viu seu segundo livro, Uma Vida Inventada - Memórias Trocadas e Outras Histórias, virar best-seller com 98,5 mil exemplares vendidos desde o lançamento, em 2008. Por fim, sua incursão como dramaturga na criação de As Meninas, em parceria com Luiz Carlos Góes, só tem encontrado aplausos. Dá para querer mais?
Dá sim, e Maitê vai além. Na vida pessoal, ela vive um romance há um ano e quatro meses com o diretor de marketing Alexandre Colombo, 39 anos, herdeiro da indústria alimentícia Piraquê. Os 13 anos de diferença de idade dela para ele não a incomodam. Ao contrário: "Homens mais jovens têm mais entusiasmo pelas coisas e pessoas... e isso é muito envolvente", assume ela. Em casa, sua relação com a filha única Maria, 19 anos, se baseia no diálogo e nas risadas. Quer melhor? "Sou do caminho do meio da permissividade e nunca fui paranoica de ficar imaginando desgraças", explica.
Sua relação com os amigos já toma o caminho da generosidade. Recentemente, ela esteve ao lado da amiga Cissa Guimarães por conta da tragédia que tirou a vida de Rafael, filho de Cissa, em julho, no Rio. E de uma maneira especial, demonstrou o seu carinho, como conta o ator Ney Latorraca. "Fui visitar a Cissa e ela acabou me servindo um bolinho delicioso. Perguntei quem tinha feito e Cissa respondeu que tinha sido a Maitê. Ela é assim, amiga para toda hora, não é só para posar no tapete vermelho", elogia ele. Em outro episódio, agora com o próprio Ney, outra atitude de amizade. "Teve uma cena em Um Sonho a Mais (1985) que eu tinha de me vestir de noiva para a minha personagem se casar. Demorei para me arrumar e quando apareci para fazer a cena senti que alguns colegas de elenco queriam que eu morresse. Daí Maitê me olhou, deu um sorrisinho e disse: 'você está linda de noiva'. A cumplicidade nos aproximou."
Expor suas preferências independentemente da reação da plateia parece ser mesmo outra de suas facetas. "Acho que essa característica tem a ver com a forma com que ela encara a vida. Para Maitê, não tem mais ou menos, não existe essa possibilidade de ficar em cima do muro. O que a vida lhe apresenta, ela enfrenta", diz o autor Silvio de Abreu, que já escalou a atriz para atuar em cinco novelas de sua autoria. É dessa forma também que ela se posicionou diante de Gente nesta entrevista especial. Foi de relacionamento à política sem titubear. E revelou, inclusive, sua reflexão - nada popular para o momento - sobre a candidata que lidera as pesquisas de opinião para Presidência da República no pleito do dia 3 de outubro. Até porque, opinião por opinião, ela prefere a dela. E sua história bem-sucedida comprova que tem dado certo assim.
Em Passione você vive uma mãe de família, destratada pelo marido, que coleciona aventuras extraconjugais. Infelicidade no casamento é pano de fundo para a infidelidade feminina?
Não necessariamente. Há mulheres que têm uma relação forte com o sexo pelo prazer, sem o envolvimento emocional. A maioria, no entanto, prefere o sexo condimentado pelo amor. Nesse caso, os destratos por parte do amado, a indiferença, a humilhação, tudo que mina a autoestima serve como estímulo à traição.
É mais difícil aceitar a traição feminina do que a masculina?
A masculina é uma tradição milenar em variadas culturas. A feminina veio com as conquistas que a mulher tem feito dos anos 50 para cá. A mulher hoje não se transforma do dia pra noite na escória da sociedade. Que bom, é menos hipócrita assim. Mas vale lembrar que a traição não são só flores, há um peso nisso. Ela é pra quem tem o temperamento e a estrutura pra conseguir fazer o jogo do engana, sem culpa.
Seria capaz de manter um casamento infeliz em nome da manutenção da família?
Não tenho o temperamento. Atormentaria meu parceiro e ele me largaria. Minha insatisfação seria absolutamente visível no dia a dia, tornando o convívio impossível. Sou aquariana, sou da verdade e gosto das cartas sobre a mesa.
Como é sua relação com sua única filha, Maria, de 19 anos?
Mãe é mãe, amiga é aquela para quem a gente conta as transgressões, os segredinhos, tudo aquilo que é melhor omitir da mãe, mas conversamos muito, todos os dias, e damos boas risadas também. Nossa vida juntas é fácil e muitíssimo agradável. Sou do caminho do meio da permissividade e nunca fui paranoica de ficar imaginando desgraças. Minha filha também me facilita a vida porque é discreta, ponderada e cautelosa por natureza.
Até que ponto a educação que recebeu de seus pais serviu de exemplo na criação de sua filha?
Meu pai foi um homem difícil e intransigente, mas com princípios retos, muito sólidos. Minha mãe foi uma mulher alegre, que amava as pessoas e vibrava com a vida. Me enxergo em ambos e, é claro, carrego minhas características na criação de minha filha. A gente é fadado ao temperamento que tem, não adianta achar que se foge disso. Meus pais fizeram o melhor que puderam dentro de suas prioridades, mas os filhos nunca estiveram em primeiro lugar. Ao contrário, Maria é minha prioridade absoluta e nela eu foco toda a minha atenção para conseguir ser o melhor de mim.
Como reagiria se Maria se envolvesse com drogas?
A postura não tem que ser só nesta hora, tem que ser ao longo da vida, no dia a dia, desde o nascimento. Não dá para desviar o olhar quando a coisa se complica, mas tem que encarar com a mente esclarecida e o coração presente.
Aos 52 anos, você é uma das mulheres mais bonitas da tevê. Que cuidados toma para manter a forma?
Bebo água quente ao acordar, faço pilates e caminho pelo menos quatro vezes por semana. me alimento muito bem, arrumo minha casa, redecoro meus ambientes, faço programas ao ar livre e invisto em tudo que me dá prazer, porque acredito que não há saúde sem alegria, e não há beleza sem saúde.
Ser referência de beleza aos 52 anos pesa?
Não acho que seja mais bonita que outrora, apenas envelheci razoavelmente bem e estou em evidência na novela das oito. Além disso, ganhei com os anos certa segurança e uma melhora de autoestima que se refletem no que as pessoas percebem como belo. Não é a pele ou o viço. É a maturidade que encanta.
Você mora no Rio de Janeiro, cidade onde existe um paparazzi em cada esquina. Você se preocupa com a aparência ao sair às ruas?
Se achar que estou com aspecto abatido passo corretivo até para ler jornal dentro de casa! tem a ver com minha relação pessoal com o espelho, não com os paparazzi.
Namora um homem 13 anos mais novo. Os mais jovens tendem a ser menos complicados do que os mais velhos?
Os mais jovens tendem a ter um entusiasmo pelas coisas e pessoas, por fazer e aventurar-se. E isso é muito envolvente.
O que mais te chamou a atenção em Alexandre? É verdade que ele cozinha muito bem?
Sim, cozinha muito bem, e, de resto, há a nossa intimidade que peço que respeitem.
Casaria novamente no formato tradicional ou acredita em um casamento em casas separadas?
Prefiro casas separadas.
Como concilia suas atividades de escritora e atriz?
Como atriz, sou obrigada a vasculhar lugares íntimos e profundezas que também preciso visitar como escritora. Então, enquanto mergulho de garrafa de um lado, fico só no snorkeling (prática do mergulho na superfície) lá no outro.
Algum novo projeto literário em andamento?
Tenho muitas ideias mas só vou começar a desenvolvê-las pra valer quando acabar a novela e toda essa hiperexposição.
Você tem ido a Academia Brasileira de Letras. Sonha em entrar para o seleto grupo dos imortais?
Bom, ali a conversa é arejada, com uma gente que enxerga a vida na clareza e generosidade. A comidinha também não é nada mal... Mas minhas idas são pelo convívio.
Estamos às vésperas da eleição. Quem é seu candidato à Presidência?
O Serra tem experiência, faz o que promete, é sério, não dorme, só trabalha e tem bons critérios para educação, saúde e programas possíveis para todos os setores. É competente e honesto. Marina é moderna, tem um pensamento novo, sustentável e limpo, que colocaria o Brasil num rumo muito bonito. Se conseguir fazer o que pretende, esse será o país mais bem-sucedido da Terra. Os últimos 18 anos com Itamar, Fernando Henrique e Lula preparam terreno para que possamos nos desenvolver nessa direção. Agora, oscilo entre esses dois candidatos.
O que te leva a não votar em Dilma?
Não sei quem ela é. Quando é forçada a se apresentar, não acredito em uma palavra do que está sendo dito. Vejo um corpo sem alma a repetir uma ladainha que não me convence.
Você provocou polêmica ao declarar em uma entrevista que a discriminação contra as mulheres poderia salvar o País de Dilma Roussef. Achou que foi mal interpretada?
Falava sobre discriminação contra a mulher e de como ela ainda é tratada como escrava na Ásia, na África e em grande parte do mundo. No Ocidente houve imensos ganhos, mas ainda há por fazer. Em tom de ironia, disse que, nesse momento do Brasil, até que essa praga poderia ter um efeito colateral, a meu ver, benéfico, que seria nos livrar da Dilma. Não era uma consideração séria, até porque, ao que se vê, somos um país bastante airado e que não descarta a mulher. Há duas mulheres concorrendo à Presidência e uma delas vence nas pesquisas. A outra é acima de qualquer suspeita, uma pessoa de impressionante dignidade e correção, que se fez sozinha derrubando toda a sorte de obstáculo. Marina é a pessoa mais admirável de toda a cena eleitoral.
Qual é a sua avaliação do governo Lula?
Não gosto quando ele se apropria dos feitos de FHC como se tivessem origem no seu governo. Não tiveram. A sabedoria do Lula foi dar continuidade ao que começou com Itamar, seguiu progredindo muito nos anos FHC e, de maneira geral, floresceu nos anos Lula. Também não gosto dos Mensalões, da roubalheira e da cegueira do Lula, que nunca sabe de nada e parece apoiar o desrespeito às instituições. Mas o Lula é um cara ultrassimpático, a gente aceita apesar de tudo. E o ideal dos ideais teria sido a junção do socialismo democrático do PSDB com os fundamentos trabalhistas do PT. São posturas tão obviamente complementares que me pergunto por que nunca aconteceu? O Brasil só teria se beneficiado. Votei em candidatos de ambos os partidos ao longo desses anos.
Algumas atrizes já sofreram patrulha ideológica. Acredita que hoje ainda exista lugar para esse tipo de cerceamento?
Patrulha sempre haverá. Toda gente pensa imensas bobagens, propaga aquilo pelos botecos em altos brados e fica por isso mesmo. Mas a pessoa pública é questionada, tem que ter uma opinião. E sua opinião sai na revista para todos tacarem pedras.