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A reinvenção de Maitê

Isto É Gente - 11/2006
 



Escalada para poucas novelas nos últimos anos, a atriz dá vazão a seu lado escritora em livro e peça, produz eatua no teatro, participa do programa de discussões Saia Justa, no GNT, e prepara-se para viajar para o Laos, na Ásia.

Texto: Rodrigo Cardoso
Fotos: Edu Lopes

"O que me descansa é voltar a ser uma folha em branco", diz ela sobre o prazer do anonimato que sente quando viaja para lugares distantes.

Que Maitê Proença é uma viajante inveterada não é novidade para muita gente. Que os destinos escolhidos por ela costumam passar longe do óbvio, também não. No próximo dia 26 de dezembro, a atriz cairá no mundo novamente. Decidiu passar o Réveillon no sudoeste da Ásia, em Laos. Por quê? "Porque em Laos estão as pessoas mais puras do mundo", responde Maitê, repetindo o que ouviu oito anos atrás de uma guia de viagem em Myanmar (também na Ásia). Em Laos, conta ela, os jovens passam dois anos no monastério se preparando para a vida adulta, ao invés de se alistar no serviço militar.

"Eu me sinto muito estranha no Brasil", afirma Maitê, cujo barato nas viagens, mais do que visitar monumentos, é conhecer gente e hábitos diferentes. "Aqui, existem milhares de informações sobre mim, não sei mais o que provoco nas pessoas. E o que me descansa é poder voltar a ser uma folha em branco." No Brasil não há borracha capaz de apagar o que Maitê escreveu, frente e verso, nas páginas da sua vida. Símbolo sexual dos anos 80, protagonista de sucessos como Dona Beija (1986), na Manchete, e Salvador da Pátria (1989), na Globo, dois ensaios nus (1987 e 1996) que lhe renderam o apelido de Maitesão do jornal O Pasquim, hoje, seu brilhantismo está muito mais ligado às virtudes intelectuais.

Aos 47 anos, a atriz reinventou-se. A metamorfose aconteceu dentro do escritório do agradável apartamento - cujas paredes receberam tratamento acústico - onde ela mora com a filha Maria, de 15 anos, no Rio de Janeiro. Ali, ela embarcou na maior viagem de sua trajetória profissional em busca de introspecção e fez nascer a Maitê escritora. "Escrever é uma forma de expressão mais madura", afirma.

No final de 2004, após as gravações de Da Cor do Pecado, sua última novela, publicou Entre Ossos e a Escrita. O livro de crônicas, que reúne a delicadeza e o estilo franco de Maitê, está na terceira edição e chegou a ser lançado em Portugal, onde ocupou a quarta colocação no ranking dos mais vendidos. "Interpretar me ajudou a resolver sentimentos mal resolvidos. Pode-se dizer que salvou minha vida", analisa ela. Vale um registro, antes de Maitê completar seu pensamento: ela perdeu a mãe aos 12 anos, assassinada pelo marido, pai da atriz, tomado por ciúmes e, dezenove anos depois, ficou sem o pai, que, com câncer, atirou duas vezes contra o próprio peito. "Mas a escrita é um rito de passagem, um bom veículo para organizar os lugares por onde passei."

Antes de Da Cor do Pecado (2004), o último papel de fôlego da atriz na Globo, de quem é contratada, foi em Torre de Babel (1998). Ano passado, sua personagem em A Lua me Disse morreu na primeira semana. Foi sua aparição mais recente em novelas. É pouco. Christiane Torloni, por exemplo, é contemporânea de Maitê e fez muito mais: depois de Torre de Babel atuou em Um Anjo Caiu do Céu (2001), Mulheres Apaixonadas (2003) e América (2005).

"Eu poderia render mais. Mas não tenho ansiedade de que me escalem e não penso nisso. Seis meses atrás, a Globo me chamou e renovamos meu contrato até 2009. O problema é que eles esquecem de pessoas incríveis e depois as reelegem. Foi assim com a Ângela Vieira e a Eliane Giardini. A Globo cansou de mim", diz. "Não é o momento ideal, mas se a Globo me chamar para um trabalho, eu irei como um bom soldado." A afirmação de Maitê parece ter menos a ver com possíveis mágoas e mais com o caminho alternativo à arte de interpretar que ela tomou.

Além do livro, ela resolveu redigir, produzir e atuar na peça Achadas e Perdidas, que está em cartaz em São Paulo. Mais: desde agosto, passou a integrar a roda de discussões do Saia Justa, programa do canal a cabo GNT, no qual opina sobre os mais variados assuntos todas as semanas. Maitê confessa não se sentir à vontade ao lado da ex-modelo Betty Lago, da filósofa Marcia Tiburi, da jornalista Mônica Waldvogel e da cantora Ana Carolina. "Não estou totalmente ali. Precisamos nos gostar ainda, de verdade, para ficarmos mais relaxadas", afirma. "Opiniões diferentes não me incomodam. Me incomoda o fato de outra pessoa não ter nenhum interesse no que você está dizendo e ter uma certa irritação do tipo: 'Lá vem ela de novo com aquele assunto chato pra caramba'."

Com tantas novidades, Laos poderia ser apenas mais um destino exótico no passaporte da atriz. Mas, para Maitê, é algo vital agora. "Vivo um momento de estresse. Não consigo ter uma rotina, não consigo relaxar", afirma ela, sem sinais físicos de cansaço. Não se vê olheiras debaixo do azul turquesa de seus olhos e o jeito de falar é manso, pontuado por gestos e agradáveis sorrisos. Maitê viajará acompanhada de Rodrigo Paiva, 42, assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), seu namorado há três anos. Será a primeira vez que ele embarcará numa genuína viagem de Maitê Proença, alguém que desde os 13 anos tem prazer em conhecer "lugares esquisitos" na América Latina, Central, Europa, Ásia, Escandinávia.

"Vou para Laos por amor", diz Rodrigo. "Imaginei passar as férias num super-hotel no Havaí, tomar sol, pegar onda. Mas estou me convencendo de que será bom para o lado espiritual." A programação da viagem, que também inclui o Vietnã, será feita pela atriz. E ela deixa claro que os "aparelhinhos do namorado terão de ficar no Brasil, caso contrário vai rolar sangue na Asia".
Rodrigo Paiva, dono de quatro celulares, os tais aparelhinhos, sabe que a namorada e os telefones dele não se dão. "Antes de eu conhecer a Maitê, meu celular ficava ligado 24hs. Agora, quando entro na casa dela é como se eu passasse pelo detector de metais". Maitê conta que, quando vão para seu sítio, o celular do namorado às vezes toca - ou melhor, vibra. "Rodrigo põe para vibrar, sai correndo e vai atender no banheiro. Finjo que não percebo", diverte-se ela.

Rodrigo, ela diz, não tem o hábito do silêncio e Maitê não vive sem.
Por isso, ela acha melhor cada um viver em sua casa, com seus hábitos - ainda mais neste momento em que ela está "chatíssima". "Por que temos de nos submeter a agressões? Por que não chegar em casa e poder relaxar, tomar banho e não ter ninguém por perto para sair conversando? Entrar no quarto e não ter ninguém vendo televisão?", pergunta. "Eu odeio televisão! O Rodrigo pode ver televisão, é trabalho dele, mas pode assistir na casa dele! Sendo assim, é mais fácil casas separadas."

Maria Proença, igualmente viajada como a mãe, fará um programa menos exótico no final do ano. Irá com o pai, Paulo Marinho, esquiar nos Estados Unidos. "Maria é pouco parecida comigo. Mas tem o gestual, o jeito de olhar e a linha de pensamento semelhantes", diz Maitê, que não gosta de contar passagens da vida da filha. Rodrigo, porém, revela que a adolescente gosta de futebol. "Ela me pediu e eu a presenteei com seis camisetas do Brasil, autografadas pelos jogadores, depois da Copa, para ela dar aos amigos", conta o namorado de Maitê. "Ela deve ter orgulho do namorado da mãe. Deve gostar de mim porque tenho amor e respeito a mãe dela."

E Maitê demonstra sentir o mesmo pelo namorado. Exemplo prático: ela retirou da programação de fim de ano um passeio de bicicleta que sonhava fazer pelo Vietnã. "Um cara que passou três anos viajando de bicicleta me falou que as pessoas lá atiram pedras em quem passa pedalando", conta a atriz. "Não contei isso ao Rodrigo, mas resolvi excluir do roteiro."

Produção de moda: Bianca Zaramella e Livia Rabani

Agradecimentos: Adriana Barra, Lilla Ka e Arezzo Cabelo e Make up: Adilson Vital