Esse trabalho reflete o que você pensa da velhice?
1 A velhice contem todas as idades e por isso é um momento tão rico da nossa existência. Escolhi esta fase porque dali pode se falar de tudo com autoridade e sem as cerimônias e os cuidados característicos de outras idades. Não há tempo a perder, nem vontade de seduzir por seduzir. Chega a ser cômica a forma como idosos dizem as coisas na lata, e as vezes até cruel. Minhas velhas tem disso. E são duas senhora inteligentes, de pensamento arejado.
Você continua muito bonita, qual o segredo para emanar tanta beleza?
Você está dizendo...eu costumo enxergar outros aspectos não tão lisonjeiros. Mas vá lá, além de tudo que todo mundo diz, ginástica, pilates, e alimentação saudável desde sempre, eu gosto de gostar do que estou fazendo, dou um jeito dentro de mim pra ter prazer. Se fosse Eva e não houvesse ninguém no mundo pra me olhar, ainda assim eu faria sempre o meu melhor em todas as coisas, e se não desse certo, bom... aí eu tocaria pra frente sem sofrimento. Não sou de remoer, aceito e toco em frente com alegria. E sou muito interessada em tudo a meu redor. Acho que isso embeleza.
Você tem medo de envelhecer?
Não tenho. Não é do meu temperamento pensar no futuro, vou considerando a medida que vai chegando. Conheço velhos extraordinários, a gente olha pra eles e não pensa na decadência, e sim, em como são vibrantes, modernos, interessados, bem dispostos, experientes.
Quem viu a peça garante que sai do teatro emocionado. A que você atribui isso?
Não é um caça níquel qualquer. Isso que estamos trazendo para o Maranhão é o melhor que tenho a oferecer. A peça faz pensar, e as reflexões brotam do riso e da poesia que há na direção. Eu atuo ao lado de Clarisse Derziê que é uma grande comediante. A direção também é minha junto com outra Clarice, a Niskier. Busquei o olhar da Niskier a me auxiliar pra que tudo fosse ainda mais bonito e sensível. Meu texto é curto, conciso, a peça dura 1h15m, o suficiente pra encantar sem cansar.
Sair de casa pra voltar do jeito que se saiu não vale o passeio, tem que mexer, comover, fazer rir e chorar.
Durante as suas pesquisas para o texto o que mais te marcou?
Há várias histórias na peça, todas são relevantes. Falamos muito abertamente de sexo, das diferenças entre homens e mulheres, do abandono, do que é bom e ruim. Em tudo há imensa franqueza, e as conclusões ficam sempre a cargo do espectador, longe de mim vender verdades.
Além do teatro em que você está trabalhando também?
Escrevi um livro – meu terceiro - que estarei lançando após os espetáculos, no saguão do teatro. Chama-se É duro ser cabra na Etiópia, é quase um livro de arte com uma pegada cômica. O título surgiu de uma conversa à toa em que especulávamos sobre as origens do café. Um pastor de ovelhas no norte da África teria percebido suas cabras mais espertas ao ingerirem uns grãos vermelhinhos, e por isso, aguardava a sobra da digestão dos frutos, colhia e cozinhava para sentir o mesmo efeito em seu próprio corpo. Com pena das cabras, que nem pra atividades primordiais tinham mais a paz necessária - soltei a frase, "é duro ser cabra na Etiópia".
A frase veio do acaso, e naquela noite me ocorreu novamente numa peça de teatro de improviso. Estava rendendo. Achei que um livro com este título só faria sentido se eu também me impusesse, como condição, trabalhar com um material surpresa. Então criei um site para a recepção, via internet, de textos e imagens de autores desconhecidos. Para ser coerente eu teria que 'costurá-los' também de forma inusitada e cômica, já que estas eram duas das regras para seleção do material enviado (deveria ser inédito e conter humor). De 2000 textos que li, selecionei os 170 que estão no livro. Depois recebi também imagens e até a capa veio por este caminho. Agrupei e ordenei tudo de forma também cômica. O processo demorou 3 anos e o livro acaba de ficar pronto. Está divertido e lindo!