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As Helenas de Manoel Carlos

Site GShow.com - jan/14
 
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A fala mansa e o jeito simples da Helena de Maitê Proença conquistaram o Brasil quando a novela Felicidade foi exibida, em 1991. Apesar do apelido delicado, “Leninha”, Maitê lembra que sua Helena passou longe da heroína perfeita. Durante uma entrevista ao site realizada no Copacabana Palace, a atriz comentou sua relação com Lilian Lemmertz e falou da realização por ter iniciado a série de homenagens à primeira Helena de Maneco.

Você foi a segunda Helena de Manoel Carlos. Quando recebeu o papel da protagonista, tinha apenas a atuação de Lilian Lemmertz como referência. Teve alguma inspiração nela para compor a sua Helena?

MP: Sempre tive grande admiração pela Lilian. Eu tinha encontrado ela no início da minha carreira dentro da TV Globo, conversado e gostado muito dela. A Lilian era uma mulher ampla, sem preconceitos. As pessoas, geralmente, já vêm com uma ideia pré-concebida das outras, ninguém tem tempo e nem curiosidade pelo comportamento alheio, para enxergar quem é que de fato está ali. E a Lilian não. Ela era aberta e generosa.

Depois de você vieram outras seis Helenas. Você imaginou que essa personagem faria parte de uma série?

MP: Nunca imaginei e não sei nem se o Maneco imaginou que essa personagem ia virar uma marca. Acho que ele estava apenas prestando uma homenagem para a Lilian. E adorei poder prestá-la. A novela fez tanto sucesso que quando acabou foi vendida rapidamente para 70 países. E foi vendida fora do Brasil como Helena, não como Felicidade, tamanha a força da personagem. A minha Helena era uma personagem que errava muito. Quando ela queria acertar, ela errava. Ela agia de forma torpe com a própria filha, que era uma criança. Ela se descabelava, dizia coisas desagradáveis, ela não era uma heroína perfeita como até então se fazia. A Helena era uma mulher com quem as outras podiam se identificar. Por ser tão cheia de falhas, e dessas falhas também carregarem qualidades, a Helena funcionou tão bem no mundo inteiro. Eu acho que foi a partir daí que o Maneco teve a luz de replicar essa personagem e replicou por mulheres incríveis. Chamou a Regina Duarte, que fez três Helenas. A Regina é a nossa rainha. Chamou a Vera, a Torloni, a Taís Araújo e agora a Julinha (Lemmertz), que vai encerrar o ciclo que começou comigo fazendo uma homenagem à mãe dela.

Em que aspectos você se identificou com a sua personagem?

MP: Eu, por um acaso, tinha algumas coincidências com a personagem. Primeiro, o fato de a minha filha estar com a mesma idade da filha da Helena. Quando a filhinha dela fez um ano, a minha também estava fazendo um ano, então eu também era mãe recente, estava com a questão maternal aflorada dentro de mim. Outra coincidência era que a Ariclê Perez, que fazia a minha mãe na novela, tinha sido aluna da minha mãe na vida real. Havia toda uma trama por trás que fazia eu me identificar com aquela personagem muito fortemente.

Para a sua carreira, qual foi a importância de ter interpretado uma das Helenas de Manoel Carlos?

MP: Acho que estou em um rol de mulheres extraordinárias, que depois personificaram a personagem e isso é muito lisonjeiro para mim. Ainda mais por ser o Maneco, de quem eu gosto muito do texto, e por ter tido tanta qualidade. A Helena que eu fiz, que foi a segunda, possibilitou todo o rol de Helenas que veio depois. Então eu fico muito feliz.

Além de atriz, você é também escritora. O Manoel Carlos foi um dos autores que te inspirou?

MP: Sou uma leitora voraz, então não sei exatamente quem é que me inspira porque se eu estiver escrevendo e, ao mesmo tempo, lendo alguém que eu goste muito, é inevitável que eu sinta alguma interferência, mas elas são muitas. Certamente a admiração que eu tenho pelo Maneco interferiu não só na minha escrita, como na minha vida. O fato de ele conseguir atravessar essa barreira da heroína perfeita para uma heroína cheia de falhas faz dele um homem de coragem. Coragem é uma coisa que me inspira. É difícil autores que gostam do mundo subjetivo, que gostam do comportamento humano, como o Maneco gosta. O que interessa a ele é o comportamento e a relação entre as pessoas. Isso é muito bem-estruturado, tanto que o texto dele é muito fácil de falar. Com o Maneco você concorda sempre, porque ele pensou junto com você. O que você está dando para ele serve de elemento para ele escrever a próxima cena. É uma interação, é um namoro, é um diálogo, é o resultado de como você tratou a cena que estava escrita.

http://especiaiss3.gshow.globo.com/novelas/em-familia/as-helenas-de-manoel-carlos/#Maite-Proenca