A A A
Maitê Proença escreve, dirige e atua
em espetáculo

Site globoteatro - Março/2013

Com mais de 30 anos de carreira, Maitê Proença é sinônimo de sucesso. A atriz é reconhecida por sua trajetória profissional – que contabiliza cerca de 50 produções entre filmes, novelas e minisséries, além de participações como apresentadora de programas jornalísticos. Com 55 anos recém-completados, Maitê também chama atenção pela sua beleza e jovialidade. Por isso, surpreende o público na pele de uma senhora de 86 anos no espetáculo “À Beira do Abismo Me Cresceram Asas”, que estreia dia 8 de março, no Teatro do Leblon. A atriz também assina o roteiro e a codireção da peça, ao lado de Clarice Niskier, e conta com a supervisão de Amir Haddad.

O texto da montagem tem como ponto de partida histórias reais, colhidas por Fernando Duarte em diferentes asilos do Brasil. No entanto, as lamúrias do final da vida são deixadas de lado e dão espaço para ideias e conceitos presentes hoje no pensamento da atriz. Em cena, a casa de repouso vira cenário para Maitê expor reflexões sobre amizade, velhice e relativização da vida.

– Uma das preocupações que tivemos foi não compor a caquética, com voz de velhinha, trejeitos e outras chatices. Essas velhas teriam que vir de dentro, com toda a dignidade que pode haver em alguém que vivenciou as múltiplas fases da vida. Esse é um momento da vida em que se tem autoridade para ser como se é, sem as cerimônias e concessões que normalmente são feitas ao longo da vida, supostamente, para um melhor convívio social. Pareceu interessante criar personagens a partir deste estado, quando parentes não estão por perto e o que sobra são os pensamentos, as memórias e amizades verdadeiras. É um bom terreno para expor o que eu penso hoje – explica Maitê.

Teresinha e Valdina são as protagonistas do espetáculo. A primeira, interpretada por Maitê Proença, tem 86 anos e um temperamento carrancudo, ainda que bem resolvido. Já Valdina, papel de Clarisse Derzié Luz, tem 80 anos e parece levar o fim da vida com otimismo e sem muitas nostalgias. Está sempre feliz e comemorando, mas esconde um grande segredo. Em comum, a praticidade dos que aprenderam a simplificar a vida, já que não há tempo para complicá-la. E a grande e indispensável amizade que se desenvolveu pelos anos de convívio dentro de uma casa de repouso.

– As duas vivem há décadas no mesmo asilo e criaram uma relação muito intensa. Uma complementa a outra. E elas chegaram a um ponto muito interessante da vida. A verdade é que quando levamos um susto e olhamos para a morte de frente, passamos a ter uma perspectiva mais justa sobre o que deve ou não ser valorizado. Hoje, eu ainda me pego às voltas com ânsias banais. Talvez daqui a uns 30 anos isso mude – reflete.

Essa é a primeira vez que a atriz dirige uma peça teatral. Por isso, convidou a amiga Clarice Niskier para acompanhá-la na jornada e o veterano Amir Haddad para supervisionar o trabalho:

– Clarice e eu não temos grandes experiências em direção, então chamamos o Amir pra fazer uma retaguarda. A gente trabalha a semana inteira, um dia entra nosso mago e desmonta a coisa, reordena, e cutuca pra irmos além. É terrivelmente delicioso! Como atriz também é bom, pois não queremos fórmulas prontas e o trabalho com Amir é uma escavação.

Maitê interpreta um personagem completamente inédito em sua carreira, assume o papel de diretora pela primeira vez e ainda ficou responsável pelo argumento do espetáculo. Será que com tanto trabalho as coisas não ficam confusas?

– Bastante confusas! (risos) A atriz precisa estar desimpedida, vulnerável, disponível para experimentar de tudo. A diretora precisa selecionar uma forma de cada vez, ponderar, determinar, controlar. São atividades contrárias. E a autora, coitada, fica ali no meio, reescrevendo cenas pra agradar uma e outra. Ontem mesmo criei todo um novo "bife" pra tornar mais compreensível e forte uma situação. Foi dito no ensaio aberto ao público, sem que houvesse tempo para experimentar antes. Ficou ótimo, mas autora havia colocado a atriz na maior saia justa. Ao final, a diretora entrou e obrigou as duas pra fazerem as pazes!