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Jornal El Nuevo Herald (Miami)

Jornal El Nuevo Herald (Miami) - Abril/2012


Com quais aspectos da personagem Stela, de ‘Passione’, você se identifica?

Quando componho um personagem busco fugir de mim. Pra que repetir a vida se posso investigar outros "lugares"? Eu compreendo a Stela na sua solidão, na necessidade de seduzir e se mostrar agradável para o outro já que para o marido ela é invisível, ou desprezível. Aventuras são menos comprometedoras e por isso os rapazes mais jovens. Só que ela cai na própria armadilha, se apaixona, e terá de fazer uma escolha complicada envolvendo a filha que ama imensamente... Afinal, é novela.

Você é uma grande atriz, escritora e viajante. Qual foi a experiência mais intensa e inesquecível de sua carreira?

As experiências recentes têm sido mais realizadoras do que as de outrora. Escrevi três peças de teatro, duas já encenadas com sucesso de crítica e público. Com As meninas ganhei vários prêmios, inclusive como autora. O amadurecimento me fez escritora, mas também uma atriz mais disponível internamente, os medos foram embora e agora me lanço muito mais inteira nos personagens. O que está por vir me apaixona, sei que poderei voar, com grande controle, por emoções cada vez mais complexas.

Existe algum aspecto da fama que você não gosta?

Eu adoraria não ter a fama. Habituei-me aos confortos que ela traz e vivo razoavelmente bem com isso, mas viajo freqüentemente pra lugares remotos onde ninguém me conhece, porque preciso descansar dessa criatura que chama atenção demais.

Você é uma pessoa que diz o que sente, mesmo que seja controverso. Você preferiria ter ficado calada alguma vez a dizer o que pensava?

Sim, teria sido menos penoso, com consequências menos desconfortáveis se houvesse me calado. Infelizmente não é do meu temperamento. Talvez o tempo me ensine, espero que sim (mas só em alguns momentos).

Alguns de seus personagens têm utilizado o sexo e a beleza como arma, por vezes em defesa própria. Você acredita que a beleza e o sexo sejam armas das mulheres?

A beleza encanta nos cavalos, em um quadro, na natureza, nas crianças, em homens e mulheres. É magnética, a gente quer olhar, quer continuar olhando, faz bem. Por isso os belos devem desenvolver outras características que acrescentem valor à beleza que lhes foi dada de graça. Sozinha ela é uma arma fugaz, cansa, acostuma.

Fale um pouco sobre seus livros e seu trabalho como dramaturga. Quando e onde escreve? É um legado de sua família?

Escrevo em casa, às vezes no trânsito. Na esteira, no calçadão, quando caminho, em geral estou organizando o que irá pro papel. Tudo sobre minha escrita, inclusive o projeto atual, “É duro ser cabra na Etiópia” (com participação de internautas), está no meu site www.maite.com.br.

Você sabe que Dona Beija foi muito popular em Cuba e hoje os capítulos da novela podem ser alugados nas locadoras da ilha. Quais são suas lembranças de sua visita a Havana? Naquela época você chegou a se encontrar com Fidel Castro? Que impressão ele deixou?

Adorei Cuba, as pessoa, as comidas, os lugares que me levaram pra dançar, os mojitos. Senti uma grande identidade entre os povos de nossos dois países, como em nenhum outro lugar do mundo, mesmo os de língua portuguesa (conheço quase todos). Estive aí quando o país estava mais folgado economicamente e senti uma leveza e alegria deliciosos na maneira de levar a vida. Não estive com Fidel, infelizmente.

Com quais aspectos da personagem Dona Beija você se identifica?

Ela tinha coragem.

A novela ‘Dona Beija’ foi um de seus primeiros sucessos. Como ela influenciou sua vida e sua carreira?

Eu já era atriz profissional havia alguns anos. Só ali descobri que aquilo poderia ser prazeroso, comecei a entender os mecanismos, a poder brincar com eles e ter algum resultado que não fosse frustrante. Antes da Beija (com sua personalidade brilhante e complexa), eu estava pra desistir. Por causa dela estou nisso até hoje.

Li na internet que você mantém um relacionamento com um homem mais jovem. Essa relação faz você se sentir especial, por quê?

Homens jovens, generalizando, têm muito entusiasmo, interesse, curiosidade por tudo. Pessoas mais velhas muitas vezes se desencantaram da vida, estão entediadas, já viram, etc... Nada é menos interessante que uma pessoa blasé. Mas os jovens podem ser muito rasos, sem as complexidades que também encantam. Difícil alguém que combine entusiasmo, alegria e leveza com vivência e densidade.

Como é sua vida no Rio de Janeiro. O que faz no tempo livre?

Ando muito concentrada querendo aprender, precisando disso. Leio, escrevo, estudo história, artes contemporâneas, literatura, assisto a filmes documentários, e saio pouco, chamo os amigos em casa. Vez ou outra dou um pulo no mar em fim de tarde. É uma fase, daqui a pouco a rua me chama, ou algum país que não conheço...

Como você mantém essa beleza eterna? Pilates? Truques?

Pilates, musculação e aeróbicos quase todos os dias. E me alimento magnificamente desde sempre. Sou uma nutricionista autodidata. Pra quebrar tomo uma cerveja ou um vinho que ninguém é de ferro, só água de coco desequilibra.

Nos conte um pouco de sua filha Maria. Ela também quer seguir a carreira de atriz? Como tem sido o papel da mãe?

Maria faz faculdade de direito, faz também um estágio em um escritório importante de advocacia do RJ, e nunca me traz aborrecimentos, só satisfação, é um fenômeno. Moramos juntas e fazemos refeições à mesa pra conversar e contar do dia a dia. Ela também tem uma relação de grande amor com o pai dela de quem sou muito amiga.

Que mensagem você daria aos jovens que querem se aventurar como atores?

Viva, viaje, vá a museus, às rodas de música, conheça bem quem não se parece com você, se encha de experiências diferentes daquelas que já formam seu cotidiano. Quanto mais vivência carregar dentro, maior o ator que você poderá se tornar. Uma vidinha mesquinha fará de você um ator igualmente mesquinho, desinteressante, comum.