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Entrevista cedida ao Diário Catarinense. Florianópolis.
Diário Catarinense – ago/14
 

1) A peça fala sobre diferentes questões na vida de duas amigas que moram num lar para idosos. Mas sobre o que realmente é a "À Beira do Abismo me Cresceram Asas"? Esses diálogos são um pretexto pra falar sobre o quê?

Elas não tem tabus. Não tem assunto que não pode, já viveram demais pra essas frescuras. O desafio, como atriz por exemplo, é não compor, não fazer a caquética com um voz de velhinha e outras chatices. As velhas têm que vir de dentro, cheias de dignidade, e tb, claro, com tudo o mais exigido pela personagens, inclusive indignidades, q ficam muito mais divertidas sem a caricatura. Há uma grande autenticidade no trato dos assuntos, e uma liberdade comovente que vai se estabelecendo pelo contraponto das duas visões.

2) De onde surgiu essa inspiração para o texto? Como você via esse universo da velhice antes de ser seu objeto de pesquisa e depois da incursão?

Recebi uma colagem de depoimentos colhidos entre idosos. No início não me interessei em transformar aquilo em teatro porque havia muita lamúria. Poderia ficar piegas e chato. Passaram-se os meses e achei que duas velhas repassando a vida seria um terreno apropriado pra tratar ideias e conceitos que andam ocupando meu pensamento. Velhas contêm todas as idades. E é uma fase em que caem as máscaras, não se tem mais cerimônia pra tratar as coisas, velho tem autoridade pra dizer o q pensa, e por isso a meu ver é tão interessante. Valdina e Terezinha têm uma à outra, e essa amizade justifica e traz graça à vida de ambas. Além do mais, óbvio, elas tem muito humor!

3) Depois de um ano em cartaz com a peça, o que mudou em você como atriz e escritora na própria ideia da peça e do tema? Quais são os próximos planos da peça? Ficam em cartaz com ela até quando?

Fomos vistos por 200mil pessoas. Em SPaulo, por ex., íamos ficar dois meses e tivemos que estender a temporada por mais 3 meses. Ainda vamos voltar este semestre por demanda do público. Tem sido assim, a peça surpreende e encanta. Nossa turnê acaba em dezembro porque eu tenho que fazer novela.

Aproveito pra dizer que meus livros estarão todos à venda no saguão do teatro pra quem se interessar. Depois da sessão ficamos por ali dando autógrafos e conversando com o público.

4) A Clarisse contracenou contigo na sua estreia como dramaturga, no "Achadas e Perdidas", e também no "As Meninas". Como é a relação de vocês? Como é a relação dela com seus textos? E em que essa parceria se reflete na dupla Terezinha e Valdina?

Nos conhecemos há mais de 30 anos. Trabalhamos juntas em muitas ocasiões. Eu amo a Clarisse. E ela fez todas as minhas peças porque é uma grande atriz e uma esplêndida pessoa.

5) Para quem acompanha seu trabalho, você sempre fala de estar bem resolvida com envelhecer. Como essa experiência está acontecendo pra você – dentro de sua biografia riquíssima de vivência e experiências tão únicas e especiais?

Nunca disse estar bem resolvida, podem ter colocado na minha boca. Eu convivo com a morte de gente próxima desde muito cedo, quase todos os meus se foram, a maior parte de maneira trágica. Então não fantasio e nem dramatizo, respeito. Tento viver o presente da forma mais verdadeira possível, encarando meu quinhão e sendo produtiva, pra que a vida não seja experimentada como um desperdicio. Busco fazer desse negocio uma experiência rica, já que sentido não tem mesmo, e nem sabemos o porquê de estar aqui. Ainda assim eu gosto dela e trato ela bem (rs).

6) A sua carreira sempre foi muito intensa na televisão e nos palcos. Hoje, o que você mais curte fazer? Ou em qual deles você pode explorar facetas diferentes?

O palco libertou a atriz que eu sempre precisei ser mas não estava preparada. Ali eu experimento todas as possibilidades de erro pra chegar ao acerto maior. É um processo de escavaçao. Indispensável pra mim nesse ponto da vida. Também fica cada vez mais difícil expor um trabalho que não fale de assuntos que me pareçam pertinentes, com o devido humor e bom gosto. Assim, fica mais fácil escrever meus próprios textos. Todas as tres pecas que escrevi tiveram êxito de critica e publico, e todas foram premiadas. Com As Meninas, escrita em parceria com Luis Carlos Goes, ganhamos o premio APTR de melhores autores. O caminho independente me serve ao propósito, faço o que gosto, como gosto, e ainda recebo uns tostões pq sou eu que produzo.

7) O programa Extraordinários foi um sucesso de público, que vai retornar para o SportTV em setembro. Já pode adiantar se vai ter mudanças no formato, além do aumento de duração? E o tema-base vai ser futebol ainda?

Coloquei como condição pra participar do pgma que não tivesse que assistir a nenhum jogo. Acabei vendo todos, inclusive os que não eram com Brasil. Fui duas vezes ao Maracana. E amei cada minuto. Aquilo é muito mais do que onze de cada lado correndo atras de uma bola. Entendi finalmente! Aprendi a ver o que esta se armando em torno da bola, e tudo se transformou. Antes eu olhava só a bola.

O Sportv quer manter o pgma, estamos buscando uma forma pra continuar. Precisa ser ao vivo e é complicado conciliar as agendas dos componentes. Estamos tentando, vontade existe, e há muitas ideias novas pra próxima temporada.