A A A
Maitê em fase de paz e amor

Revista Caras - 1997
 

Maitê Proença (38) nunca esteve tão bem. Fisicamente continua a mesma maravilha. Mas, em termos de tranqüilidade, quanta diferença. No último ano a atriz mudou sua vida. O primeiro passo foi o casamento com o fotógrafo Edgar Moura (48). Já bem acompanhada, a atriz passou a viver a maior parte do tempo reclusa em seu sítio em Nogueira, região serrana do Rio, comprado na mesma época. De quebra, parou de fumar e beber.

"Vejo pessoas que num repente se transformam. Eu não sou assim. Comigo tudo acontece mais lentamente. Passo por um processo, geralmente longo, que desemboca numa maneira diferente de usufruir a vida."

Durante os últimos meses, Maitê optou por dar prioridade à vida pessoal. Só fez participações em A Vida como Ela É, se cuidou e tomou conta de seu marido e da filha única, Maria (6). "Um amor bem resolvido faz a vida acender e render. Sobra tempo para trabalhar e repensar tudo com serenidade. Estou redescobrindo coisas importantes a meu respeito e sobre o mundo."

Junto, Maitê e Edgar pintaram as paredes da casa, fizeram festa para os amigos e transformaram o lugar no melhor cenário para viver o novo amor.

Entre decorar a casa, com a ajuda da arquiteta Isaura Kallas, escolher pedras para o jardim e passar horas no computador, escrevendo seu primeiro livro, a atriz abriu uma exceção para as filmagens de A Hora Mágica, dirigida por Guilherme Almeida Prado (43). "Fazer cinema de novo me agrada imensamente", diz. Prazer tem sido a palavra de ordem na sua vida. Passeando pelas alamedas de seu sítio, de chinelo de dedo, transbordando paz de espírito, ela falou para Caras:

— É no sítio que você tem paz e fé?

— Creio num Deus que habita todos os lugares, não preciso estar lá para me aproximar dele. Sou muito religiosa, mas sem uma doutrina única. Minha espiritualidade abrange aspectos de todas as tendências esotéricas de que tive conhecimento.

— Como está sua relação com Edgar?

— Boa e prazerosa. Estamos muito juntos. Decidimos trabalhar menos por um período de tempo e desfrutar o convívio íntimo da família que formamos. No sítio, trabalhamos no computador, andamos a cavalo, cuidamos do cachorro, inventamos moda, fazemos bagunça e tudo aquilo que todo mundo faz.

— A sua filha, Maria, está gostando dessa nova fase mais caseira?

— Bom, já voltamos para o vai-e-vem, Rio, serra, São Paulo, o mundo... Minha vida com ela é muito importante. Quero ter ainda mais tempo para conversarmos como eu gosto, sem ser uma mãe didática que tem de espremer mil ensinamentos em cinco minutos. Criança não tem paciência para ouvir a gente explicando muito. Tudo é bem absorvido no meio de brincadeiras. Dificuldades se dissolvem em meio a uma conversa fiada às vezes, onde os ânimos estão mais relaxados.

— Você mantém os cuidados com o corpo?

— Faço ginástica todos os dias na academia por disciplina, mas acho chato. Sair de casa para ficar numa sala cheia de mulheres correndo e suando! Na serra ando em terreno acidentado e sigo uma alimentação saudável. Minha cozinheira, Zezé, é bárbara e faz desde uma saladinha até salmão com trufas.

— Seu livro é de memórias?

— Estou escrevendo um livro, mas não se trata de uma autobiografia nem de um livro de memórias, muito menos um manual de beleza e interpretação. É isso que posso dizer a respeito por enquanto.

— Como é o seu processo de criação?

— É custoso. Às vezes me sento em frente ao computador e minha alma parece o deserto do Saara, não há uma linha, uma frase. Eu sento e espero a musa baixar e o pensamento fluir. Essa disciplina faz as idéias aflorarem. Muitas coisas aparecem na hora em que vou dormir. Daí eu levanto e anoto tudo num caderninho, que deixo na mesa de cabeceira. Além disso, guardei papéis antigos, referências de escritores, idéias que me encantam.

— Você é uma atriz de carreira brilhante, está escrevendo um livro e já cantou na televisão. Quantos talentos!

— Adoro cantar. Minha mãe era delegada cultural em Campinas e mais outros sessenta municípios. Ela tinha formação musical e supervisionava as orquestras da região. Minha casa vivia cheia de músicos, ela ia para o piano de cauda e tocava maravilhas, era animado. Como conseqüência eu também estudei canto, piano, todas as flautas e violão clássico. Ficou o gosto e a saudade, porque parei antes de me especializar.

— Você tem medo da velhice?

— Ninguém gosta. Ela me assusta. Inclusive porque no Brasil é triste ser velho. Viajei muito pelo Oriente e é normal pessoas de 80, 90 anos levarem uma vida comunitária. Por filosofia de vida, não esperam pela ajuda dos jovens. Lá é comum ver um monte de velhinhos se exercitando, levantando o pé na cabeça, na praça, e depois se sentando para tomar café da manhã e conversar. Aqui, os velhos ficam parados na frente da televisão, com doenças da falta de movimentação.

— A compra desse sítio foi pensando em sua velhice?

— Por temperamento, não penso no futuro. Essa forma de viver cada momento a seu tempo é uma defesa contra a frustração. Comprei o sítio porque passei a vida inteira morando em casa. Como desde que me mudei para o Rio vivo em apartamento, queria isso de novo. Para mim e para minha filha. Gosto que ela tenha uma vida sem frescura. Quero que ela brinque com crianças acostumadas com a roça. Brincadeiras que não são sofisticadas, como desmanchar uma caixa e sentar em cima para escorregar na grama.

— Você está mais reclusa?

— Saio pouco à noite. Até gosto. Se tivesse uma varinha de condão que fizesse um "plim" e me colocasse numa festa, toda vestida e, de quebra, com duas cervejinhas já tomadas para tudo estar mais colorido, eu sairia sempre. Mas, como ainda não consegui esta artimanha, e porque, atualmente só bebo água mineral, prefiro o colorido do sítio.

— O que de diferente da sua vida você queria para a Maria?

— Sou como sou por causa de tudo que me aconteceu até então. A vida da Maria será diferente porque ela nasceu numa outra época, em outra família, em outras circunstâncias... Eu quero ela viva a vida dela e seja tão agradecida quanto eu sou.

— Você quer mais filhos?

— Adoro filhos. Queria ter dez. Mas sou um pouco "devagar" para fazê-los. Se o outro não demorar dez anos, como Maria, quem sabe... Se Deus quiser... Mas pode ser sim. Atrizes não podem falar em ter filhos porque a televisão fica histérica. Nesses tempos de tantas atrizes grávidas, devem estar pensando em colocar anticoncepcional no cafezinho que servem para a gente (risos).