1. Em "É duro ser cabra na Etiópia", você revela um trabalho de editora.
Como se deu a ideia e como foi o processo de escolha dos textos?
Andei estudando a arte contemporânea, passei dois anos visitando Feiras como a Documenta, Art Basel, Zona Maco etc., pra compreender a queda beleza como critério de avaliação de uma obra, e a ascensão de uma ideia, um conceito, hoje ingrediente indispensável na criação artística. Quando me surgiu a ideia do livro estava imersa nesse movimento das artes plásticas, que me interessa apesar de não ser meu setor específico. A frase veio do acaso, durante um almoço em que especulávamos as origens do café, oriundo das fezes de cabras etíopes. Não é bem isso, mas ficou sendo, e, com penas das criaturas, que nem pra suas necessidades mais elementares teriam a paz necessária, disse a frase que virou título do livro. Naquela noite a frase me ocorreu novamente numa peça de teatro de improviso em que a plateia oferecia uma palavra ou frase: soltei a minha. Estava rendendo aquela frase, pensei que seria um bom título, mas pra que? Um livro com este título só faria sentido se eu também me impusesse, como condição, trabalhar com um material surpresa. E então criei um site para a recepção de textos e imagens de autores desconhecidos. E eu teria que 'costurá-los' também de forma inusitada e cômica, já que estas eram duas das regras para seleção do material enviado (deveria ser inédito e conter humor). É um livro que segue uma coerência conceitual, e que, no final de tudo resultou também lindo, cheio de imagens, textos à mão, grafismos diversos.
2. Quais os autores nos quais você se inspira para escrever?
Não sei, mas certamente fico influenciada pelo que estou lendo de bom no momento. Tenho lido Javier Marías, o espanhol que será certamente um dos próximos laureados pelo Nobel, mas gosto também de Isabel Allende. Há de tudo, o Leminski, por exemplo, que entrou na moda ultimamente, mas também a poesia da Adélia, Drummond, João Cabral. Tudo me encanta, assim como livros de história, romances históricos ou a vida de personalidades que marcaram, Churchill, Napoleão, por aí vai.
3. Como é seu processo criativo? Como escreve, que horas, onde? Tem disciplina?
Tenho disciplina e preciso dela. Preciso me trancar e não ser interrompida. Nunca consigo o ideal, mas sigo tentando. Se eu pudesse escreveria de madrugada só que sinto sono, e arrebenta com o dia seguinte, eu amo o sol, preciso da luz, então não rola. Acabo me trancando no escritório às tardes. 'Escrevo' muito também caminhando, elaboro a coisa toda, depois, quando sento em frente ao computador trabalho os detalhes da forma. Outro dia, a moça que cuida da academia em que caminhava numa esteira, me perguntou se eu precisava de uma água, disse não, se eu precisava de uma música, disse não, se eu queria a tv ligada... irritada, disse, "não! estou escrevendo". A pobre não entendeu nada, eu também não expliquei, continuei escrevendo :-)