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Amiga

1985
 

Atraída pela instigante personalidade de uma cortesã mineira do século XIX, Maitê Proença saiu da TV Globo e se aliou à Manchete no projeto mais ousado da emissora. Com a estréia de Dona Beija, primeira novela produzida pela TV Manchete, o público poderá assistir ao trabalho desta atriz que não teme os riscos nem as críticas. Muito pelo contrário: ela prefere quando a vida se apresenta cheia de questionamentos e supresas. Maitê, 27 anos, é capaz de ir ao fim do mundo e de se lançar na mais louca aventura por um bom trabalho. "Me dá uma angústia profunda saber que estou presa a atriz. Além disso, detesto a estagnação e preciso mesmo de sobressaltos e de coisas inesperadas."

Como é que foi a preparação da atriz Maitê Proença para viver com emoção e verdade a estória de Dona Beija?

— Eu já tinha uma certa intimidade com essa época, com a estória de Dona Beija, porque ela é uma contemporânea da Marquesa de Santos.

Eu ia fazer a série na Globo, mas eles suspenderam o projeto. Agora, a Manchete resolveu fazê-lo e eu reacendi um pouco a minha memória lendo o livro do Thomas Leonardos, A Feiticeira de Araxá, e o do Agripa Vasconcellos, que são biografias de Dona Beija.

E o que tem essa estória, essa mulher, de tão instigante que levou duas emissoras de TV a se interessar em produzi-la e que, principalmente, fez com que você aceitasse o papel?

— Acho muito importante o fato de poder retratar um pouco a História do Brasil através de um veículo tão abrangente como é a televisão. Neste país as pessoas têm tão pouco acesso à informação...

Se levarmos em consideração o tempo que você tem de carreira (sete anos), Dona Beija é uma personagem difícil, que tem toda uma impostação, os gestos são medidos e o falar tem que estar em harmonia com a época...

— A personalidade da Beija é extremamente instigante. Para uma atriz, não é somente uma personagem, é um prêmio. Ela é uma pessoa "avant-garde" para a época, as atitudes dela eram muito controvertidas até para ela mesma. A Beija agia contra a sua própria moral e o seu estímulo interior eram o rancor, o ódio e uma necessidade de se vingar do que lhe foi imposto pelo destino. Ela não é uma personalidade linear, não é uma pessoa que faz o que quer; ela é uma pessoa que faz também o que não quer para dar um troco aos homens e à sociedade, e isso tudo a torna muito conflituada. E dosar emoções tão contrastantes numa personagem assim é muito instigante.
Qual o compromisso do artista com essa retratação da história, com o resgate de valores, de épocas...

— A arte é uma forma de expressão das mais louváveis e das menos nocivas. Não é como um movimento de quebra-quebra na rua que tem seus frutos e que tem também seus pontos claudicantes. Você faz um movimento popular quebrando coisas por um desapreço que se tem em relação a uma determinada situação, é uma coisa emocional de uma população que está sendo massacrada. A Arte é um veículo de expressão que carrega com ela beleza e emoção. Através de sua arte um povo expressa tudo o que tem de mais genuíno.

As telenovelas estão aí, ocupando um largo espaço na programação e distribuindo para todo o País conceitos de vida, de moda, ideologias... Você acredita que a televisão enquanto um veículo de massa poderia ter uma programação mais elucidativa e menos comprometida com interesses comerciais?

— Acho que as telenovelas brasileiras estão mudando de fisionomia, e o sucesso de Roque Santeiro mostra isso. As pessoas se aperceberam de que o Brasil está num outro estágio - com abertura claudicante ou não. O claudicante fica por conta do veto ao filme. Dessa estória de Je Vous Salue Marie. O país vinha muito bem no plano das idéias e muito mal em tudo o que se refere a números: déficits, inflação, de desemprego e tal. Agora, parece que com esse novo pacotão a situação se inverteu. A princípio, estou aplaudindo de pé as medidas que foram tomadas no plano econômico, mas estou também bastante decepcionada com essa estória toda que está se fazendo em torno desse filme. Acho que a pressão da Igreja é completamente injustificada; o Godard tem mais o que fazer do que ficar achincalhando a imagem da Virgem Maria; acredito que a idéia dele não era essa. Quem conhece a obra do Godard sabe que há coisas mais importantes na cabeça dele, e a Igreja devia ter mais o que fazer do que ficar criando essa guerrinha inútil em relação a um filme que não denegre em nada a imagem de Maria. Acho que a gente tem que conhecer as coisas para avaliar, a partir do nosso próprio conhecimento. Não se pode deixar de ter esse acesso por causa de um veto superior. Ninguém é obrigado a ir a um cinema e comprar um ingresso para ver um filme. E em não indo, como que a pessoa pode sentir-se agredida por um filme sem tê-lo visto?

É um retrocesso no processo de redemocratização do País?

— Eu não sei se no bojo dessa estória toda, dessa polêmica, possa haver um retrocesso mesmo, porque está havendo uma movimentação da classe artística contra o veto de Je Vous Salue Marie. Acho que o governo será mais tímido em relação a vetos posteriores, mas, de qualquer forma, essa medida, mesmo de forma isolada, não me agrada em nada.

A sua participação política nos comícios, nas comissões que se dirigiram a Brasília com reinvidicações para a classe artística, assombraram algumas pessoas que achavam que Maitê Prença era somente um rosto bonito, uma mulher bonita que vinha se saindo bem profissionalmente...

— Acho que a população inteira se envolveu; me envolvi mais como cidadã do que como artista. É claro que como artista e pessoa pública eu posso veicular minhas idéias e ser ouvida, mas as minhas idéias, nesses momentos, estavam em sintonia com toda a população do País.

Você se sente com excesso de cobranças porque, enquanto artista, tudo o que você fala é super valorizado e tido como verdade absoluta?

— A meu ver, o artista deve participar quando está absolutamente convicto de uma causa, e não vale participar aleatoriamente ou levianamente, porque ouviu o galo cantar e não sabe onde. O artista tem sim uma responsabilidade um pouco maior, porque há milhares de pessoas que lhe dão crédito. É assim que tento percorrer nessa aréa da política.

Você conduz o seu trabalho no sentido de, além do aprimoramento pessoal, contribuir para a conscientização social e política do público que te assiste?

— O meu trabalho eu escolho a partir do meu interesse pessoal, e o meu interesse pessoal talvez esteja voltado para coisas que me parecem ser importantes. Às vezes importantes no plano emocional, outras vezes no plano político. Tudo o que possa modificar conceitos estagnados e verdades absolutas, seja através de qualquer forma de expressão (não precisa ter aquele tom pesado e panfletário), me parece ser um gesto político. Mas eu não penso nisso quando estou escolhendo um trabalho, tudo isso é muito intuitivo em mim.

Já aconteceu então de você optar por um trabalho e depois se arrepender por não ter alcançado nem os objetivos pessoais nem os profissionais?

— Às vezes, no meio de um trabalho, eu me sinto desagradada porque descubro que não tenho por que fazê-lo. Uma época fiz uma novela em que chegou uma hora que o único sentido que me ligava a ela era a de absoluta inutilidade.

Você não demonstra aquela preocupação normal do artista com a instabilidade de emprego e acaba fazendo a sua carreira ao seu jeito. Descartar um contrato com a Globo e optar por trabalho em outras emissoras não é um risco?

— Acho que um personagem bom a gente deve fazer em qualquer lugar. Se me entusiasmar, se me mexer as víceras, eu vou fazer seja como for.

Não te preocupa, por exemplo, como vai ser a sua vida profissional quando terminarem as gravações de Dona Beija?

— Não, e acho que isso é uma questão de temperamento. Não gosto de fazer contratos longos porque me dá uma angústia profunda saber que estou presa. Eu prefiro a instabilidade eventual do que a estabilidade compulsória. De repente, eu posso querer fazer teatro no Japão, e como é que eu vou fazer? Admito que a possibilidade é um tanto remota de eu fazer teatro no Japão, até porque não falo uma palavra de japonês, mas e se acontecer? E se eu tiver presa? Eu posso me sentir estimulada num sentido totalmente imprevisível para mim nesse momento e eu sei que o meu temperamento é muito assim... de uma hora para a outra a minha cabeça dá uma volta de 360 graus. Eu nunca tive uma vida muito estável em nenhum nível; não sou amiga da estagnação. Vai me dando um tédio... Eu preciso um pouco de sobressaltos, de coisas inesperadas; do tipo: "E agora, será que ninguém nunca mais vai me chamar? Será que nada vai acontecer?" Essas questões me levam a agir contra uma certa tendência à imobilização, a ficar parada, esperando que as coisas caiam do céu.

Você sempre conseguiu conviver bem com o teu temperamento instável?

— Não sei se o meu temperamento fez com que eu fosse profissionalmente assim ou se as circunstâncias da minha vida impuseram esse temperamento. Nunca parei para pensar se eu sou assim porque as circunstâncias me levaram a isso. É lógico que, em determinados momentos, sinto uma certa insegurança, mas aí eu vou fazendo por onde e as coisas vão acontecendo. A insegurança gera uma paixão quando as coisas se resolvem e uma gratidão por elas terem se resolvido. Quando tudo fica estagnado e você tem certeza que a sua vida está resolvida pelos próximos 20 anos, fica sem paladar novo. Lógico que eu tenho uma situação confortável no sentido de que eu não tenho filhos... se, de repente, com esse meu temperamento, eu tivesse três filhos para criar e não sei se daqui a seis meses eles vão ter o que comer, a situação ficaria mais problemática.

As pessoas que convivem com você compreendem esse temperamento instável ou você tem problemas de relacionamento por causa disso?

— É uma coisa muito pessoal, acho que não interfere na vida das outras pessoas.

Quer dizer então que Maitê Proença não consegue se imaginar daqui a dez anos?

— Ah, não... Eu não tenho muito interesse no que vai acontecer daqui a dez anos. Eu tenho uma sensação de que sou uma pessoa que tento percorrer dentro da profissão com a maior dignidade possível. Tento ser boa moça e acho que consigo... (Muitos risos.) Falando sério, eu tenho muito respeito pelas pessoas que me cercam. De uma maneira geral eu gosto das pessoas, tenho apreço pelo meu próximo e, quando me olho à distância, essa é das coisas que gosto em mim. Tento ser um bom-caráter e fazer as coisas com dignidade. Sou cheia de falhas; pelo amor de Deus... não me entendam mal, mas acho que nos próximos dez anos, pra voltar à sua pergunta, esses são pontos em que não terei que me policiar tanto.

Você já encontrou o sentido maior da tua vida? Acredita em destino, predestinação...?

— Eu tenho um respeito profundo por essas coisas tocantes a espiritualidade. Eu me interesso, mas não convivo com elas no meu dia-a-dia. Quando estou com um problema, não vou ao terreiro de macumba para resolver, mas tenho respeito por esse tipo de pensamento e pela pessoa que tem essa necessidade e hábito. Eventualmente, eu poderia até ir — meu respeito chega a esse ponto —, mas eu não resolvo as minhas coisas a partir desse procedimento. Da mesma forma, eu me interesso por astrologia, religiões, mas é um interesse mais especulativo do que vivenciado.

Esse teu interesse especulativo por assuntos diversos vem do hábito, ainda que pouco brasileiro, de ler, não é?

— Eu tenho lido pouco até... Com Dona Beija realmente não dá tempo para nada; escovar os dentes é uma coisa que a gente consegue assim rapidinho entre uma gravação e outra. (Risos.) Eu tô brincando em relação a isso, viu? É que a vida fica mais acirrada. Mas eu recebo oito jornais por dia e passo uma olhada em todos.

Você deve estar super abalizada no novo pacote econômico do governo, não?

— Mais ou menos... Vamos ver se o que eu entendi vai ser posto em prática.

Você tem esperanças num Novo Brasil, a partir dessas mudanças?

— Eu andava meio desinteressada de política nacional nos últimos tempos, até com certo desencanto por ela. Eu me desanimei um pouco com a lentidão do processo político porque estava esperando medidas urgentes como esta: o governo se reabilitou aos meus olhos.

Aparentemente, não só as coisas do campo político se reabilitariam perante você, não é? Há algum tempo você brigou feio com o Herval Rossano na Globo e hoje a rixa entre vocês parece estar sanada. É assim mesmo?

— Eu trabalhei com Herval na primeira novela que fiz na Globo, e tinha acabado de trabalhar com Antunes Filho, que era um processo de vanguarda no teatro, uma coisa experimental, e entrei de cara naquela engrenagem da televisão. Isso tudo, junto com o processo de trabalho do Herval, me assustou. Hoje em dia, já não mais tão assustada, estou gostando muito de trabalhar com ele. O Herval é uma pessoa objetiva, que sabe o que quer e, ao mesmo tempo, que ouve as necessidades da gente. Às vezes ele até aparenta não escutar, mas no dia seguinte volta com alguma coisa que tem a ver com aquilo que o ator disse ontem. No fundo, eu sei que ele é uma pessoa extremamente sensível, ligadíssimo a tudo o que está acontecendo ao redor, apesar de toda uma couraça aparente. Ele tem capricho pela opinião de quem está trabalhando com ele, pode até — para quem não o conhece muito bem — parecer que não, parecer que ele tem desdém, mas isso não é verdade.

Você não teve nenhum receio mesmo em aceitar o papel e ter que trabalhar com o Herval?

— Não. A gente até brincou a respeito disso. Eu falei para ele: como é que vai ficar o campo de batalha? Será que vamos conseguir deixar as armas de lado? Não tenho nenhuma queixa ao tratamento que venho recebendo; o Herval está dando as víceras para que o projeto Dona Beija dê certo. Isso estimula todo o mundo. Ele imprime um ritmo apaixonado, e as pessoas que estão ligadas aos projetos chegam à conclusão que, se esse homem que está com todo os problemas na cabeça é capaz de trabalhar com tal ênfase, então eu, que estou apenas em uma das áreas, tenho também a mesma obrigação. A gente está se dando maravilhosamente bem, é ouro sobre azul.

A briga entre vocês na Globo foi então fruto da tua imaturidade?

— Foi sim... Era insegurança minha devido ao ambiente e a códigos que eu não conhecia. Com os anos e o contato com o próprio sistema, esse medo foi embora e hoje compreendo o Herval como pessoa, como personalidade; eu consigo ler nas entrelinhas dele e tenho prazer nisso, porque acho que ele é uma bela pessoa. Gosto do trabalho dele, o Herval é extremamente competente, ele dá segurança ao ator porque sabe o que quer e é objetivo.

Comenta-se que você pediu para regravar a cena em que a Beija toma banho de cachoeira porque não gostou do trabalho da dublê...

— Essa é uma nota que saiu na imprensa a partir de um sonho de alguém, nessas noites de verão.

Mas você não quis gravar a cena...

— Não tive nenhuma objeção em relação a isso. Havia uma pessoa escolhida para fazer essa cena talvez até por uma preocupação do Herval. Ninguém me perguntou se eu faria ou não a gravação, não existe o hábito desse tipo de cena em televisão, e talvez o Herval quisesse me resguardar até por questão de cuidado. Ninguém impôs, eu também não pedi dublê, ninguém discutiu isso. O circo já estava montado a partir de uma atitude muito gentil até do Herval. Outras cenas foram gravadas sem dublê.

Você acredita que a curiosidade da imprensa e do público quanto a esta cena foi maior porque você aceitou as propostas milionárias das revistas especializadas em nu artístico?

— Eu não tenho vontade nesse momento de fazer esse tipo de trabalho para revista masculina, mas isso não tem nada a ver com o meu trabalho em Dona Beija.

Há a estória de que a revista Playboy insistiu meses te mandando flores diariamente para que você aceitasse a proposta de posar nua. Qual tem sido o teu argumento contra?

— As revistas masculinas, fez por outra, têm interesse e me fazem essas propostas, mas eu no momento não estou interessada.

E essa transformação a que o ofício obriga, de ter que trabalhar apesar das depressões, dos problemas pessoais, das crises, ter que abdicar dos próprios sentimentos em nome de um personagem. Como é que isso funciona na tua cabeça?

— Na época em que eu fazia teatro, acontecia de eu chegar com uma dor de cabeça colossal, daquelas que a gente acha que nunca vai passar e, depois de duas horas de espetáculo, perceber que está sem a dor de cabeça. O ofício do ator tem uma mágica de nos transportar para uma outra vida que não é a sua e isso, de uma certa maneira, te cria distância em relação aos problemas pessoais. Quando a gente está envolvida emocionalmente com algum problema, ele às vezes toma proporções que não são as reais. E, quando a gente volta do trabalho para a nossa vidinha normal, é como se tivessem transcorrido três dias, porque os problemas se suavizam de tal forma... Essa é uma coisa linda e mágica da vida do artista. Um probleminha da gente, às vezes, no momento em que está sendo vivenciado, se transforma no maior problema do mundo. No fundo, esse transformar-se, apesar de complicado, é uma dádiva.

E as atrizes que afirmam se envolver a tal ponto com um trabalho que acabam agindo e pensando como a personagem. É possível ou é puro folclore?

— Não sei analisar isso... Nem tento analisar. Acho que, através dos personagens, você descobre coisas para a sua própria vida. Há uma mistura sim, você entrega suas emoções para um outro ser que está criando a partir das suas vevências e é obrigado a dinamizar coisas em você que podiam estar latentes; mas isso tudo me parece acontecer de maneira não tão racional e sim mais espontânea.

Como é que você transa a popularidade? A Maitê do público é a verdadeira Maitê ou uma interpretação? O assédio do público te incomoda?

— Olha, eu acho que a gente entra na chuva é para se molhar e se eu não quiser ser "incomodada", ter esse tipo de contato, pode-se sair para o meio do mato, viajar para Fernando de Noronha... A gente não pode tratar a pontapé as pessoas que têm interesse, carinho mesmo pela gente. Não tenho muita vocação para o mau-humor; se saio na rua, sei o que vai acontecer e então vou preparada para transar isso da maneira mais leve.

Você nunca balançou diante do sucesso? A fama nunca fez tua cabeça?

— O fato de minha cara aparecer numa tela de televisão não significa que eu seja melhor ou pior do que ninguém. Eu não melhorei como pessoa por ter ou não aparecido na TV. Sucesso é trabalhar de forma digna e ir crescendo dentro do ofício, e perceber que cada vez consigo fazer melhor.

E as especulações em torno da sua vida particular? Como é que você reage às notícias que publicam a teu respeito?

— Há mais de dois anos que eu não leio nada que sai a meu respeito, portanto não me incomoda mais até por falta de informação mesmo. Tantas coisas que dizem sobre mim são pura e simplesmente especulações, tanta coisa sem pé nem cabeça... Outro dia alguém publicou que eu estaria escrevendo um livro de poesias... Nunca na minha vida escrevi poemas, nunca falei isso pra ninguém. Acho que as pessoas sonham, acordam e escrevem estas notícias.

Até mesmo o teu casamento dança, não é? Quantas vezes já te descasaram do Paulo Marinho?

— Muitas... milhares de vezes. (Risos.) Quando a gente está mal, dizer que estamos bem e vice-versa; nunca acertam. Quando sei por intermédio de alguém que me conta, vira material para boas rizadas.

Vocês nunca quiseram ter filhos?

— Ah essa é uma pergunta que todo mundo faz...

É uma curiosidade apenas...

— Eu penso sim, adoro crianças, o Paulo também adora...

Acho até que a pergunta fica mais pertinente agora que você afirma estar tão de bem com a vida. De repente, é a oportunidade de passar tudo o que você tem aprendido enquanto ser humano para um novo ser...

— É... embora isso independa de você ter uma criança ou não, é lindo botar uma criança no mundo e vê-la aprendendo coisas da gente e aprender também com ele, com a ingenuidade da criança. Acho que seria maravilhoso até no plano do carinho. Uma criança na vida de uma mulher é muito lindo. Se gerar um personagem já é uma coisa tão satisfatória, tão resplandecente, confortadora, imagina então fazer uma coisinha humana... Por enquanto Deus lá em cima não colocou a mão aqui e disse: "É agora..." E não é evitado não: o dia que vier um bebê vem com aplausos da família. Também não fico programando: "Depois de tal trabalho vou ter um filho." Se acontecer agora, a Dona Beija vai ter que ficar barriguda.

Você acredita que os comentários, as críticas, modificam a tua imagem perante o público?

— Ser elogiada por determinados colunistas chega a ser um motivo de preocupação, sabia? Fico realmente preocupada com certos elogios porque vêm de pessoas que a meu ver poderiam fazer tudo menos jornalismo. O mais importante é fazer bem o meu trabalho, porque ele é minha forma de expressão. O público é que tem que avaliar. Não posso dar ouvidos a tudo o que dizem senão eu fico louca e eu não pretendo parar no Juquiri. Os comentários não me acrescentam nada, assim como não me atrapalham: é como se não existissem.

Arriscaram muitos rótulos para você: "a nova namoradinha do Brasil", a "mulher mais sensual do ano", "estrela global", e você sempre driblou esse tipo de coisa muito bem...

— Acho que rótulos são rótulos e não sobrevivem muito tempo. Foram tantos... Se algum deles tivessem mesmo força, teria ficado para sempre, e isso não aconteceu. Não me incomodo também, podem fazer rótulos, tudo bem. Não é meu hábito ficar rotulando as pessoas, mesmo porque eu tenho interesses mais profundos nelas. O meu interesse vai mais fundo que estereótipos, aparências. Comecei a trabalhar como atriz sem ter nenhuma experiência prática, e havia um assédio muito grande pelo que estava acontecendo na minha vida, pelo que eu era, quanto eu ganhava...

Eu fui tentando aprender com colegas de trabalho, aprender com a minha própria experiência de vida. Na minha vida as coisas aconteciam a partir de um simples querer que se transformava num interesse tão grande que eu acabava fazendo aquilo. Traçar um caminho não é uma característica minha. Eu já quis ser sorveteira, criadora de bichos, psicóloga, socióloga, me interessei por religiões orientais... As coisas mais diferentes... E há as que prevalecem. Quando percebi, tinha me profissionalizado como atriz.

Você acha que já conquistou um espaço enquanto profissional e equilíbrio enquanto ser humano?

— Há momentos na vida da gente que todo esse processo que acontece no plano pessoal acontece também no profissional. Momentos em que a gente vivencia uma série de experiências e vai fazendo um armazém. Tem hora que elas desabrocham; todas essas experiências que foram sendo acumuladas, de uma hora para outra, passam a ser utilizadas na prática. Como se eu tivesse acumulando idéias, fazendo um acervo que hoje está me servindo como instrumento de trabalho. É como se eu tivesse acumulado livros numa biblioteca e agora, sempre que necessito de uma idéia a respeito de alguma situação, busco nas informações que tenho de uma forma mais amadurecida e mais serena do que há algum tempo.

Dentro do campo profissional, você tem um objetivo maior que queira alcançar, por exemplo, um grande personagem que servisse de teste para o seu aprendizado?

— Não penso nessas coisas. Aliás, não gosto de ficar falando de coisas do futuro. É claro que gosto dessas mulheres controvertidas, polêmicas, como a Lucréia Bórgia, Anita Garibaldi, Olga Banário, Maria Antonieta, Catharina a Grande, que são personagens lindas de se fazer. Qualquer delas que vier, eu traço.