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Ronaldo querido,
Revista Época - 2005
 

A moça era bonita, mas isso é o que mais se vê nesses dias. Pra quem já teve Kate Moss, Naomi e tantas outras, essa foi uma de muitas que ainda virão sem lhe impor o noivado-casamento-filho em troca da companhia. Existe gente bela e de verdade querendo a mesma coisa que você; beijo na boca, tesão, brincadeira, essas delícias sem compromisso que as pessoas experimentam quando acabam de se conhecer. Juras de amor eterno são para quando há amor. E o amor nasce nas risadas, dores, e frustrações, de um mundo exclusivo onde só cabem duas pessoas. Com tempo, delicadeza e esforço, esta pequena ilha vai ganhando pontes que dão acesso às famílias, aos amigos íntimos, às relações do trabalho. A imprensa? Se for inelutável... Mas é pra quem tem estômago, e pra que a casa não caia é bom que esteja bem sólida e à prova das tempestades que as páginas trarão. Convenhamos, você não precisa expor o coração no jornal pra incrementar a carreira ou conseguir a aprovação de seus fãs - o mundo o quer bem e vai amá-lo ainda mais se mantiver sua dignidade.

Você é um rapaz adorável. Tem o jeito tímido temperado por um deboche discreto - quando a gente se encanta com o moço sério ele solta uma bobagem colossal que derrete qualquer formalidade. É um menino que não quer crescer. E é a tal da inteligência. Nem precisaria jogar aquele bolão único que Deus lhe botou no pé pra ser querido por todos. Você é puro carisma; simpático e discreto, tem o dom de juntar pessoas à sua volta. Mas será que aquela moça viu isso? Eu acho que não. Acho que encantou-se por seu deslumbramento diante dela e quis tirar o máximo de um momento que não poderia durar. Reformou sua casa, seus hábitos, seu modo de vestir. Expulsou seus amigos, sua família, seu cachorro, e proibiu-o de ser feliz. Sem referências, você ficou inseguro e abobalhado. Quando estive hospedada em sua casa - hoje posso dizer, pois você mesmo reclamou com amigos e a coisa saiu nos jornais - vi que a moça só gostava de um tipo de foto, as dela. Era a moça de biquíni, a moça com o cachorro, a moça sensual, a moça rindo, a moça séria, a moça sempre. As únicas variações incluíam você - é claro - olhando para a moça, embasbacado.

Nenhum retrato do filho, da mãe, dos amigos... De sua casa ela havia feito um altar em homenagem a si mesma e aquilo beirava a demência. Conversamos abertamente e saímos pra passear. Foi bom conhecê-lo de perto e eu teria gostado de conviver mais, não fosse por um episódio de que participei involuntariamente. Horas antes da Festa do Castelo, num telefonema feio, conheci um Ronaldo cruel e ingrato com o assessor e amigo de anos. Não era o primeiro que você destratava, era o último que restava de seus parceiros. Eu diria isso pessoalmente, mas a porta se fechou ali, então, uso a forma que você tem preferido, a pública. Mulher nenhuma, meu querido, merece que se façam maldades com gente de bem a fim de lhe atender aos caprichos.

Ainda gosto de você porque tem luz e encanto e é de um tipo que a gente não consegue desgostar. Além do mais, erramos todos.

Falo do alto de minha própria montanha de equívocos. Resta reconhecer os deslizes e chutar para a frente. Machuca um pouco, mas sara, e você tem saúde sobrando pra isso. Quanto a chutar (e acertar)... aí não tem pra mais ninguém.

Boa sorte!
Maitê