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Quem Sabe o Futebol...
Revista Época - 2005
 

Eu deveria falar do assunto que mobiliza a nação, mas a coisa toda me embrulha o estômago. Tenho engulhos vendo Lula nos palanques desviando a atenção do povo pra irrelevâncias de autopromoção. "Meus pais eram analfabetos!". Virou mérito agora não ter instrução, não saber falar a própria língua, não ter desejado aprender, não possuir qq interesse por questões que fogem à política e nunca ter trabalhado na vida. E quando finalmente a criatura arruma um emprego, que é hora de pegar no batente, palavras! Artifícios e leviandades para tentar manter o posto que ele não faz por merecer. Entendo que o poder isole, mas neste caso o moço foi pobre e conheceu de perto o amargor dos desfavorecidos. Não pode esquecer tão rápido que há uma gente miserável morrendo enquanto espera as medidas, que o moço, hoje presidente, prometeu durante décadas de blablabla. Além do mais, tá na cara que além da tribo, o cacique tb sabia da roubalheira denunciada pelo Jefferson. Agora o país inteiro sabe - há indícios e provas, e provas indiciárias que, por si seriam suficientes pra botar a corja na cadeia - se está fosse a vontade de nossos mandatários. Mas não é. Falar desse assunto é repetir a ladainha que todos conhecem, e que inclui ainda Severinos, Malufs, e a lama toda que faz brotar em mim... "impulsos primitivos". Primitivo por primitivo prefiro lembrar de um Brasil que dá certo, que traz alegria e beleza, que tem ordem e encantamentos sem fim. Estou apaixonada pelo futebol!

Vc sabia que o futebol nasceu na China, em 2600AC? Era um ritual de guerra chamado tsu tsu que ocorria após embates entre cidades. Os vencedores decapitavam o chefe vencido e seus cinco guerreiros mais valentes, e chutavam aquelas cabeças entre si, numa espécie de jogo que durava enquanto durassem os crânios. No século XIV a brincadeira chegou à Itália e, já com bolas no lugar do inimigo e quarenta homens de cada lado, virou coqueluche transformando-se em esporte de nobres. Após o período obscurantista, o jogo aportou na Inglaterra, e lá ganhou o formato que tem hoje, com balizas, onze jogadores pra cada time, e tudo que o torna o magnífico espetáculo de se ver e jogar. Pelas origens, entretanto, dá pra compreender que as violências e grandes rivalidades que suscita, estão, digamos, no DNA do jogo, cujo nascedouro foi a batalha campal. Mas o homem é mesmo um bicho furioso e nada melhor que um bonito esporte para escoar sua brutalidade.

Fui à Brasília ver a partida contra o Chile. Era uma tarde de domingo, e as nuvens de hipocrisia que encobrem os céus da capital deram lugar a um azul cheio de sol. Por duas horas aquele solo emporcalhado se iluminou de êxitos: cinco, mais precisamente, cinco lindos gols!

Vendo nossos jogadores em campo, pensei na genialidade de tantas jogadas, na generosidade dos passes, nas escolhas que eles são obrigados a fazer, na agilidade de seus raciocínios, e percebi que fosse outra a educação recebida, aqueles meninos dariam cientistas brilhantes, gênios da computação, ou artistas colossais. Estão no futebol e é esplêndido que seja assim, mas poderiam se quisessem, fazer de um tudo com igual maestria. São rapazes equipados de graça e talento, recebem milhões pela desenvoltura com que exibem seus dons pelo planeta, e merecem cada centavo daquilo. Alem do mais, desconfio que o futebol faça bem à índole. Como explicar que ao melhorar de vida, esses meninos sem exceção, comprem casa pra mãe, pra tia, pro irmão e arrumem a vida da família inteira, enquanto tanta gente "mais preparada" se faz fortuna, trata logo de brigar com qq infeliz que possa um dia vir tirar uma lasquinha.

Talvez Lula devesse adotar o futebol como exercício de preparo para o poder. O presidente seria capitão de seu time, o PT Clube. Todas as manhãs o PT Clube e os outros parti-times se enfrentariam em super-rachas no playground do Torto. A Granja de Dna.

Marisa ganharia uma função mais eficaz que a de ser palco para festas juninas e outras brincadeiras, que pouco acrescentam, em termos didáticos, aos rapazes da política. Depois dos rachas... churrasco pra meninada que ninguém é de ferro! E só à tarde, pra não cansar quem está pouco acostumado, já com consciência do próximo, noções de solidariedade, de equipe e disciplina, nossos eleitos rumariam para o Congresso e trabalhariam um tantinho de nada - pra quem os colocou ali.

Garanto que assim, o país ia pra frente!