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Luma, querida
Revista Época - 2004
 

O ditado manda não meter a colher, mas como foi você mesma que abriu a torneira do tanque pro mundo, sinto-me no direito de opinar.

É muito feio isso que você está fazendo com Eike, coração. Você é casada há treze anos com o moço, tem dois filhos cheios de saúde e uma união cheia de confortos. Agora vem dizer que não agüenta mais, que abriu mão de tudo por ele, que o rapaz é ciumento, intransigente e o escambau, e ainda o responsabiliza pela mentira que vocês cometeram juntos! Que marido não tem ciúmes da mulher que sai semi-despida cada vez que haverá fotógrafos? Que marido agüenta discreto enquanto a parceira desfila a calcinha transparente para o Brasil inteiro ver? Quem é que gosta de explicar que aqueles bombeiros sarados só estão agarrando a mamãe por que assim é que se faz em foto pra revista?

Nem sempre nosso Eike foi companheiro, é verdade. Talvez por conceder mas não agüentar o tranco, tenha preferido poupar-se em muitas ocasiões. Em outras, no entanto, ele estava lá firmão, dando até uma força - todo mundo viu. E todo mundo viu também pela cara de tacho do seu marido, que os sapos na sua garganta eram amazônicos. São as regras do jogo, e ele as conhece... E você, não escolheu ter um futuro de princesa com o homem que te ama? E não é assim, até para as não princesas - conceder em alguns lugares para conquistar em outro?

E cá entre nós Luma, você abriu mão do que? De posar pelada pra mais cinco revistas, de fazer mais um personagem secundário na novela, de ter uma vida financeira instável? Qual é? O homem é careta e queria você em casa quando ele chegasse de noite? Todos querem. Você topou, e ele não te impediu de trabalhar, a empresa de cosméticos que te pertence aconteceu com o apoio dele, com sua orientação e dinheiro, ou não?

Francamente, acho tudo isso uma idiotice. É patético que os jornais estejam inundados dessa e outras futricas e que eu inclusive tenha me deixado arrastar nessa inconsciência de lama e esteja aqui discutindo a vida alheia. Mas é que no caso da sua união de amor Luma, sempre tive a certeza de que havia um equívoco quando as pessoas vinham lhe atribuir os preconceitos de praxe. Sempre achei você corajosa ao se expor - era o avesso do recato e sua explosão, sua força e graça, vinham de um lugar genuíno que não poderia se mostrar, senão daquela forma mesmo. Eu via um moço bonito, rico, de 'boa família' que se encantou pela moça 'simples' e exuberante. O moço que não era bobo, largou um noivado convencional pra casar com a moça cheia de vida e humor. Ele sabia que sua amada não era aprisionável e aprendeu a deixá-la encantar o país com sua arte sem igual na avenida dos excessos. Você é sempre a mais linda do universo naqueles momentos Luma. Ali todas as mulheres te reverenciam e todos os homens do mundo te desejam. Ele sempre soube disso, e deixava rolar porque sabia também, que você era dele. E você agradeceu usando a coleira. É tudo muito brega e louco, mas digam o que disserem, também é lindo pra caramba.

Então, eu tô pouco me lixando pros problemas íntimos de vocês que não são da minha conta nem de ninguém e fazem parte do pacto entre duas pessoas, e só. Fiquei decepcionada foi com um ideal que meu romantismo imaginou, e que ruiu na exposição desarvorada de sua falta de sutilezas. Fiquei triste com o desmoronamento da imagem que fiz, de um amor acima da vulgaridade dos jornais, mais elevado que a boca do povo, um amor que sempre me pareceu saudável e bom, e que agora, nessa farsa besta, virou uma bobagem como outra qualquer.

Se há uma atitude digna nessa história, é o silêncio do Eike. Se eu fosse você Luma, trataria de imitar-lhe um pouco os modos. Se fosse você, cuidaria dessa crise dos 40 num divã de psicanálise, na umbanda, num confessionário, ou em qualquer lugar mais recolhido do que as páginas dos jornais. Se eu fosse você, teria na dor, a mesma grandeza que você espalha pro mundo naquela avenida. Boa sorte.