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A Humanidade Ama a Ordem
Revista Época - 2004
 

A humanidade ama a ordem. Os americanos acham q o amor é pela democracia, mas não é. O homem prefere uma ditadura organizada à democracia baderneira. A Alemanha de Hitler é dos exemplos mais funestos dessa preferência - hoje não gostam de falar nisso, mas na época, enquanto os métodos do ditador ordenavam e revigoravam uma economia despedaçada trazendo tranqüilidade para a maior parte da população, os alemães acolheram seu nazi-líder de braços abertos. E há inúmeros exemplos desse amor coletivo na história do mundo. Da mesma forma odeia-se o terrorismo, pq ele desestabiliza o estado que está ali para garantir a integridade do indivíduo. Não tendo forças armadas o terrorismo ataca as instituições dos governos para desestruturá-los e assim obrigá-los a negociar. O mecanismo sempre existiu e estão aí ETA, IRA, Al Quaeda, Forças Separatistas da Chechênia, e outras, atuando com mais pungência do que nunca. Qdo um grupo terrorista ataca uma escola matando crianças indefesas como aconteceu recentemente na Rússia, o mundo se enche de repulsa porque fica difícil imaginar o que está por vir nesse cenário de horrores - o alvo tendo se transferido para o que há de puro e mais vital na sociedade. Se até mesmo nas guerras medievais onde soldados carniceiros decapitavam com facas e machados, crianças e mulheres eram preservadas, o que será de um mundo onde essas fronteiras desabaram vergonhosamente pelo chão? Sempre haverá desacordos ideológicos e ganância territorial e é por isso que existe uma ética regulamentando o comportamento bélico, e evitando atrocidades contra inocentes, entre outras coisas. A Convenção de Genebra está aí pra isso: a espionagem será duramente punida, a guerra deve ser declarada, a ação terrorista é inadmissível, e assim por diante. Qdo aconteceu, sem qq aviso, o ataque à base americana de Pearl Harbor, onde civis escutavam radio e faziam churrascos com suas famílias, aquilo foi uma perfídia japonesa, aos moldes do terrorismo, que o mundo não perdoou. E qdo, recentemente, os EUA atacaram o Afeganistão, matando milhares de inocentes na busca desarticulada de um Osama que nunca encontraram, aquele tb não foi o comportamento que se esperava da maior nação do planeta. Qdo em seguida os EU, contrariando a decisão das Nações Unidas, atacaram outro país árabe que jamais os ameaçou, matando famílias inteiras com desculpas esfarrapadas, o descalabro abriu precedentes para o terrorismo perder qq compromisso que ainda tivesse com a civilidade. É claro q não dá pra negligenciar a trágica audácia do 11 de setembro como grande motivador das ofensivas americanas. Contudo, por pior q sejam as circunstancias, o governo de um país deve manter-se soberano, não podendo, como tal, nivelar-se a ação terrorista. Uma nação como os EU, quando mente, mata, humilha, e desrespeita a ética internacional em favor de seus interesses particulares, dá margem para o crime organizado, no mundo todo, autorizar-se a subir degraus na escala das crueldades - se a Meca da moralidade age de maneira espúria, ao terrorismo, que precisa escandalizar para chamar atenção, sobram as portas do inferno.

No Brasil o terror assume outras faces, mas aqui tb, como no resto do planeta, sentimos medo. Temos medo de ir à esquina e ser assaltados e temos medo do filho levar uma bala perdida a caminho da escola. Temos medo até da escola, que muitas vezes devolve nosso filho mais entusiasmado com o ecstasy e cocaína do que com a física e a literatura. Temos medo.

Esse é o mundo que criamos.

Desculpem o baixo astral, mas, o que virá agora?