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Tempo de férias Assunto de viagem
Revista Época - 2004
 

Noruega
No final dos anos 70 viajei pelos fiordes da Noruega. Faz frio por lá e é úmido, muito úmido. Eu só tinha uma roupa e um sapato com solado de corda que um dia se desfez na aguaceira.
Estávamos num navio. Lembro-me bem do norueguês grandalhão que deixou-se comover por minhas franciscanas circunstâncias. Tinha um tênis tamanho 43, pequeno pra ele. "É um presente, você aceita?" Cavalo dado, dinheiro curto... calcei o sapatão e continuei a viagem feliz da vida.

Suécia
No norte da Suécia há uma cidadezinha, chamada Trondheim. Ali tem uma floresta igual a da Chapeuzinho Vermelho, com bosque típico do norte europeu, sem arbustos e cheio daquelas coníferas compridas.
Peguei uma bicicleta e saí pedalando por dentro. Só que esqueci que em conto de fadas se deixa migalhas de pão pelo caminho. Quando me dei conta, estava perdida e a noite chegava. Fui encontrar o rumo da volta muitas horas mais tarde, cansada, com fome, e um frio de roer o osso. Contei essa história para o Augusto Boal. Ele é a única outra pessoa no mundo que já esteve em Trondheim.

Em Stocholmo tive um romance relâmpago e bom. Ele era sueco, claro - carpinteiro de dia e professor universitário à noite. Contou-me a vida naqueles dois dias. Eram histórias tristes mas bonitas. Nunca havia contado nada daquilo pra ninguém e disse que só se abriu comigo porque eu estava de passagem, indo embora, e nunca mais nos veríamos. De fato...

Dinamarca
Copenhague tem o melhor sorvete do mundo! As vacas da Dinamarca possuem tetas divinas - Caetano e Gal iam adorar... Lá havia, não sei se ainda há, um lugarejo chamado Christiania. Era uma antiga base militar americana, desativada desde a segunda guerra. O governo liberou o lugar para que drogados pudessem viver e enlouquecer sem serem importunados e vice-versa. Tinha gente andando nua pelas ruas, outros, viciados organizados, tentavam reconstruir casas caindo aos pedaços.
Música new age tocava pelos cantos e drogas de toda espécie eram usadas abertamente. O lugar era do tipo "liberou geral" mas a atmosfera pairava curiosamente tranqüila. Passei uns dias na serenidade daquele caos. Foi bom.

Florida
E pra contra-balançar... A Disney!
Volto de uma longa viagem. Um mês longe de minha filha. Chego ao Rio e da minha janela o Carnaval explode em excessos. Eu precisando de paz pra botar a vida em ordem e matar as saudades, olho pra Maria de quatro anos e penso: Disney - claro, genial, ela vai amar, e eu fujo desse baticutum.
Naquela noite embarcamos e no dia seguinte ingressávamos no mundo mágico de Walt Disney. Doce ilusão. A Flórida é o estado mais ao norte do Brasil e todas as filas pra todos os brinquedos, tem mais criancinhas brasileiras com mamães sedentas por autógrafos, do que eu sonharia no pior pesadelo.
Dois dias se passam. Café da manhã, Pluto, Minnie, Mickey, Donald, todos desfilando o repertório de gracinhas para nós, minha filha me olha e diz, "mamãe vamos pra casa?"
Voltamos naquela noite.
No dia seguinte, encantadas, pulávamos carnaval na rua. Eu vestia um modelinho Pluto, e Maria ia de Branca de Neve.

Pequena nota:
Pratinha, semana passada você reclamou que não o deixam escrever tanto quanto permitem a mim, aqui nesse espaço em que revezamos semanalmente (aliás, uma honra pra esta que vos fala). Pois saiba querido, que os rapazes editores também me pedem para encolher minhas crônicas. Eu, apenas, desobedeço.
Ah, e esse texto aí de cima ia somar 3000 caracteres, mas agora com essa nota...