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Depressão uma trip narcísica

 

A depressão geralmente tem um estopim externo. Aquilo contamina outros setores, vai se alastrando, e, uma hora o sujeito se vê desvitalizado, deprimido. Pois me parece que há um instante em que o processo, se percebido, pode ser evitado. Logo no início, quando o sofrimento é quase um deleite de tão excepcional e fundo. Quando aquela coisa dentro mobiliza - tirando da mesmice do quotidiano, igual ao de todas as pessoas desinteressantes à nossa volta - e nos destaca da previsibilidade da boiada, tão trivial. Mortificado, você se sente mais vivo do que nunca: melhor que seus pares, idiotas felizes, você paira acima com sua intimidade secretamente despedaçada por calamitoso desastre interior. Nesse momento em que o narcisismo está a reinar dentro, sem que se perceba, ali é hora de pular fora. Ou então...ficar, e se viciar em si mesmo, nas delícias da reclusão, nos caminhos tortuosos pra onde a imaginação (negativada) o levará, para consumi-lo até o fim. A depressão tem um quê de vaidade (narcisismo), e sua cura, a meu ver, precisa de um olhar pra fora, para bem longe de si, para um mundo repleto de outros, talvez, nem tão idiotas.