Atriz Maitê proença faz comédia surrealista
Folha de S. Paulo - Gustavo Fioratti 14/03/10
 

Texto da atriz cria ambiente de velório em festa, com morta que volta do além

Não vá errar o endereço, preste atenção. Com a estreia da peça "As Meninas", escrita pela atriz Maitê Proença, no Cultura Artística do Itaim, agora são duas montagens com um mesmo nome em São Paulo.

A outra é baseada no livro "As Meninas", de Lygia Fagundes Telles, com texto de Maria Adelaide Amaral - na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

A diferença começa pelo gênero. "As Meninas" de Fagundes Telles é um drama psicológico, com o regime militar ao fundo, e o texto de Maitê arrisca uma comédia com pé no realismo fantástico.

Segundo a atriz, a peça, dirigida por Amir Haddad, trata da morte de forma cômica. "Mas não é humor de TV, com atores que se preparam tecnicamente para a piada. Existem fórmulas para provocar o riso, que eu não uso", disse Maitê, um dia antes de partir ao Haiti, para fazer um documentário sobre a situação pós-terremoto.

Esta é sua segunda peça, escrita em parceria com Luiz Carlos Góes --e talvez aí resida outro pacote de ingredientes fantásticos.

Góes é um escritor que fez sua estreia nos anos 60, quando apareceu com o curta "A Jaula". Na TV, escreveu para Chico Anysio e para os programas "Sai de Baixo" e "Os Trapalhões", entre outros. Também compôs arranjos para musicais de Cláudia Raia.

A lisergia - sempre bom lembrar que Maitê, durante três anos, participou de cerimônias do Santo Daime - não desenha apenas o cenário colorido que a atriz compara a um carrossel. Também norteia diálogos, com uma personagem morta chamada Consuelo, que volta a viver durante seu próprio velório, e depois volta a morrer, anunciando muitas vezes suas partidas: "Vou morrer de novo. Rubi está vindo. Não quero assustar minha filhinha".

Duas crianças, as protagonistas (sobrinha e filha da morta) se comportam como se participassem de uma cerimônia festiva, por trás da qual reside a tragédia de Consuelo - e também o mistério acerca daquilo que resultou em sua morte. "É algo que já vi em enterros. Gente rindo pelos cantos e fazendo piada, muitas vezes sobre o próprio morto", diz Maitê.

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