Risos na hora da morte
JB Online, julho/2009
 

Texto equilibra melancolia e humor ao abordar o tema.

As meninas, em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim, utiliza a morte como fronteira dramática que demarca a vida como processo contínuo e interminável. O desaparecimento de uma vida desencadeia sentimentos nos que permanecem e lembranças sobre a ascendência e esperanças sobre a descendência. É nesta apropriação de tempo e na certeza da permanência da continuidade que o texto de Maitê Proença e Luiz Carlos Góes equilibra melancolia e humor, docilidade e amargor, numa dosagem com indisfarçável envolvimento emocional e inteligente sabor crítico. As mulheres que surgem, vivas ou mortas, no velório de uma delas, são conduzidas por duas adolescentes que, diante da solenidade da ocasião, apontam o ridículo dos comportamentos. As razões para a morte da mulher que está sendo velada são trágicas, mas tanto a filha da falecida, quanto sua amiga, olham para o que se desenrola em torno com a espontaneidade dos olhos limpos.

Com diálogos repletos de observações mordazes e de encantadora impertinência, os autores recheiam com este ar juvenil a comédia dramática de mulheres que perpetuam a essência do feminino. Simpática, envolvente, igualmente afetiva, As meninas talvez insista, além do necessário, na reiteração de algumas situações e no esgarçamento da duração, detalhes que não comprometem o prazer de assistir a um texto atraente.

Amir Haddad soube dosar a leveza dos diálogos com o clima onírico que se estabelece em vidas tocadas pela morte. Sem perder o humor, o diretor cria espaço emocional que torna as personagens, delicadas menininhas, às vezes de cativante ferocidade. O cenário com grandes biombos circulares de Cristina Novaes acentua o aspecto de sonho, que os excelentes figurinos evocativos de Beth Filipeck complementam. A iluminação de Paulo César Medeiros explora parcialmente este visual. Sara Antunes e Patrícia Pinho como as adolescentes narradoras transmitem frescor interpretativo. Analu Prestes retira o melhor humor da avó preconceituosa. Clarice Derzié Luz, em vários papéis, sustenta bem todos eles. Vanessa Gerbelli, como a morta, tem presença etérea e encantatória, ao mesmo tempo irônica e bem humorada. Uma bonita figura com atuação sensível.

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