Carta de Alberto da Costa e Silva
Rio de Janeiro, em 17 de março de 2008.
 

Cara Maitê Proença:

Tão logo recebi os originais de Uma Vida Inventada, dediquei-me, com atenção e gosto, à leitura.
Como gostei imensamente de seu livro, eu não queria escrever sobre ele dois ou três parágrafos apressados e de circunstância - e para isso precisava de tempo. Queria avisar o leitor das armadilhas que você lhe armou, ao fazer correr lado a lado duas histórias que se tocam e se completam numa só, uma se infiltrando na outra, o romance pondo a mão na memória, a imaginação a explicar a lembrança, e o vivido, o imaginado, e o que foi, o que podia ter sido, e vice versa. Como se fosse um espelho com as suas imagens a refletir as imagens de outro espelho. Acima de tudo, porém, eu queria dizer em voz alta que seu livro me emocionou, me comoveu, me tocou fundo, porque, embora contenha páginas amargas e duras, foi escrito com caridade. Com amor diante da perda e da tragédia. É, por isso, um livro nascido do que na alma é coração. Em sua prosa musical, reconstrói-se o passado não apenas como confissão e desabafo, mas sobretudo como a continuidade da beleza no que só na aparência foi frágil, quebradiço e breve.

Alberto da Costa e Silva

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