1986

"Naquele momento, uma personagem de época, uma cortesã como Dona Beija, me parecia muito mais interessante e poderia tirar um pouco daquela imagem de boba que eu achava que a imprensa havia difundido a meu respeito. A mídia me projetava de uma maneira na qual eu me sentia muito adulterada — me atribuíam atitudes que, para mim, eram vergonhosas. Na realidade, nos primeiros anos da minha carreira, eu não tinha noção do poder da televisão… Nunca tinha visto muita televisão. Na casa dos meus pais, era proibido, e a TV ficava no quarto de empregada. Se me encontrassem vendo aquilo, mandavam eu entrar em casa e ir fazer algo mais 'produtivo'.

"O diretor contratado pela Machete era o Herval Rossano, que tinha dirigido As Três Marias, mas eu não queria passar por aquele tumulto novamente… Tivemos uma conversa crucial: 'é o seguinte: você não gosta de mim. Eu também não gosto de você. No primeiro exaltar de voz, eu saio e vamos ter um problema, como vai ser?' 'Nós não vamos brigar, eu prometo', disse ele. E cumpriu: nós nunca brigamos e o trabalho foi maravilhoso — o melhor de toda a minha vida. Foi, de fato e pela primeira vez, a oportunidade de criar algo novo, autêntico, de fazer um trabalho denso e sério, e de aprender a gostar muito do Herval."

Em Dona Beija, Maitê protagoniza as primeiras cenas de nudez em uma novela de horário nobre no Brasil, as quais se tornaríam ícones daquela produção: a cortesã tomando seus banhos de cachoeira. Com o sucesso, ela obtém também sua consagração de público.

A novela seria um marco na história da televisão brasileira, e o reconhecimento da crítica viria em seguida. "Eu estava sempre na ilha de edição ao lado do diretor, tínhamos muito controle sobre o trabalho e, no ar, aquilo tinha uma beleza especial. Palmas para o Herval e para o Adolfo Bloch, que apoiou e possibilitou nossos esforços e nossas audácias."

A partir desse trabalho, volta para a Rede Globo e continua a atuar sempre em papéis marcantes.


1987

Foi um ano de muito trabalho, com a participação em duas novelas, Corpo Santo, ainda na Manchete, e Sassaricando, sucesso da Globo, além da peça La Malasangre, com direção de Augusto Boal, e do filme Sexo Frágil, de Jessel Buss, ao lado de Edson Celulari. "Em Sassaricando, eu fazia uma fotógrafa, Camila, também ao lado do Edson. Juntos fizemos, nesse mesmo período, o filme Brasa Adormecida (Prêmio de Melhor Atriz do 2º Rio Cine Fest), de Djalma Batista."

Nesse ano, também protagoniza seu maior sucesso no cinema: A Dama do Cine Shangai, ao lado de Antônio Fagundes, filme dirigido por Guilherme de Almeida Prado. Com esse trabalho, conquista o prêmio de melhor atriz no II Festival de Cinema de Natal e também no XV Festival dos Melhores do Ano CineSesc

Nesse período, apresenta dois programas jornalísticos: o Programa de Domingo e Diálogo, na Manchete, com a supervisão de Fernando Barbosa Lima e Roberto D'Ávila.

Com o sucesso, viriam também os convites para posar nua em revistas masculinas. Recusou dezenas deles, até aceitar posar para a Playboy, em 87. Estava sacramentado: Maitê se tornava um dos maiores símbolos sexuais do Brasil. A edição vendeu 630 mil exemplares (o maior número de vendas no mercado editorial até então) e foi um dos maiores sucessos de banca da revista. Posaria uma segunda vez em 96, aos 36 anos, na belíssima paisagem siciliana da Itália, e reconfirmaria o sucesso: desta vez, a revista alcançou a marca dos 720 mil exemplares vendidos.


1989

Dois anos depois de voltar à Globo, seu pai adoece gravemente e vem a morrer durante as gravações da novela O Salvador da Pátria. "Vivi numa ponte aérea entre os estúdios e uma fazenda distante, no interior de São Paulo, onde ele morava. Nesse momento, o encontro foi com o Lima Duarte. Ele tinha a mesma idade de meu pai, um apreço pelas intelectualidades e uma inteligência que me fascinaram. Foi um confidente para muitas conversas — praticamente o único, excetuando-se meu marido, Paulo, no que se referisse a este assunto particular. Era um momento terrivelmente difícil e ele foi especial, um grande amigo." Nesse ano, também participa das filmagens de O Beijo, de Walter Rogério, e Kuarup, de Ruy Guerra, além da montagem da peça Na Sauna, dirigida por Bibi Ferreira.