1980

Após duas cirurgias e ainda usando uma bengala fora de cena, aceita fazer uma das protagonistas de As Três Marias, ao lado de Nádia Lippi e Glória Pires — duas atrizes muito mais experientes: Nádia tinha feito 17 novelas e Glória trabalhava desde os cinco anos de idade.

"Quando ingressei na Globo, era um ET. Tinha acabado de chegar da Índia; havia perdido os hábitos brasileiros, que, aliás, eu nunca tive: estudei em uma escola internacional; meus pais eram intelectuais e ateus em um país católico; aos dois anos de idade, me enfiaram numa creche para crianças miseráveis, só para que eu pudesse 'experimentar' o outro lado das coisas. Pensando bem, acho que eles queriam mesmo criar um 'ser estranho'. E eu me vestia de uma maneira esquisita para os padrões 'carioco-globais', parecia uma californiana psicodélica...

"Sabia que aquilo seria difícil para mim e pedi um salário alto, muito alto. Não tinha a menor noção do que era aquele universo. Fiz umas contas, sem nenhuma referência, e pedi um salário. Afinal teria que mudar de cidade, deixar os amigos... E ser atriz, realmente, não era um dos meus objetivos naquele momento, queria mesmo voltar para a França e estudar. Soube depois que pedi o salário de um ator de primeiríssima linha. Pagaram."

Mesmo com salário de estrela, o começo de sua carreira não foi fácil. As críticas eram pesadas e o clima mais ainda. "Achei que estava entrando no mundo das artes e encontrei um mundo da grosserias e futrica. Fiquei muito assustada. Era tanta cobrança, tanto mal-entendido, o diretor me chamando de puta pra baixo. Eu nunca tinha visto nada parecido".

"Além do mais, não fazia a menor questão de ter a minha cara estampada em todos aqueles lugares. Fui ficando muito constrangida e nada saía direito, as emoções estavam completamente trancadas e confusas. Passei a odiar meu trabalho. Eu também concordava com as críticas que me faziam.

"Resolvi sair, mas já tinha batido recordes de audiência, estava nas capas das revistas, dando lucro para a empresa. Além disso, tinha um contrato. Quando falei em sair, fui desaconselhada. Estava amarrada a um contrato, presa a um compromisso e fui ficando… Mas aquela situação era incômoda para mim e para todo o mundo daquele meio, que não tinha condescendência com a minha inadequação — para eles, parecia coisa injusta e privilegiada. Convivi com a inveja e outros sentimentos cujas repercussões me atingiam de forma nova e quase física de tão contundentes. Só fui sentir prazer na profissão anos depois, quando fiz Dona Beija."


1982

Pouco tempo depois, conhece o empresário Paulo Marinho, com quem teria uma filha, Maria. "O Paulo era um garotão na época, eu uma garotona, e éramos muito diferentes, mas vivíamos felizes com nosso amor. Foi muito bom, e dessa união nasceu Maria."

Nesse ano, aceita mais um convite da Globo e vai fazer a novela Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu. O diretor Roberto Talma foi o primeiro responsável por fazê-la repensar a decisão de deixar a TV. "O Talma puxava de mim algumas coisas interessantes. Acho que ele percebeu que havia um material a ser explorado ali e me fez ter lampejos do prazer que aquele ofício poderia me oferecer, se eu conseguisse me entregar.

"Nessa novela também tive um dos grandes encontros da minha vida, com o Carlos Augusto Strazzer, que se tornou um dos meus maiores amigos."

No teatro, participa da montagem de Mentiras Alucinantes de um Casal Feliz, de João Bittencourt, com o delicioso parceiro Armando Bogus. "Demos boas e confortáveis risadas."


1983

Este foi o ano da exibição de um dos grandes sucessos da televisão brasileira, a novela Guerra dos Sexos. "Foi um êxito bárbaro, humor escancarado e inteligente, com um elenco de estrelas. O que o Sílvio de Abreu tinha ensaiado em Jogo da Vida, ele realizou com primor nessa novela."


1984

Em seguida, Maitê tem sua primeira experiência na Rede Manchete, que estava entrando em operação e prometia mexer com o mercado hegemônico de telenovelas dominado pela Globo. O sucesso inaugural foi a minissérie A Marquesa de Santos. A partir daí e da boa repercussão no mercado internacional, a Manchete decide investir em outro trabalho de época.


1985

Ainda na Globo, Maitê protagoniza Valéria, na novela Um Sonho a Mais. "Esse foi um trabalho muito tumultuado, mas teve um grande valor, o encontro e o prazer de trabalhar com o Nanini (Marco), que se tornou um querido amigo. Já havíamos trabalhado juntos em As Três Marias, e ele costumava brincar imitando a minha reação aos gritos do diretor naqueles primeiros tempos de rede Globo: dizia que eu ouvia tudo em silêncio, olhava bem nos olhos da criatura, virava, pegava a bolsa e ia embora. Não lembro disso, mas não devia pegar nada bem…"

Nesse ano, recebe o convite do diretor Walter Avancini para o remake de Selva de Pedra, mas os planos da Rede Manchete e uma personagem mais marcante fazem com que ela recuse o convite.