Após duas cirurgias e ainda usando uma bengala fora de cena, aceita fazer uma das protagonistas de As Três Marias, ao lado de Nádia Lippi e Glória Pires — duas atrizes muito mais experientes: Nádia tinha feito 17 novelas e Glória trabalhava desde os cinco anos de idade.
"Quando ingressei na Globo, era um ET. Tinha acabado de chegar da Índia; havia perdido os hábitos brasileiros, que, aliás, eu nunca tive: estudei em uma escola internacional; meus pais eram intelectuais e ateus em um país católico; aos dois anos de idade, me enfiaram numa creche para crianças miseráveis, só para que eu pudesse 'experimentar' o outro lado das coisas. Pensando bem, acho que eles queriam mesmo criar um 'ser estranho'. E eu me vestia de uma maneira esquisita para os padrões 'carioco-globais', parecia uma californiana psicodélica...
"Sabia que aquilo seria difícil para mim e pedi um salário alto, muito alto. Não tinha a menor noção do que era aquele universo. Fiz umas contas, sem nenhuma referência, e pedi um salário. Afinal teria que mudar de cidade, deixar os amigos... E ser atriz, realmente, não era um dos meus objetivos naquele momento, queria mesmo voltar para a França e estudar. Soube depois que pedi o salário de um ator de primeiríssima linha. Pagaram."
Mesmo com salário de estrela, o começo de sua carreira não foi fácil. As críticas eram pesadas e o clima mais ainda. "Achei que estava entrando no mundo das artes e encontrei um mundo da grosserias e futrica. Fiquei muito assustada. Era tanta cobrança, tanto mal-entendido, o diretor me chamando de puta pra baixo. Eu nunca tinha visto nada parecido".
"Além do mais, não fazia a menor questão de ter a minha cara estampada em todos aqueles lugares. Fui ficando muito constrangida e nada saía direito, as emoções estavam completamente trancadas e confusas. Passei a odiar meu trabalho. Eu também concordava com as críticas que me faziam.
"Resolvi sair, mas já tinha batido recordes de audiência, estava nas capas das revistas, dando lucro para a empresa. Além disso, tinha um contrato. Quando falei em sair, fui desaconselhada. Estava amarrada a um contrato, presa a um compromisso e fui ficando… Mas aquela situação era incômoda para mim e para todo o mundo daquele meio, que não tinha condescendência com a minha inadequação — para eles, parecia coisa injusta e privilegiada. Convivi com a inveja e outros sentimentos cujas repercussões me atingiam de forma nova e quase física de tão contundentes. Só fui sentir prazer na profissão anos depois, quando fiz Dona Beija."
Pouco tempo depois, conhece o empresário Paulo Marinho, com quem teria uma filha, Maria. "O Paulo era um garotão na época, eu uma garotona, e éramos muito diferentes, mas vivíamos felizes com nosso amor. Foi muito bom, e dessa união nasceu Maria."
Nesse ano, aceita mais um convite da Globo e vai fazer a novela Jogo da Vida, de Sílvio de Abreu. O diretor Roberto Talma foi o primeiro responsável por fazê-la repensar a decisão de deixar a TV. "O Talma puxava de mim algumas coisas interessantes. Acho que ele percebeu que havia um material a ser explorado ali e me fez ter lampejos do prazer que aquele ofício poderia me oferecer, se eu conseguisse me entregar.
"Nessa novela também tive um dos grandes encontros da minha vida, com o Carlos Augusto Strazzer, que se tornou um dos meus maiores amigos."
No teatro, participa da montagem de Mentiras Alucinantes de um Casal Feliz, de João Bittencourt, com o delicioso parceiro Armando Bogus. "Demos boas e confortáveis risadas."
Este foi o ano da exibição de um dos grandes sucessos da televisão brasileira, a novela Guerra dos Sexos. "Foi um êxito bárbaro, humor escancarado e inteligente, com um elenco de estrelas. O que o Sílvio de Abreu tinha ensaiado em Jogo da Vida, ele realizou com primor nessa novela."
Em seguida, Maitê tem sua primeira experiência na Rede Manchete, que estava entrando em operação e prometia mexer com o mercado hegemônico de telenovelas dominado pela Globo. O sucesso inaugural foi a minissérie A Marquesa de Santos. A partir daí e da boa repercussão no mercado internacional, a Manchete decide investir em outro trabalho de época.
Ainda na Globo, Maitê protagoniza Valéria, na novela Um Sonho a Mais. "Esse foi um trabalho muito tumultuado, mas teve um grande valor, o encontro e o prazer de trabalhar com o Nanini (Marco), que se tornou um querido amigo. Já havíamos trabalhado juntos em As Três Marias, e ele costumava brincar imitando a minha reação aos gritos do diretor naqueles primeiros tempos de rede Globo: dizia que eu ouvia tudo em silêncio, olhava bem nos olhos da criatura, virava, pegava a bolsa e ia embora. Não lembro disso, mas não devia pegar nada bem…"
Nesse ano, recebe o convite do diretor Walter Avancini para o remake de Selva de Pedra, mas os planos da Rede Manchete e uma personagem mais marcante fazem com que ela recuse o convite.