1972

Aos 12 anos, Maitê perde sua mãe e, de certa forma, também o pai, que se muda para outra cidade, distanciando-se dos filhos. Ela e o irmão vão para um pensionato luterano onde ficam por três anos. Nesse período, Maitê também mora na casa de amigos e conhecidos. "Hoje, tenho amigos daquela época - com quem dividi casas e quartos - espalhados pelo mundo todo. Eles vinham ao Brasil, ficavam dois anos e iam embora com os pais. Acho que também por isso aprendi a lidar com as coisas efêmeras, a perder as pessoas queridas, a vê-las partir a todo momento, a mudar e mudar."


1974

É nesse contexto que Maitê põe o pé na estrada. Viaja o Brasil e a América do Sul e começa uma jornada que se repetiria por toda a sua vida. "Sempre que preciso resolver alguma coisa, vou resolver longe de casa, longe da 'base' que era sempre meio perturbadora. Isso foi um processo que começou cedo e continua até hoje."

Aos 14 anos, começa a namorar um rapaz de 18; seu pai, inquietado, acha por bem mandá-la passar quatro meses em Paris… "Devo meu francês à minha puberdade. Estava naquela época da vida em que falar bem um idioma era fundamental na conquista e no entrosamento com o que interessava: os rapazes. Só que a estratégia do meu pai não deu muito certo porque namorei muito em francês e, na volta, comecei a namorar um amigo do ex-namorado, que por sinal tinha a mesma idade…"


1975

Tempos depois de chegar da Europa, cansada das restrições religiosas do pensionato luterano, Maitê resolve bater na porta de um padre:

"Olha, você não é padre? Pois é, eu estou precisando de um abrigo. Posso morar aqui? Pode — ele respondeu. Fui morar na torre da igreja e fiquei lá até que meu pai voltasse à nossa cidade, um ano depois."


1977/78

Chega o momento de se decidir por uma profissão. Confusa, presta vestibular em várias faculdades, entra, tranca matrícula e sai pelo mundo numa viagem que duraria dois anos. Passa por mais de 30 países, entre Europa, África e Ásia. Faz bicos vendendo jornal, cuidando de crianças e distribuindo folhetos nas esquinas parisienses. "Tinha um sapato — que acabou e foi substituído por outro bem maior do que o meu pé —, um vestido, duas outras roupas e um casaco; lavava tudo de noite e vestia de manhã. Vivi dois anos sem regras de comportamento, experimentando, na ausência de restrições, uma sensação plena de liberdade. Eu era um indivíduo no ápice de sua autenticidade."

Em Paris, Maitê tem sua primeira experiência com artes cênicas, mas a brincadeira dura pouco. Ela se matricula em um curso de mímica com o mestre de Marcel Marceau, Etiènne Decroux. "O trabalho era muito interessante, mas nós passávamos três dias mexendo uma falange do dedo para, em seguida, discutir a respeito. Não tive paciência, era uma menina com o mundo inteiro no horizonte para ser investigado. Larguei a mímica e me matriculei em vários cursos na Sorbonne: arquitetura do século 17, pensamento do século 20, pensamento alemão do início do século e outras matérias. Fazia viagens de fins de semana pela Europa e depois fui conhecer o oriente…"


1979

Seu pai adoece e Maitê vem ao Brasil para vê-lo; a intenção era voltar logo para a França, onde estava estudando, mas sua vida tomaria outro rumo... "Estava na Índia quando alguém que eu não conhecia pegou na minha mão e disse que meu pai estava muito doente. Eu não falava com Drops (era como eu chamava meu pai, talvez pra ver se ele adoçava um pouco o temperamento ruim de doer... ele gostava) fazia um bom tempo, porque só o que ele me havia pedido era que eu não fosse à Índia. Eu não agüentei e fui. Aí bateu aquela baita culpa: e se ele morre?… Voltei correndo."

Enquanto espera a recuperação do pai, começa a fazer teatro com o diretor Antunes Filho e a estudar roteiros para cinema no Museu da Imagem e do Som, o MIS, em São Paulo. "O Antunes foi um grande encontro na minha vida. Eu era a melhor amiga da namorada dele e costumávamos passar os finais de semana juntos. E acontecia uma coisa muito curiosa… Gostávamos, por exemplo, de jogar batalha naval, e eu ganhava muito dele. Aliás a Theo também ganhava dele. Mas ele detestava perder. A batalha naval era coisa séria. Aí quando voltávamos do curso, ele passava uma semana me 'descascando' no palco e me detonava de um jeito que ninguém entendia por quê. Eu não podia dizer o motivo e ficava sem saber se ria ou chorava, naquela saia justa esdrúxula. Mas a coisa foi ficando mais séria… A intimidade que tínhamos fora do palco se confundia com o trabalho. A gente se hostilizava bastante e eu tive que sair, apesar de adorá-lo e ele a mim — eu sei.

"Chegamos a montar Chica da Silva e Grande Sertão Veredas. Foi quando ele começou a estudar a fundo Nelson Rodrigues e deixar a estética utilizada em Macunaíma, para mergulhar no cenário urbano.
O Antunes não sabe: ele não gosta de TV, mas foi ele que me empurrou para os braços da televisão."

Nesse momento, o jornalista Mário Prata, um dos palestrantes do curso no MIS, convida-a para um teste na TV Tupi. Começava a sua carreira em televisão com a novela Dinheiro Vivo, onde fez o papel de Joaninha. "Era para ser só uma ponta de uma semana, mas acabei fazendo toda a novela." Dali para a Globo, foi um questão de poucos meses. Logo depois de assinar seu primeiro contrato com a Globo, para fazer Coração Alado, de Janete Clair (a última escrita por ela), sofre um acidente de carro que a deixa quase um ano de cama.